José Abraão: “Agora, o diálogo está melhor” do que na “geringonça”

José Abraão, dirigente do PS, compara a recorrente conversa sobre dissolução à história do Pedro e o lobo.

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José Abraão é secretário-geral da FESAP Rui Gaudencio

Numa análise mais política, José Abraão admite que a maioria absoluta trouxe benefícios à negociação: "Os resultados são mais visíveis".

Estes casos em que o Governo e o PS também se têm visto envolvidos têm tido consequências nas negociações com os sindicatos?
Eu, particularmente, nunca fui muito adepto da "geringonça". Não fui porque muitas vezes me lamentei que havia falta de negociação colectiva e falta de respeito pelos sindicatos. Alguns partidos da "geringonça" estavam muito preocupado com os 10 euros de aumento das pensões, mas também nunca os ouvi, de uma forma muito deliberada e aberta, falar sobre os aumentos na Administração Pública (AP), a não ser pontualmente. Neste quadro, sempre defendi, quer internamente, quer externamente, que haveríamos de ter um Governo que pudesse imprimir a sua matriz, o seu programa, e chegar àquele momento em que não tem desculpa para dizer que não faz.

Uma maioria absoluta!
Um governo. A maioria é o caso de hoje, mas... [referia-me a] um governo mais preocupado com aquilo que é a sua matriz, o seu programa, em detrimento de procurar empurrar alguns temas para o Parlamento, onde fomos algumas vezes. O Parlamento é bom porque é a casa do povo, a casa dos cidadãos, e podem discutir-se lá muitas coisas, mas não se pode prejudicar a negociação colectiva.

Então está melhor agora?
Está melhor o diálogo. Está melhor a negociação. Os resultados são mais visíveis. Queremos que eles continuem e que, no essencial, o Governo seja capaz de interpretar as expectativas dos trabalhadores da AP no capítulo da motivação, dos salários, das carreiras, porque há hoje um ambiente de desconfiança que é preciso reduzir ao máximo no contexto da AP, para que as coisas possam estabilizar. E eu acho que o que se tem feito até agora ao aceitar o acordo plurianual é abrir aqui algumas portas.

É dirigente nacional do PS. Vê com preocupação as polémicas que têm envolvido o seu partido e o Governo?
Eu sou dirigente do PS há muitos anos e orgulho-me desse papel que tenho vindo a desempenhar, mas antes de mais sou trabalhador da AP e sou dirigente sindical e tenho de dar voz, independentemente dos governos que lá possam estar, àqueles que representamos. E é isso que tenho procurado fazer e hei-de continuar a fazer, assumindo até alguma voz incómoda.

Mas há aqui um problema que eu acho que é complicado: depois de o Governo ter cometido alguns erros, ao fim de sete anos de governação, nalguns casos até com algum cansaço, acho que toda a gente despertou, e ainda bem, para um escrutínio que é cada vez maior, e onde tudo serve para se procurar arranjar argumentos para dizer que, afinal de contas, o rei vai nu.

Portanto, é altura de o Governo assumir as suas responsabilidades, criar uma equipa consistente para transmitir confiança aos cidadãos, porque neste momento de dificuldade não podemos ter nenhum tipo de perturbação que leve a uma paragem do país para depois, daqui a algum tempo, voltarmos a estar na mesma.

Está receoso que o actual executivo não vá até ao fim da legislatura ou que a coisa seja interrompida?
Deixe-me que lhe diga com franqueza: quando assinamos com o primeiro-ministro um acordo plurianual até 2026 é porque acreditamos que até 2026 vamos ter um governo que vai cumprir com a Fesap/UGT um acordo que valoriza o trabalho, valoriza os trabalhadores da AP, valoriza o sector empresarial público.

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Eu não quero sinceramente acreditar que isso passe de uma situação de alguma governabilidade, mesmo com esta instabilidade que vai aparecendo aqui e acolá, para qualquer coisa de desconhecido que depois nos possa comprometer no que diz respeito àquilo que todos nós desejamos, que é sair desta crise o mais rápido possível.

O que acha desta conversa recorrente sobre a dissolução e de termos o Presidente a dizer que não abdica do seu poder de dissolver o Parlamento? Promove a instabilidade?
Também. Sabe que muitas vezes é a velha história do pastor: “Vem o lobo! Vem o lobo!” Mas se a gente tiver alguma resistência ao lobo e passar a exigir a todos que procurem afastá-lo o mais possível, certamente o lobo há-de ficar distante e não vem e a gente vai ficar mais tranquila.

Eu percebo que o lobo é a dissolução – e quem é o pastor?
Não faço a mínima ideia.

É a oposição? É o Presidente?
Não sei se é o Presidente, se será o próprio Governo ou a oposição.

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