Mais do que casas: estudantes de 25 faculdades procuram soluções para desafios da habitação

A iniciativa é da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Ao longo de dois anos, estudantes de Arquitectura, Belas Artes e Arquitectura Paisagística vão procurar soluções para a habitação.

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Vão debater-se temas como, por exemplo, o acesso à habitação e migrações Nelson Garrido

A Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) lança na sexta-feira o programa "Mais do que Casas" que, nos próximos dois anos, vai unir estudantes de 25 instituições em torno dos desafios que enfrenta a habitação em Portugal.

O programa "Mais do que Casas" arranca este mês e, ao longo dos próximos dois anos, pretende envolver os estudantes e docentes de 25 escolas de Arquitectura, Belas Artes e Arquitectura Paisagista na procura de soluções para os desafios que a habitação enfrenta.

"O tema da habitação está na ordem do dia e reflecte, sob o ponto de vista da oferta de habitação pública, uma crise de enorme gravidade. Só temos 2% de oferta pública de habitação e, entretanto, temos um fluxo bastante grande de nova população e, de facto, não temos uma resposta acessível e inclusiva para poder abrigar essas pessoas em espaços condignos e fazer uma cidade habitável de forma harmoniosa por todos", afirmou esta quinta-feira o director da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP).

Em declarações à agência Lusa, João Pedro Xavier destacou que, à falta de respostas acessíveis e inclusivas, "abate-se a ameaça da emergência climática e ambiental", para a qual as habitações têm de estar preparadas.

O programa pretende, por isso, encontrar soluções para os desafios que se colocam à habitação, seja através de seminários, mostras, publicações e oficinas, por forma a "instigar, informar e comunicar" os trabalhos e projectos desenvolvidos pelos estudantes, em conjunto com os professores.

O lançamento do programa decorre na sexta-feira com o Seminário #01 que, entre as 10h e 19h30, vai reunir no Auditório Fernando Távora da FAUP vários arquitectos que vão promover o debate em torno de temas, como por exemplo, o acesso à habitação e migrações. O encerramento da sessão estará a cargo da secretária de Estado da Habitação, Maria Fernanda Rodrigues. A par deste seminário, está previsto, em Setembro, um outro seminário, de cariz internacional, para dar a conhecer "boas práticas".

No âmbito do programa está prevista a realização de uma exposição (onde serão apresentados trabalhos dos estudantes das diferentes escolas), e de uma oficina, na qual cerca de 90 estudantes vão propor intervenções para três conjuntos habitacionais: Bairro da Malagueira (Évora), Casal da Figueira (Setúbal) e um bloco habitacional em Vila Nova de Famalicão.

"Isto é uma espécie de epílogo, mas, na verdade, o que se espera é que seja uma nova partida e não faça esmorecer esta necessidade de estarmos atentos à sociedade que nos rodeia", observou o director da FAUP.

Segundo João Pedro Xavier, o nome do programa — "Mais do que Casas" — remete, sobretudo, para "outras formas de habitar o território" e o "ir além da casa", nomeadamente, para o espaço público. "Mais do que Casas porque é isso que devemos ensinar ou ensinar a aprender nas nossas escolas", salientou o director, defendendo um maior envolvimento das instituições e dos estudantes na procura de soluções, à semelhança do que aconteceu depois do 25 de Abril de 1974, com o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL). À época, destacou João Pedro Xavier, a "escola do Porto envolveu-se fortemente em propostas concretas de projecto que depois tiveram concretização em obra e tiveram uma grande repercussão internacional".

"Renova-se a necessidade das escolas de arquitectura, belas-artes e arquitectura paisagista estarem envolvidas e atentas. Os nossos estudantes têm de estar preparados para poderem dar respostas a uma situação tão complexa e desafiante como é a que enfrentamos", observou.

O programa "Mais do que Casas", que tem curadoria dos arquitectos Teresa Novais e Luís Tavares Pereira, pretende também assinalar o 50.º aniversário do 25 de Abril, perspectivando um "possível contributo para o futuro".