PS acusa Montenegro de seguir extrema-direita na visita de Lula da Silva

Pedro Marques, membro do secretariado nacional do PS, aponta que Montenegro, ao contrário da sua bancada parlamentar, se recusou a apoiar o presidente da Assembleia quando este repreendeu o Chega.

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O PS contra-ataca o PSD e também a IL, acusando-os de seguirem o Chega LUSA/ANDRÉ KOSTERS

O PS acusou esta quinta-feira o PSD de seguir a mesma posição da extrema-direita face à visita do Presidente brasileiro, reagindo a declarações de Montenegro de que os socialistas querem "ancorar-se na extrema-direita" como já fizeram "com a extrema-esquerda".

O líder do PSD, "Luís Montenegro, seguiu claramente a extrema-direita no contexto desta visita de um chefe de Estado estrangeiro [o brasileiro Lula da Silva]", afirmou o membro do secretariado nacional do PS Pedro Marques.

Admitindo ter recebido as acusações do líder social-democrata "com frustração", já que "Luís Montenegro continua a dizer que é uma alternativa para a governação do país mas não apresenta propostas nenhumas", o socialista criticou a postura do dirigente do PSD face ao Presidente brasileiro.

"Luís Montenegro, até ao contrário da sua própria bancada parlamentar, recusa-se a apoiar o Presidente da Assembleia da República quando ele repreende a extrema-direita, o Chega, relativamente ao desrespeito das nossas instituições democráticas e ao desrespeito a um chefe de Estado convidado oficialmente pelo Presidente da República para estar em Portugal", acusou.

Além disso, acrescentou Pedro Marques, o líder do PSD "não apoia o presidente da Assembleia da República, falta ao jantar oficial que foi oferecido pelo Presidente da República a este chefe de Estado estrangeiro e, portanto, continua a ambiguidade em relação à extrema-direita". Referindo que é assim que vê a liderança do PSD, Pedro Marques assegurou que o cenário lhe causa "muita preocupação".

Na quarta-feira, o líder do PSD tinha criticado o discurso do 25 de Abril do presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva, e acusado o PS de querer "ancorar-se na extrema-direita", como fez no passado "com a extrema-esquerda".

Na intervenção de abertura do Conselho Nacional do PSD, Luís Montenegro acusou o PS de ser o único partido em Portugal "com condições de ser Governo" que "anda de braço dado com extremismos", quer de esquerda, quer de direita, conforme "dá jeito", e garantindo que o PSD nunca governará nem com um nem com outro.

"Ontem [na terça-feira, 25 de Abril], o Presidente da Assembleia da República, num discurso muito curioso, porque foi monotemático, falou do tempo da política: deixem-nos estar aqui que nós estamos agarrados ao poder até 2026 e que é preciso respeitar a vontade do povo", criticou.

Montenegro, que assistiu na primeira fila aos discursos da sessão solene do 25 de Abril, disse que "nem queria acreditar" no que ouviu de Santos Silva, recordando o que se passou em 2015.

"Como é possível que as pessoas que perderam eleições em 2015, que não tinham a vontade do povo para governar e se foram juntar à extrema-esquerda (...) como é possível que esta gente diga que respeita a vontade popular e queira atirar pedras para cima da casa do PSD", afirmou, acusando o presidente do parlamento de nunca ter "despido a camisola de militante do PS".

O líder do PSD acusou o PS de, "agora que a extrema-esquerda já não está à mão de semear", "se querer ancorar na extrema-direita".

IL a competir com o Chega?

Esta quinta-feira, o PS acusou também a IL de competir "com a extrema-direita parlamentar na mentira e nos métodos desonestos" ao atribuir responsabilidades aos socialistas pela organização da sessão solene de boas-vindas a Lula da Silva.

Esta posição foi assumida pelo vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Porfírio Silva, em reacção a uma mensagem publicada na rede social Twitter pela Iniciativa Liberal (IL), no dia 25 de Abril, em que o partido afirmava que a ida de Lula ao Parlamento no dia da Revolução dos Cravos e o incidente com o Chega, se tratou "de uma enorme vergonha criada pelo PS para propositadamente alimentar" o partido liderado por André Ventura. "Uma traição ao 25 de Abril e à liberdade. Ignóbil", lia-se nessa mensagem.

Em declarações à Lusa, Porfírio Silva acusou a IL de competir "com a extrema-direita parlamentar na mentira e nos métodos desonestos", apesar de reconhecer, "com gosto, que a IL não imita o Chega nas propostas políticas".

O deputado do PS defendeu que a IL "sabe perfeitamente" que a presença de Lula da Silva na Assembleia da República no dia 25 de Abril resultou de um convite feito por Marcelo Rebelo de Sousa, "que não podia ter feito, porque não compete ao Presidente da República determinar a agenda" do Parlamento.

Perante esse convite, Porfírio Silva frisou que o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, "tentou arranjar uma solução" para que o discurso do Presidente do Brasil não decorresse na sessão solene do 25 de Abril, "porque havia partidos que entendiam que isso não devia ser assim", apesar de procurar manter o compromisso que Marcelo tinha assumido com Lula.

"O presidente da Assembleia da República arranjou uma maneira de resolver de forma digna para o país, para Portugal, um problema que não tinha sido criado por nós", disse.

Porfírio Silva acusou assim a IL de vir "atribuir desonestamente responsabilidades ao PS por uma circunstância [com] que não teve nada a ver" e de ignorar que a solução encontrada foi feita para "tentar preservar a dignidade do Estado português". "Como é que ficaria o país se nós fôssemos obrigar o Presidente da República a retirar o convite que tinha feito ao Presidente da República Federativa do Brasil?", questionou.

O deputado do PS disse assim "discordar que a direita, que tem obrigação de ser direita democrática, se deixe embarcar nos métodos absolutamente antidemocráticos e desonestos da extrema-direita parlamentar". "Realmente assim, confundindo tudo, a IL está a prestar um péssimo serviço à democracia e está a levar o PSD atrás na mesma onda", acusou.

Na sessão de boas-vindas ao Presidente do Brasil, na passada terça-feira, os deputados do Chega levantaram-se no início do discurso de Lula da Silva e empunharam três tipos de cartazes, nos quais se lia "Chega de corrupção", "Lugar de ladrão é na prisão" e outros com as cores das bandeiras ucranianas.

O Presidente do Brasil continuou o seu discurso durante mais alguns minutos, mas mal houve uma pausa, as bancadas à esquerda e do PSD aplaudiram entusiasticamente, enquanto os deputados do Chega batiam na mesa, em jeito de pateada, o que levou Augusto Santos Silva a intervir.

"Os deputados que querem permanecer na sala têm de se comportar com urbanidade, cortesia e a educação exigida a qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal", afirmou Santos Silva, visivelmente irritado.