EUA dizem que declarações de Lula sobre a Ucrânia são “profundamente problemáticas”
Porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca acusa o Governo brasileiro de “repetir a propaganda” do Kremlin.
- Em directo. Siga os últimos desenvolvimentos sobre a guerra na Ucrânia
- Guia visual: mapas, vídeos e imagens que explicam a guerra
- Especial: Guerra na Ucrânia
Os EUA criticaram pela primeira vez publicamente a posição assumida pelo Presidente brasileiro, Lula da Silva, em relação à guerra na Ucrânia, considerando “profundamente problemáticas” as suas declarações mais recentes.
A recusa do Brasil em condenar abertamente a invasão russa da Ucrânia está a aprofundar o distanciamento entre Brasília e Washington. Na segunda-feira, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, estava a ser recebido na capital brasileira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, emitia as primeiras críticas públicas ao posicionamento brasileiro.
"É profundamente problemática [a forma] como o Brasil abordou essa questão (…), sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que partilhamos a responsabilidade pela guerra", afirmou Kirby, durante uma conferência de imprensa.
O responsável disse ainda que “o Brasil está a repetir a propaganda russa sem olhar para os factos” e considerou “equivocada” a sugestão feita recentemente por Lula de que a Ucrânia poderia ceder a Crimeia, anexada ilegalmente pela Rússia em 2014, para pôr fim ao conflito.
Os reparos apontados pela Casa Branca coincidiram com a recepção de Lavrov em Brasília, onde esteve reunido com o homólogo brasileiro, Mauro Vieira, e com Lula. A visita de Lavrov ao Brasil é vista como um importante trunfo diplomático para o Kremlin que tem tentado afastar a ideia de que a invasão da Ucrânia isolou a Rússia a nível internacional. Depois do Brasil, o chefe da diplomacia russa visita a Venezuela, Nicarágua e Cuba.
Confrontado com as declarações de Kirby, Mauro Vieira disse não as ter ouvido, mas disse não concordar com a avaliação de que a posição que tem sido defendida pelo Brasil seja “problemática”. “O Brasil quer promover a paz, está pronto para se unir a um grupo de países que estejam dispostos a conversar sobre a paz", declarou o ministro.
Nos últimos dias, Lula tem defendido a ideia de que há uma responsabilidade partilhada entre a Rússia e a Ucrânia pela guerra que está a decorrer na Europa e criticou o fornecimento de armamento a Kiev pelos EUA e pela União Europeia, acusando-os de “incentivar” o conflito. Apesar das declarações do Presidente, o Brasil tem votado a favor de resoluções na Assembleia Geral das Nações Unidas que condenam a invasão.
Na semana passada, em visita à China, Lula também aumentou o tom das críticas dirigidas aos EUA, emulando aquela que tem sido a visão do regime chinês que não tem escondido o desejo de desafiar a hegemonia de Washington no sistema internacional.