Santos Silva falou com Zelensky sobre papel de Portugal no diálogo com hemisfério sul
O presidente da Assembleia da República sublinhou a clareza da posição de Portugal sobre a guerra na Ucrânia e disse que a conversa com o Presidente ucraniano foi “bastante útil”.
O presidente do Parlamento português reuniu-se nesta terça-feira em Kiev com o chefe de Estado ucraniano, com quem conversou sobre a adesão do país à União Europeia e o papel de Portugal na ligação aos países latino-americanos e africanos. Em declarações à Lusa, por via telefónica, a partir de Kiev, onde está entre hoje e quarta-feira em visita oficial, Augusto Santos Silva classificou a reunião com Volodymyr Zelensky como "bastante útil" e destacou o ponto "em que ficou mais claro o valor que Portugal acrescenta na gestão política e diplomática deste conflito".
"Talvez o ponto mais importante da reunião tenha tido que ver com o papel que Portugal desempenha – e pode ainda desempenhar mais – no diálogo com os países do hemisfério sul, em particular com os países latino-americanos e africanos, com os quais nós temos laços muito próximos e aos quais temos transmitido a nossa posição sobre esta guerra da Rússia contra a Ucrânia", afirmou.
O presidente da Assembleia da República salientou que "a clareza da posição portuguesa é conhecida desde o primeiro momento" de condenação à invasão da Ucrânia pela Rússia. "E são conhecidas as dúvidas que vários países latino-americanos e africanos têm exprimido, muitas vezes dizendo que esta é uma guerra da Europa e não deles. Convém manter o diálogo com estes países para lhes mostrar que também está aqui em causa a ordem internacional baseada em regras que todos defendemos", referiu.
A reunião, que decorreu cerca das 15h locais (13h em Lisboa), durou perto de uma hora, segundo Santos Silva, e prolongou-se até mais do que o previsto, tendo estado também presentes os representantes do PS, PSD, IL e BE e o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, que Santos Silva já conhecia, uma vez que exerceu essas funções entre 2015 e 2022.
No encontro, foi abordado o processo de candidatura da Ucrânia à União Europeia — que já tem o estatuto de país candidato —, tendo Santos Silva cumprimentado Zelensky pela forma como o país tem feito "a sua parte com muita determinação", e outro dos pontos presentes na conversa foram as perspectivas de cooperação entre a Ucrânia e a NATO.
"A maioria dos países da Aliança Atlântica e da União Europeia, Portugal incluído, têm apoiado bilateralmente a Ucrânia, e o país tem a perspectiva de considerar que o seu lugar é no Ocidente, é na Europa, e isso significa, para além de pertencer à União Europeia, ter uma certa perspectiva em relação à NATO. Evidentemente, o foco neste momento é a guerra que temos de parar com a condição que é necessária: a cessação das hostilidades por parte da Rússia e a retirada do território ucraniano ocupado", considerou.
Finalmente, o Presidente ucraniano agradeceu "muito enfaticamente" o apoio que Portugal tem prestado ao país e deu conta das necessidades mais prementes em matéria de equipamentos militares, de que Santos Silva tomou "boa nota para transmitir ao Governo".
Na quarta-feira, o presidente da Assembleia da República irá fazer uma intervenção na sessão plenária do Parlamento da Ucrânia. "Intervirei com todo o gosto e toda a honra", salientou, acrescentando que terá depois um encontro e um almoço de trabalho com o primeiro-ministro do país, Denys Shmygal.
Ao início da tarde de quarta-feira, Santos Silva vai encontrar-se com estudantes de Português no Departamento de Filologia da Universidade de Kiev.
"É uma maneira de comemorar o Dia Mundial da Língua Portuguesa que se celebra na próxima sexta-feira. É especialmente simbólico que uma das iniciativas seja um encontro com estudantes de português na Ucrânia", destacou, salientando que o português é "uma língua de paz e de comunicação".
Santos Silva está acompanhado nesta visita por uma delegação parlamentar composta pelo deputado e líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, Jorge Paulo de Oliveira (PSD), João Cotrim de Figueiredo (IL) e Isabel Pires (BE), sem representantes das bancadas do Chega ou do PCP.
Na semana passada, o presidente da Assembleia da República anunciou que excluiu o Chega, o terceiro maior partido, das delegações das visitas a parlamentos estrangeiros, após o incidente na sessão de boas-vindas a Lula da Silva, no dia 25 de Abril.
Questionado pela Lusa, o gabinete de Santos Silva justificou a presença das quatro bancadas parlamentares por se ter combinado uma regra de rotatividade nestas deslocações, com um máximo de quatro deputados, e também como um sinal do apoio da Assembleia da República à Ucrânia.