O dia da língua portuguesa

Celebramos hoje pela quarta vez a nossa língua, o cimento da nossa coesão, o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Nossa língua porque língua de muitos povos, o que faz deste dia um acontecimento que se estende muito para lá da data de 5 de maio, mas, acima de tudo, um acontecimento que vai muito além das nossas fronteiras como país. Cimento de coesão, sim, pois esta língua, a nossa língua, com toda a força do possessivo nossa, é símbolo, é a marca de identidade comum da enorme família da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), repartida por todos os continentes. Língua de muitos povos, língua de muitas culturas, muitas literaturas, muitos rumos, que se cruzam todos, com a sua pluralidade, numa só língua.

Foi a partir de 2020 que a comunidade internacional no seu conjunto passou a celebrar o dia 5 de maio de cada ano como o Dia Mundial da Língua Portuguesa, na sequência da aprovação pela Assembleia-Geral da UNESCO, em 2019, reconhecimento inequívoco da língua portuguesa como uma das principais e mais importantes línguas de comunicação internacional a nível global.

Hoje evocamos a dimensão universal da língua portuguesa e a riqueza das culturas que nela e por ela se exprimem e que corresponde à sua projeção cada vez mais alargada no mundo, seja como instrumento de comunicação e de trabalho, seja como um ativo económico e político, seja, o que não é de somenos, como património cultural, científico e educacional.

Assistimos, no plano geográfico e nessa nova geografia que é o plano digital, ao crescimento significativo do número de lusofalantes e de conteúdos produzidos em português. Se hoje somos já 260 milhões de pessoas a falar português, com maior preponderância no hemisfério sul, sabemos, face às estimativas da ONU, que bem maior será o potencial da língua portuguesa no futuro próximo, quando atingirmos os 400 milhões de falantes em 2050.

Este crescimento assenta, sem dúvida, no crescimento demográfico; mas resulta também de uma política estruturada ao longo dos últimos anos de promoção e difusão da língua portuguesa à escala global, e em particular no quadro da CPLP, que tem como elemento fundador a língua falada nos seus Estados-membros.

Temos consciência de que a dimensão global da língua portuguesa assenta na geografia dos países que a têm por língua oficial, um mapa que tem as fronteiras do mundo. Portugal contribui empenhadamente para a valorização e disseminação da língua portuguesa através da ação do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P.

A Rede de Ensino de Português no Estrangeiro está hoje presente em 17 países, através de 956 professores que desenvolvem a sua atividade em 1443 escolas e cerca de 73 mil alunos nos níveis pré-escolar, básico e secundário.

Ao mesmo tempo, tem-se fomentado o aumento sustentado do número de cátedras e leitorados em universidades estrangeiras. No final de 2022, existiam já 61 cátedras de Português em 22 países, mais 21 do que em 2015, apostando-se estrategicamente na promoção da língua portuguesa também como língua de ciência e do conhecimento. Durante o ano de 2023, foi criado um novo leitorado na Coreia do Sul (são 53 em todo o mundo), iremos ter uma nova cátedra no Japão, e um novo mestrado em ensino do português na Guiné-Bissau, tal como iremos formalizar a abertura de mais uma cátedra, em junho, no Reino Unido.

Cumprir uma visão de afirmação internacional da língua portuguesa é um objetivo que não se cinge ao Estado e aos organismos públicos, mas que convoca também a sociedade civil e o setor privado; é disso inequívoco sinal o importante contributo das 11 empresas portuguesas com o estatuto de Empresas Promotoras da Língua Portuguesa.

Em Portugal, o país onde tudo começou, celebramos este dia em festa: assinalamos a dimensão cultural desta língua que é de todos os que a falam, uma língua que estabelece pontes, que aproxima povos, que construiu século a século novas geografias, assinalamos, dizia, a dimensão cultural da nossa língua com a entrega solene do Prémio Camões a Paulina Chiziane, autora moçambicana, hoje reconhecida a nível internacional como uma figura maior da literatura escrita em português.

Mas celebramos este dia também um pouco por todo o mundo através das nossas missões diplomáticas e consulares que irão organizar mais de cem iniciativas, que passam por espetáculos musicais, atividades escolares, promoção das literaturas escritas em português, entre muitas outras atividades diversas, tão diversas como é a língua e as culturas que nela se plasmam.

É desta forma que no âmbito do Dia Mundial da Língua Portuguesa iremos ter mais de uma centena de atividades, em cerca de 60 países, abrangendo os cinco continentes, promovidas, em muitos dos casos, em articulação com os nossos parceiros da CPLP. Destacam-se, por exemplo, as sessões de leitura promovidas na Universidade de Nova Deli, pelo escritor José Luís Peixoto, do ciclo de cinema da CPLP promovido na Universidade Tecnológica do Panamá, ou do sarau de poesia e música, promovido pelo Centro Cultural Português em Maputo com o grupo musical TP50.

O Dia Mundial da Língua Portuguesa é, só pode ser, um dia de festa, um dia de comemoração para os mais de 260 milhões de lusofalantes que ativamente promovem essa mesma língua portuguesa, a língua de todos nós, falando-a, lendo-a, cantando-a, usando-a das formas mais criativas em todos os lugares. É assim que as línguas se celebram.

Também para si, que usa a língua portuguesa ao ler este artigo, que nela se escreve, é, nesse simples gesto, uma forma de a celebrar. Uma língua, como dizia Francisco Rodrigues Lobo, desaparecido de entre nós fez há pouco quatrocentos anos, “uma língua que tem de todas as línguas o melhor” e justificava: “é branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar, breve para resolver e acomodada às matérias mais importantes da prática e da escritura”.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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