De visita ao Gerês, João comprou meia aldeia abandonada para cumprir o sonho do pai

O influencer e viajante João Amorim queria uma casa no meio da natureza, agora tem dez. A aldeia da Varziela está desabitada há 30 anos, mas vai ser transformada num alojamento rural.

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De passagem por Castro Laboreiro este influencer comprou meia aldeia abandonada. Vai ser um alojamento local João Amorim

João Amorim tinha o sonho de comprar uma casa no meio da natureza. A serra da Freita, em Arouca, era o lugar ideal para o líder de viagens e fotógrafo, conhecido no Instagram por @followthesuntravel, mas os planos mudaram ao passar por Castro Laboreiro, em Melgaço. Estava a fazer os Caminhos de Santiago quando um amigo o levou a uma aldeia deserta que dava pelo nome de Varziela.

Durante anos a aldeia do Parque Nacional da Peneda-Gerês só era habitada durante “três ou quatro meses de Inverno” porque o clima era ligeiramente melhor do que as que estavam mais acima, na montanha. No entanto, explica João, a transumância caiu em desuso e há cerca de 30 anos que ninguém lá vive.

Depois de conhecer a história do local, reparou que havia uma casa à venda e decidiu “ligar por curiosidade” para a imobiliária e saber qual era o valor que pediam. “O senhor está no fundo da aldeia da Varziela? Nessas casas do fundo da aldeia?”, perguntou-lhe de volta o agente imobiliário.

João comprou as dez casas do fundo da aldeia da Varziela João Amorim
A aldeia está desabitada há cerca de 30 anos João Amorim
As pessoas mudavam-se para esta zona durante o Inverno João Amorim
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João comprou as dez casas do fundo da aldeia da Varziela João Amorim

“Aquele nome soou-me familiar e gostei. Muitas vezes, a ideia de fundo está associada a uma coisa má, feia, escura, mas gostei deste jogo do nome e ficou-me na cabeça. Desliguei a chamada e fiquei a pensar que, se algum dia comprasse aquela casa, ia ser o Fundo da Aldeia”, conta em entrevista ao P3.

Em Fevereiro, numa nova visita à Varziela, decidiu avançar com o negócio, mas percebeu que não fazia sentido comprar apenas uma das habitações. Em parceria com o pai e com o primo acabou por ficar com as dez casas. O objectivo é criar um alojamento rural, explica, acrescentando que está à espera de projecto do arquitecto para começar a remodelação — e de apoios financeiros.

Avançar com as obras só vai ser possível se João conseguir financiamento do Turismo de Portugal e a candidatura à linha de apoio à qualificação da oferta está quase pronta, diz. Apesar dos valores do investimento ainda não estarem fechados, o líder de viagens estima que recuperar meia aldeia vá custar um milhão de euros. Diz que também vai participar nas obras de remodelação e que as casas antigas vão dar lugar a apartamentos T1, T2, T3. Para os quatro currais de vacas estão previstos estúdios.

O influencer de 31 anos, que tenta divulgar um estilo de viagem ético e sustentável, destaca que ter um negócio de turismo nesta região “é uma necessidade” que vai valorizar a zona e criar postos de trabalho evitando, desta forma, que os mais jovens abandonem as aldeias próximas, como aconteceu com a Varziela.

“O turismo nas grandes cidades está a dificultar muito a vida às pessoas que lá vivem, mas nos sítios pequenos está a facilitar, porque permite que os restaurantes funcionem, que as pessoas tenham trabalho e que haja mais vida”, defende.

Comprar meia aldeia para concretizar o sonho do pai

A história da inverneira abandonada motivou a compra, mas o interesse de João também surgiu para concretizar o desejo do pai, que sonhava há vários anos em deixar o emprego de solicitador para ter outro trabalho mais ligado à natureza. “Isto também foi uma forma de tentar que isso acontecesse e o objectivo também é dar este gosto ao meu pai”, acrescenta.

A ideia tem sido bem recebida não só nas redes sociais, onde já são muitos os que dizem estar interessados em passar uns dias neste novo alojamento local, mas também pelos antigos proprietários que recordam os tempos em que lá viveram. Sempre que visita a inverneira Varziela, o influencer convive com os antigos habitantes que agora vivem numa aldeia próxima, a de Portela, e mostra alguns desses momentos no Instagram.

“Gostava muito de conseguir envolver artesãos, pastores e talvez levar turistas a comer a casa de certas pessoas que gostem de cozinhar e receber”, diz, acrescentando que a aldeia fica muito perto da zona da Galiza, no Norte de Espanha.

Além disto, quer converter uma das casas num hostel com dormitórios que tenham uma privacidade semelhante à de um hotel, “ou um albergue para as pessoas que fazem este Caminho de Santiago, porque só existe um”. Como já viajou para vários locais, desde aldeias portuguesas até ao outro lado do Atlântico, sabe que nem sempre é fácil encontrar um bom sítio para pernoitar. Conseguir criar isto no fundo da aldeia é essencial, repete.

Não esconde que comprar meia aldeia é um desafio, e que ter 140 mil seguidores no Instagram ajuda-o a pensar que não será difícil conseguir reservas quando a aldeia estiver pronta para receber visitantes. “Não é o melhor negócio do mundo, nem um investimento seguro, mas é uma aposta na região e vamos ver como corre”, conclui.

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Aldeia da Varziela no Verão e Inverno João Amorim
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