Explosão mata blogger pró-russo em café de São Petersburgo. Pelo menos 30 feridos

Vladlen Tatarsky foi convidado para falar sobre a sua cobertura da guerra no Street Bar Cafe. O café onde ocorreu a explosão já pertenceu ao fundador do grupo Wagner.

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Vladlen Tatarsky partilhava vídeos e textos a favor da guerra na Ucrânia dr

Uma explosão num café em São Petersburgo durante a tarde de domingo vitimou o popular comentador e blogger pró-russo Vladlen Tatarsky que cobria a guerra na Ucrânia no seu canal do Telegram. Segundo as autoridades, Tatarsky tinha sido convidado para falar no Street Bar Cafe a propósito da guerra quando um dispositivo explosivo foi detonado.

"Como resultado do incidente, uma pessoa morreu. Tratava-se do correspondente de guerra Vladlen Tatarsky", confirmou o Ministério do Interior, citado pela agência de notícias russa RIA Novosti.

Cerca de 30 pessoas ficaram feridas na sequência da explosão, informou o Ministério da Saúde do país.

Ainda não há informações oficiais sobre a causa do incidente. Segundo avança a RIA Novosti, a explosão ocorreu devido a uma caixa trazida para o interior do café que continha uma estátua que foi dada de presente a Tatarsky. A estatueta teria sido analisada antes de ser entregue ao comentador online.

Meios de comunicação social russos e bloggers militares avançaram que Tatarsky estava reunido com um grupo de pessoas, quando recebeu uma caixa, entregue por uma mulher, com um busto e que acabou por explodir.

Num vídeo, a testemunha Alisa Smotrova disse que uma mulher, que se identificou como Nastya, fez perguntas e trocou impressões com Tatarsky durante a discussão.

Nastya disse ter feito um busto do blogger, mas suspeitando que este pudesse ser uma bomba, os guardas pediram que fosse deixado à porta. Nastya e Tatarsky riram-se. A mulher foi então buscar o busto e ofereceu-o a Tatarsky, que o terá colocado numa mesa próxima.

Smotrova descreveu pessoas a correr em pânico, algumas delas feridas e cobertas de sangue.

A agência de notícias russa Interfax informou, por sua vez, que uma mulher de São Petersburgo, Darya Tryopova, foi detida por alegado envolvimento no atentado. A mulher já tinha sido detida anteriormente por participar de manifestações contra a guerra, acrescentou.

De acordo com media russos, contudo, os investigadores não descartam a possibilidade de um explosivo ter sido colocado no café antes do evento.

Vladlen Tatarsky, cujo nome verdadeiro era Maxim Fomin, tinha mais de 560 mil seguidores no Telegram e era um dos bloggers militares mais influentes a cobrir o conflito na Ucrânia. Tatarsky partilhava uma retórica maioritariamente pró-russa mas também fazia parte dos bloggers militares a criticar alguns dos aspectos da campanha de Vladimir Putin na Ucrânia.

Tornou-se conhecido, no entanto, por partilhar um vídeo no interior do Kremlin em que defendia a invasão. “Vamos derrotar todos, vamos matar todos, vamos roubar quem seja necessário. Da forma que melhor entendermos”, disse durante o evento em honra da conturbada anexação de quatro regiões parcialmente ocupadas da Ucrânia à Rússia.

A anexação dos territórios no final de Setembro foi caracterizada como ilegal pela maioria dos países das Nações Unidas.

Nascido no Donbass, coração industrial da Ucrânia, Tatarsky trabalhou como mineiro de carvão antes de iniciar um negócio de mobiliário.

Ao passar por dificuldades financeiras, assaltou um banco, cumprindo por isso pena de prisão. Tatarsky escapou durante uma rebelião separatista apoiada pela Rússia, em 2014, semanas após a anexação da Crimeia por Moscovo. Depois disso, juntou-se a rebeldes separatistas e lutou na linha de frente, antes de se dedicar aos blogues.

Horas depois do incidente, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, criticou a ausência de reacção em Washington, Londres e Paris à explosão. "[A falta de resposta] fala por si dada a sua ostensiva preocupação com o bem-estar dos jornalistas e a liberdade de expressão", frisou num comunicado citado pela Reuters.

Maria Zakharova terá dito ainda que as actividades de Tatarsky "valeram-lhe o ódio do regime de Kiev" e observou que há muito este e outros bloggers militares russos enfrentam ameaças ucranianas, de acordo com a agência Lusa.

O grupo Cyber Front Z, que organizou o evento onde Tatarsky falava, descreve a situação como um “ataque terrorista”. "Houve um ataque terrorista. Tomámos certas medidas de segurança mas infelizmente não foram suficientes", disse o grupo numa publicação partilhada no Telegram e citada pela BBC. "Condolências a todos os que conheciam o excelente correspondente de guerra e nosso amigo Vladlen Tatarsky.”

Um responsável do Governo ucraniano classificou a explosão que matou Tatarsky como parte da turbulência interna. “A questão de quando o terrorismo doméstico se tornaria num instrumento de luta política interna [na Rússia] era uma questão de tempo”, escreveu o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak na rede social Twitter.

Até ao momento, ninguém reivindicou publicamente o atentado, mas bloggers militares e comentadores apontaram de imediato o dedo à Ucrânia, comparando este incidente ao homicídio de Darya Dugina.

Em Agosto, o Serviço de Segurança Federal da Rússia acusou os serviços secretos da Ucrânia de matar Darya Dugina, filha de um ultranacionalista, num ataque com um carro armadilhado perto de Moscovo. A Ucrânia negou o seu envolvimento.

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