Papa abre sínodo dos bispos à votação de leigos, incluindo mulheres

Cerca de 40 mulheres poderão participar e votar na próxima reunião magna dos bispos, que se realiza em Outubro. Participação de leigos e sacerdotes também vai ser alargada.

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Papa Francisco já tinha dito que abriria o sínodo a não-bispos RICCARDO ANTIMIANI/EPA

O próximo sínodo dos bispos da Igreja Católica realiza-se em Outubro deste ano em Roma, mas não estará restringido a bispos. Padres, religiosos e leigos, tanto homens como mulheres, terão lugar à mesa – e, pela primeira vez, direito de voto.

As mudanças ao funcionamento do sínodo foram aprovadas pelo Papa Francisco e divulgadas nesta quarta-feira pelos cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich, dois altos responsáveis pela organização do próximo encontro máximo dos bispos.

De acordo com as novas regras, no sínodo vão participar 70 pessoas não-bispos, escolhidas pelo Papa a partir de listas fornecidas pelas conferências episcopais. Neste elenco devem constar os nomes de sacerdotes, religiosos e religiosas, mas também de leigos – de ambos os sexos – a quem o Vaticano concede pela primeira vez a possibilidade de voto. Na carta que dirigiu às assembleias regionais de bispos nesta quarta-feira, Francisco pede que pelo menos 50% dos nomeados sejam mulheres e que se dê especial ênfase aos jovens.

Além disso, também a participação dos representantes de ordens religiosas sofrerá alterações: até agora entravam no sínodo dez homens, apenas na condição de observadores – passarão a ser cinco homens e cinco mulheres, também com direito de voto.

“Não é uma revolução, mas uma mudança importante”, afirmou o cardeal Hollerich numa conferência de imprensa em que procurou sublinhar que as novidades agora introduzidas afectam a composição do sínodo em cerca de 21%, o que “confirma” a “natureza episcopal” da reunião. Dos 370 participantes do sínodo de Outubro, aproximadamente 40 serão mulheres.

A participação de não-bispos nos sínodos já estava contemplada numa constituição apostólica de 2018, Episcopalis Communio, e no sínodo de 2019 sobre a Amazónia participaram também sacerdotes e monges de ordens religiosas, que tinham direito de voto. Uma delegação de dez freiras assistiu aos trabalhos, mas não pôde votar.

“No Sínodo da Amazónia perguntou-se ‘Porque não podem votar as mulheres? São cristãs de segunda?’”, comentou o Papa em Março numa entrevista ao jornal argentino La Nación. E acrescentou: “Todos os que participem no sínodo poderão votar. Seja homem ou mulher. Todos, todos. Esta palavra ‘todos’, para mim, é chave.”

Kate McElwee, directora executiva de uma organização que pugna pela ordenação de mulheres, disse à Associated Press que as decisões desta quarta-feira são “uma fenda significativa na redoma de vidro” do Vaticano.

Ao longo dos seus dez anos de pontificado, o Papa Francisco tem tentado alterar a arquitectura burocrática da Igreja para a abrir aos fiéis e não apenas a sacerdotes, bispos e cardeais. Um dos pontos-chave dessa estratégia é a promoção da “sinodalidade”, que corresponde a uma vontade de “caminhar em conjunto” e “descentralizar” a Igreja. É esse o tema central do próximo sínodo, que se divide em duas partes. A primeira delas decorre entre 4 e 29 de Outubro.

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