Para a Filandorra, o Dia Mundial do Teatro será dia de protesto contra Pedro Adão e Silva

A histórica companhia de Vila Real viu-se excluída do Programa de Apoio Sustentado da Direcção-Geral das Artes e vê agora em risco a sua sobrevivência.

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A Filandorra está em protesto contra os resultados dos últimos concursos da Direcção-Geral das Artes PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

O Teatro Municipal de Vila Real voltou a ser, a 3 de Março, palco de uma estreia da Filandorra – Teatro do Nordeste: a peça de Tchékhov O Cerejal. Uma estreia atrasada relativamente à data inicialmente prevista, no que foi já uma primeira consequência da exclusão da histórica companhia transmontana dos apoios plurianuais anunciados pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes) no final de Novembro.

“Foi uma machadada, que o senhor ministro [Pedro Adão e Silva], com muita presunção e de forma fria, disse ser ‘uma linha de corte’. Uma decepção absoluta, mais ainda vindo de um homem de esquerda”, disse ao PÚBLICO David Carvalho, que há quase quatro décadas dirige o grupo sediado em Vila Real.

Reclamando-se como uma companhia “de reportório” – “Fazemos serviço público, para ajudar à compreensão da língua, do texto dramático, mas também à formação do jovem espectador”, diz o director-encenador –, a Filandorra associa a novos desafios a manutenção em cena de produções antigas, como o Auto da Barca do Inferno ou a Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, que continuam a ser apresentadas em diferentes palcos e escolas de Trás-os-Montes.

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David Carvalho, director artístico do Filandorra - Teatro do Nordeste Manuel Roberto

“A grande virtude da Filandorra é este território imenso”, nota David Carvalho, referindo-se não apenas à região onde opera, um conglomerado de 30 municípios, que sustenta cerca de metade do orçamento previsto no seu caderno de encargos, mas também à história do teatro, que a companhia visitou e encenou em mais de oito dezenas de produções nas últimas três décadas e meia.

Entretanto, a Filandorra continua a lutar e a manifestar-se contra a sua exclusão dos apoios estatais. E, a pretexto do Dia Mundial do Teatro, agendou para esta segunda-feira uma extensa jornada de protesto, intitulada O teatro sai à rua.

A função começa, às 10h, no Largo do Pelourinho, em Vila Real, com a estreia de uma criação cujo título é já todo um programa de acção, Auto de Boa Fé ao Senhor Ministro Imperfeito da Cultura, Adão sem Eva, da empatia e da compaixão, defensor das linhas de corte, A Maioria Mata. Um espectáculo apresentado como de “protesto artístico contra a política cultural do Governo, cruzando as linguagens dos autos populares tradicionais da região de Trás-os-Montes com alguns ‘in-pulsos’ de linguagem contemporânea assente na utilização de adereços e guarda-roupa com enfoque na pós-modernidade”, diz o comunicado da companhia.

De tarde, às 14h30, a Filandorra apresenta uma peça infanto-juvenil do dramaturgo transmontano Alexandre Parafita, Diabos e diabritos num saco de mafarricos.

Com este menu, a companhia dirigida por David Carvalho inicia uma caminhada de “sinalizações protestativas a favor da cultura no interior”, que promete novas manifestações já para a data simbólica do 25 de Abril, com a apresentação de um “Programa de Resistência e Resiliência”, na expectativa de angariar meios que assegurem a sobrevivência e evitem a extinção de um colectivo que conta com um quadro de 15 elementos efectivos.

No Dia de Portugal, 10 de Junho, e aproveitando a presença do Presidente da República no Douro, nas comemorações oficiais da data no Peso da Régua, a Filandorra promete fazer o anúncio público do resultado dessa campanha: continuar ou acabar.

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