Em almoço com empresários e as suas gravatas, Montenegro apelou à imigração

Imigração não só de “imigrantes isolados” — que sugeriu serem “remendos” no combate à crise demográfica — mas de “famílias inteiras”: o ponto é combater o “ciclo de definhamento demográfico”, disse.

Foto
Líder do PSD falou no Fórum para Competitividade LUSA/RODRIGO ANTUNES

Luís Montenegro, líder do PSD, almoçou esta quinta-feira com empresários no âmbito do Fórum para Competitividade. Encheu, assim, uma pequena sala do Centro de Congressos de Lisboa, onde cerca de 50 pessoas escutaram a intervenção do líder do PSD. Entre elas, Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação de Agricultores de Portugal, e Paulo Carmona, candidato pela IL a Sintra em 2021 e presidente da Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis. Do grupo constavam apenas meia dúzia de mulheres.

Montenegro apostou num discurso social-democrata e, perante os empresários e as suas gravatas, destacou a importância dos imigrantes para alavancar a economia portuguesa. “Temos de ter política de atracção e acolhimento de imigrantes. Todos os sectores de actividade têm falta de mão-de-obra. (…) Temos de pagar bons salários e de dar qualidade de vida”. Imigração, sim, continuou Montenegro, mas “regulada” — “para dar dignidade a quem vem para cá”, justificou.

Imigração não só de “imigrantes isolados” — que sugeriu serem “remendos” no combate à crise demográfica — mas de “famílias inteiras”: o ponto é combater o “ciclo de definhamento demográfico”. “Sem pessoas não há capacidade produtiva, capacidade de sermos competitivos e de ombrearmos com os nossos concorrentes. Para se ganhar a quota do mercado é preciso fazer melhor, arriscar”, disse ainda.

Em Fevereiro passado, Montenegro divergiu publicamente de Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, quando este, em entrevista ao PÚBLICO, defendeu que Portugal só devia receber imigrantes se estes já tivessem "contrato de trabalho". "Eu não concordo a 100% com essa visão [de Carlos Moedas]. Sou muito claro sobre isso: concordo que tem que haver regulação, mas nós temos que ser mais ousados", disse então o líder do PSD. Já no mês anterior, tinha apresentado um programa de atracção e integração de imigrantes. Montenegro tem, assim, procurado uma demarcação do Chega no que toca à imigração, acantonando o partido de extrema-direita.

A carga fiscal e a burocracia

Mantendo o fato de social-democrata, Montenegro descreveu ainda o que, no seu entender, é uma empresa: “Para mim uma empresa não é uma coutada do empresário, nem propriedade daquele que detém o capital. É, com certeza, capital, mas é aquilo que é capaz de fazer, o know how [saber fazer], a clientela, os trabalhadores e a envolvência social e territorial que é capaz de gerar”, descreveu.

Actuou também enquanto líder da oposição, deixando críticas às políticas seguidas pelo Governo: entre elas, o já por si muitas vezes mencionado “recorde de carga fiscal”. No seu entender, é necessário um “alívio da carga fiscal” para que as famílias “tenham mais poder de compra”. “Nove mil milhões de euros foi o que o Estado cobrou a mais em 2022 face a 2021. É um recorde da carga fiscal. (…) A margem não deve ser esgotada com as benesses que o Governo distribui: devemos aproveitá-la para criar mais riqueza. Um país só é justo se criar riqueza”, afirmou, enquanto vestia o fato de social-liberal.

Com ele já vestido, notou que quem “cria riqueza não é o Estado”, mas sim as “empresas”. O Estado deve, sim, “criar condições” e “deixar as empresas respirar”. Observou, depois, as dificuldades burocráticas que os agricultores enfrentam, notando ter ficado “banzado” quando disso se apercebeu.

Ainda, considerou que o aumento das pensões recentemente anunciado pelo Governo tratou-se do "tiro de partida para a campanha eleitoral", acusando o Governo de procurar captar "simpatia de segmentos específicos".

"À sombra da bananeira"

Das questões burocráticas e da fiscalidade alegadamente agressiva passou para a Europa, notando com pena que um conjunto de países tenha ultrapassado Portugal em termos de crescimento económico.

“Portugal não pode dormir à sombra da bananeira: entramos na União Europeia em 1986, há muitos países que entraram 20 anos depois de nós e que estão a crescer muito mais do que nós”, começou por dizer. “O desígnio de Portugal não pode ser o de ser elegível para financiamentos. Se o país não criar políticas públicas com este intuito permaneceremos nesta condição. [Quando os apoios europeus acabarem] vamos ficar de mãos atadas e na esfera de dependência e completa exposição daquilo que é a realidade que nos circunda”, concluiu.

Já no início do discurso, o líder do PSD havia condenado a forma como Portugal estava a aplicar os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), notando-a errática face à de outros países europeus.

Afirmou que o PRR, que deveria “criar riqueza”, estava antes a ser gasto para recuperar o “desinvestimento público não realizado nos últimos sete anos”. “Em todos os países da Europa estes fundos estão a ser utilizados para revitalizar a actividade económica. Só em Portugal é que são quase exclusivamente alocados ao investimento público. Porquê?”, questionou. “Porque é a substituição dos orçamentos não executados nos últimos sete anos”, respondeu.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários