Livros a Oeste faz-se entre nós e as palavras
Na sua 11.ª edição, o festival assinala o centenário de quatro nomes importantes na literatura portuguesa: Mário Cesariny, Natália Correia, Urbano Tavares Rodrigues e Mário-Henrique Leiria.
O verso “Entre nós e as palavras”, de Mário Cesariny, serve de mote ao Festival Literário Livros a Oeste, que começou nesta terça-feira, dia 9, e se prolonga até sábado, dia 13, na Lourinhã.
“O público tem vindo a assumir no seu calendário o mês de Maio como o Festival Livros a Oeste. Podemos esperar uma programação que integra um conjunto de autores de renome que chegam à vila e, para além das conversas e encontros em torno dos livros e da literatura, estão próximos do público”, diz José Tomé, vereador da Cultura e da Educação do município da Lourinhã.
Alguns dos autores presentes são Bruno Paixão, Luís Osório, João Sequeira, Filipa Martins, Raquel Patriarca, Rita Ferro, Rui Cardoso Martins, Rui Zink. Os editores Manuel Alberto Valente e Maria do Rosário Pedreira, os ilustradores Pierre Pratt e Eduarda Lima, o actor Rui Neto, o guionista Henrique Dias, a contadora de histórias Ana Ventura e a cantora Aldina Duarte também preenchem uma programação de cinco dias e que se espalha por vários equipamentos e ruas da vila.
Dois momentos performativos terão lugar no sábado, “uma performance musical dedicada às famílias e a todos os transeuntes que com ela se cruzarem e, para encerrar o festival, um espectáculo da palavra, que integrará jovens da comunidade”, diz José Tomé.
A primeira está agendada para as 11h e será realizada na rua pela Associação Cultural Wetumtum (Crassh_Recycled); a segunda, A Palavra É Uma Arma, resulta de um trabalho com jovens da comunidade, sob a direcção artística de André Neves (Maze, de Dealema).
Mafalda Teixeira, chefe da divisão de Cultura e Cidadania da Câmara Municipal da Lourinhã, gostaria que houvesse mais performances durante o festival. “Penso que ganhamos em variar os formatos, promovendo a literatura num cruzamento interdisciplinar com outras expressões artísticas”, afirma. No entanto, diz-se “satisfeita com a programação, ecléctica como sempre”, e assinala que “as conversas com os autores são importantes e estão na matriz e identidade do festival”.
A aposta contínua e feliz nas escolas
O programador, João Morales, frisa as duas vertentes do Livros a Oeste: “A que se destina ao público escolar, que começa a ser trabalhada muito antes de Maio e tem audiência previamente definida, e a que se dirige ao público em geral”, convidando residentes e não residentes na Lourinhã a estar perto de autores que admiram e de outros que desconhecem.
Sobre os “desconhecidos”, assinala a presença do guionista Henrique Dias, “responsável pelos explosivos textos da hilariante série Pôr-do-Sol e que pouca gente sabe quem é”. A série, transmitida em 2021 na RTP1 e na Netflix em 2022, parodiava as telenovelas e foi um êxito. “Os guionistas são muito esquecidos. Há que dizer às pessoas que quando vêem, por exemplo, Isto É Gozar com Quem Trabalha, do Ricardo Araújo Pereira, os textos não foram escritos (só) por ele”, diz João Morales.
O jornalista considera a aposta nas actividades com as escolas fundamental para a criação de novos públicos, o que tem sido uma constante desde a origem do festival, em 2012.
A José Tomé agrada o alcance alargado à “diversidade de pessoas” da comunidade. “Chegamos às crianças e jovens, através da programação em escolas com autores e oficinas, aos seniores através de outros projectos, como a Academia Cultural Sénior ou o Clube Idade+, inclusive na apresentação de performances criadas por eles e apresentadas no festival. Também às famílias, com a programação de sábado e apresentações de livros de autores locais. Acima de tudo, é um festival de participação da comunidade.”
O vereador realça a celebração dos centenários de autores relevantes para o panorama literário português. “A um ano dos 50 anos do 25 de Abril, não poderia ser mais pertinente.” E convida o público a visitar a exposição Cem Anos de Um Insubmisso, dedicada a Urbano Tavares Rodrigues, na Galeria Municipal, inaugurada no primeiro dia do Livros a Oeste.
Também João Morales faz a ligação à efeméride da revolução, lembrando que os homenageados “foram todos combativos no tempo da outra senhora e sofreram perseguições da PIDE”. Daí considerar que esta edição “é uma antecâmara da próxima, quando se assinalarem os 50 anos do 25 de Abril”.
Região de festivais literários
Faz parte do festival um concurso de contos, mas a participação dos alunos tem sido fraca, o que não demove o autarca: “Gostaríamos de ter mais participantes, mas reconhecemos o enorme desafio que é tanto para as escolas, no envolvimento para e com os alunos, como para estimular a iniciativa de escrever e se expressar através da escrita, contudo sabemos que temos jovens que cresceram muito, ao nível literário, com este festival e com este concurso. Poder assistir a esse crescimento faz-nos acreditar que devemos continuar a apostar.”
A aposta da Câmara Municipal da Lourinhã traduz-se num orçamento de 30 mil a 35 mil euros para esta edição. José Tomé descreve: “Para quem é da Lourinhã é sempre uma atmosfera diferente que se cria no território durante o festival, para quem não é pode sempre visitar a vila e em ambiente literário.” Todos os dias se realizam sessões de contos e de poesia. No Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira, decorre uma feira do livro durante todo o encontro.
Para concluir, o vereador da Cultura e da Educação explica a importância de ter um evento desta natureza no concelho: “Mais do que ter um festival literário na região é fazer parte de uma região que se demarca por festivais literários, conjuntamente com outros territórios, como Óbidos, Torres Vedras ou Alcobaça. Essa ideia é interessante porque demonstra que a literatura não promove competitividade entre territórios, mas que estamos juntos, cada um com a sua personalidade, no reconhecimento de promover a leitura e a escrita.”
O Livros a Oeste foi nomeado para a edição deste ano dos Iberian Festival Awards.
O PÚBLICO esteve na Lourinhã a convite do festival