Combates prosseguem no Sudão apesar de trégua de 24 horas
Cessar-fogo a pedido dos Estados Unidos foi rapidamente violado por ambas as partes. Combates no país entre facções rivais já fizeram pelo menos 185 mortos.
Um cessar-fogo de 24 horas no Sudão, que entrou em vigor na tarde desta terça-feira, foi rapidamente violado pelas duas facções em combate no país.
Minutos depois da hora de início do cessar-fogo – às 18h locais (17h em Portugal continental) –, as transmissões em directo das televisões continuavam ocupadas com o som de tiros e imagens de aviões a sobrevoar a capital sudanesa, Cartum.
O conflito entre o líder militar do Sudão e o seu n.º 2 começou no sábado, pondo fim a um plano internacional para uma transição democrática no país, quatro anos depois da queda do autocrata islamista Omar al-Bashir e dois anos após um golpe militar.
Segundo as Nações Unidas, os combates provocaram uma catástrofe humanitária no país, causando o colapso do frágil sistema de saúde. Pelo menos 185 pessoas foram mortas desde o início da violência e mais de 1800 ficaram feridas.
De visita ao Japão, nesta terça-feira, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que falou ao telefone com o líder do Exército sudanês, o general Abdel Fattah al-Burhan, e com o líder das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), o general Mohamed Hamdan Dagalo.
Durante as conversas, Blinken diz ter apelado a um cessar-fogo entre as duas partes, “para permitir que os sudaneses possam juntar-se às suas famílias e receber assistência”.
Mesmo que não haja mais violações do cessar-fogo nas próximas horas, um outro general do Exército sudanês, Shams Al-Din Kabashi, disse ao canal de televisão Al-Arabiya que a paragem nos combates não irá além das 24 horas acordadas.
O general Burhan lidera um conselho que assumiu o poder na sequência da queda de Bashir e do golpe militar de 2021, enquanto Dagalo – conhecido como Hemetti – é o seu adjunto na mesma liderança.
A luta de poder entre ambos pôs em suspenso o plano de transição para uma liderança civil após décadas de autocracia e domínio militar no Sudão, um país situado numa região estratégica entre o Egipto, a Arábia Saudita, a Etiópia e a região do Sahel.
Se não for controlado a tempo, o conflito no Sudão pode alastrar-se para fora do país e atrair forças estrangeiras que apoiam as diferentes facções, podendo mesmo ser palco de uma luta de influência entre a Rússia e os Estados Unidos.
Na noite de segunda-feira, uma caravana com pessoal diplomático dos EUA foi atacada no Sudão, num ataque atribuído a combatentes das RSF.
Horas antes, o embaixador da União Europeia em Cartum, o irlandês Aidan O'Hara, tinha sido agredido na sua residência na capital sudanesa.
Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Irlanda, Micheál Martin, o embaixador O'Hara "não ficou gravemente ferido" no ataque, que o mesmo responsável classificou como "uma violação grosseira das obrigações internacionais de protecção dos diplomatas".
Numa reacção ao ataque contra uma caravana diplomática dos EUA, o secretário de Estado norte-americano falou em separado com o líder das RSF e com o líder do Exército do Sudão, para lhes dizer que qualquer ataque contra diplomatas dos EUA é "inaceitável".