Novos confrontos no Sudão enfraquecem cessar-fogo

Os dois lados acusam-se mutuamente de terem violado uma trégua temporária. Ainda assim, Nações Unidas vêem sinais de aproximação.

Foto
Imagens de destruição na capital do Sudão, Cartum Reuters/VIDEO OBTAINED BY REUTERS

As forças em confronto no Sudão acusaram-se mutuamente de serem as responsáveis por uma nova violação de um cessar-fogo, neste domingo, à entrada para a terceira semana de um conflito que ameaça resvalar para uma guerra civil catastrófica.

Mais de 500 pessoas foram mortas e quase 5000 ficaram feridas desde meados de Abril, quando a luta de poder entre os líderes do Exército do Sudão e das Forças de Apoio Rápido — um grupo paramilitar — deu origem a combates em várias regiões do país.

Segundo as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), um cessar-fogo que expirava à meia-noite deste domingo vai ser prolongado por mais 72 horas, "em resposta a apelos internacionais, regionais e locais".

A situação na capital, Cartum, onde o Exército combate as RSF em zonas residenciais, estava relativamente calma na manhã de domingo, segundo o relato de um jornalista da agência Reuters. A acalmia seguiu-se a uma noite de sábado com combates no centro da cidade.

"Não há negociações directas, há apenas sinais de preparação para o início de conversações", disse o representante especial das Nações Unidas no Sudão, Volker Perthes.

O responsável disse também que aguarda com ansiedade a realização de um encontro entre os dois líderes militares, que poderá desbloquear um acordo de cessar-fogo consistente e com um mecanismo de controlo.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha já distribuiu oito toneladas de ajuda médica, depois de as Nações Unidas terem dito que apenas 16% dos hospitais e centros de saúde do Sudão estão operacionais.

A situação é particularmente alarmante num país onde cerca de 15 milhões de pessoas — um terço da população — já precisavam de ajuda humanitária urgente antes do início dos combates.

Os confrontos puseram fim a um esforço apoiado internacionalmente para que o país adoptasse um regime político civil e um Governo democrático, na sequência da queda do autocrata Omar Hassan al-Bashir, em 2019.

"Esta guerra não vai dar origem a um Exército único nem a uma transição para a democracia, e nada garante que o antigo regime não regresse ao poder mais uma vez", alertou Khalid Omer Yousif, um antigo ministro e crítico da liderança militar no país.