Descobrir o Porto num jogo que é como uma caça ao tesouro (e com a ajuda da raposa Tripa)

Nasceu na Suíça há 20 anos e estreia-se em Portugal. A Fox Trail propõe “missões” para conhecermos as cidades de outra maneira, com “pistas” como guias. Fomos dos Clérigos ao Douro, entre segredos...

MR - Manuel Roberto - 19 de Marco 2023 - Portugal - Porto - Miragaia - Caca ao Tesouro
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Caça ao tesouro que é o Porto, Miragaia Manuel Roberto
MR - Manuel Roberto - 19 de Marco 2023 - Portugal - Porto - Clerigos - Cordoaria - Caca ao Tesouro
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À frente dos Clérigos vamos fazer o check-in da nossa caça ao tesouro Manuel Roberto
MR - Manuel Roberto - 19 de Marco 2023 - Portugal - Porto - Clerigos - Cordoaria - Cadeia da Relacao - Caca ao Tesouro
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A missão que cumprimos tem 14 estações Manuel Roberto
MR - Manuel Roberto - 19 de Marco 2023 - Portugal - Porto - Palacio de Cristal - Caca ao Tesouro
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Há segredos pelo Palácio de Cristal Manuel Roberto
MR - Manuel Roberto - 19 de Marco 2023 - Portugal - Porto - Miragaia - Caca ao Tesouro
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O jogo permite encontrar novas perspectivas, novos detalhes da cidade Manuel Roberto

Há uma missão: salvar os monumentos mais emblemáticos da cidade do Porto em risco de serem destruídos; há um inimigo: uma organização internacional secreta, a Global Leadership of Obscure Marauders (mais conhecida pelo acrónimo GLOOM), dirigida por um “ladrão de ideias”, Grimbart; há os aliados: a raposa Tripa e o seu parceiro, o morcego Herbert, agentes da Sphinx Foundation (“sphinx”, ou seja, esfinge, porque junta animais e humanos) no Field Operations Section 10, ou seja, o departamento da fundação que tem sob a sua alçada a protecção da herança histórica e cultural de todas as cidades do mundo.

Podia ser o ponto de partida de um inócuo filme de acção, mas é apenas a premissa para algo bem mais despretensioso —​ uma espécie de caça ao tesouro que serve como pretexto para olhar e descobrir a cidade de forma diferente. É o que propõe a Fox Trail, empresa nascida há 20 anos na Suíça e que chega agora a Portugal —​ a entrada é pelo Porto, mas a ideia é chegar a todo o país (arquipélagos incluídos).

São quase 10h30 e os turistas rondam a Torre dos Clérigos. Há os que chegam, se detêm na placa que indica “torre”, “igreja”, “museu” e tomam decisões; há os que já saem, olham para trás e para cima, tiram uma última fotografia. Os tuk tuk alinham-se obedientemente no passeio, o eléctrico amarelo patrocinado por um vinho do Porto qualquer tem uma pequena multidão à espera que as portas se abram para iniciar a viagem.

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Pelo Porto à descoberta de segredos, Miragaia Manuel Roberto

É aqui também, na loja oficial da torre e museu dos Clérigos, que se inicia a missão (experiência) The Lisbon Friends (e nas pistas dadas perceberemos porquê o nome), aquela que vamos fazer (há outras três: The Hidden Valley, The Secret Garden e From Dogs to Trams, esta acessível a pessoas com necessidades especiais, todas para equipas entre dois e sete elementos). Tem uma duração prevista entre 1h30 e 2h, lê-se na descrição, mas, como diz o responsável português da Fox Trail, André Jacques, pode durar quanto quisermos. “O tempo de jogo é indicativo”, explica, “as pessoas podem parar para o que for, passar um dia inteiro, se quiserem. Passamos em sítios fantásticos que dão vontade de parar”. Afinal, sublinha, “aqui o propósito é conhecer a cidade de outra forma e sem guia” —​ e mais do que a chegada, o que importa é o caminho.

Nesta fase, prossegue, “em que a marca não é conhecida” (está a funcionar em regime de soft opening desde Outubro de 2022), todos os roteiros se concentram, sobretudo, no centro histórico do Porto, embora, assegura, “haja sempre uma parte desconhecida, mesmo para os locais”.

Duas outras missões já estão, porém, a ser delineadas, e chegarão a outras zonas da cidade, nomeadamente a Foz — por enquanto, a Secret Garden (“a mais difícil”, na opinião de André Jacques) até começa na marginal de Gaia, para subir logo ao Jardim do Morro e só depois cruzar a ponte para o Porto (e incluir no percurso uma viagem no elevador dos Guindais).

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À redescoberta do Porto Manuel Roberto

A cidade como escape room

Diante da Torre dos Clérigos, então, para fazer o check-in da nossa caça ao tesouro — através da leitura de um código QR na estação inicial (o telemóvel com acesso à Internet é essencial). A aventura está desbloqueada e agora é só seguir as pistas — as que nos surgem no ecrã do telemóvel e as que estão nos locais por onde passamos, que podem ser interactivas (vai-nos ser pedido algumas vezes para carregar em botões e escutar mensagens), apenas tabuletas ou, então, entregues por alguém; e que implicam sempre a resolução de charadas e até puzzles mentais.

Na primeira estação, é um “pergaminho” que descobrimos num baú, onde se lê um enigma entre desenhos de Nicolau Nasoni — não por acaso, esta estação chama-se Nicolau, e haverá Pessoa, Camilo (os “amigos” lisboetas), Chagas, por exemplo; mas também escultura, ruby, grafitti, macaco…

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Na antiga Cadeia da Relacão - Cela de Camilo Castelo Branco Manuel Roberto
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Pelo Palácio de Cristal Manuel Roberto / PUBLICO

São 14 as estações que compõem esta missão ao longo de um percurso que nos leva praticamente até à beira-rio, com passagens por lojas, museus, igrejas, jardins, caminhos estreitos com muros altos, ruas e ruelas, escadas e escadinhas (e oferece, como extra, a possibilidade de ver uma primeira edição de Mensagem, de Fernando Pessoa).

Há locais que podem estar encerrados e aí a indicação dada é que se envie um e-mail ao morcego Herbert que em poucos segundos responderá dando as indicações necessárias para prosseguir o jogo; pode haver problemas com as pistas, uma vez que “a experiência tem vários elementos analógicos nos locais aos quais é preciso fazer manutenção” e nesse caso (ou em qualquer outro em que surjam problemas) há sempre um apoio telefónico a postos.

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Manuel Roberto
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Manuel Roberto

“Na Suíça, as missões são muito mais elaboradas”, assume André Jacques, “num centro histórico não é possível ter licenças para tudo”. Na Suíça, contudo, onde a Fox Trail começou quase à laia de “hobby”, lembra André Jacques, o “mercado também está muito saturado” — são 60 missões em 15 cidades.

Entretanto, a Fox Trail expandiu-se: chegou ao Canadá e pela Europa deambula em cidades como Berlim, Paris, Londres, Roma, Helsínquia e Nuremberga (são ao todo sete países). A Portugal chega porque “é um país com óptimas condições climatéricas e de turismo”, explica André Jacques, além de que “residentes e locais têm cada vez mais gosto por estas actividades” — “veja-se a quantidade de escape rooms que surgiram”, aponta.

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A Fox Trail tem várias propostas para redescobrir a cidade Manuel Roberto

Na Fox Trail o escape room é a cidade e há vários parceiros que tornam possível esta caça ao tesouro em que andamos de cabeça no ar e bem rente ao chão, perscrutamos montras à procura de sinais e temos de encontrar a posição certa para que a realidade aumentada nos indique a direcção. No fim da aventura, com mais ou menos quilómetros nas pernas, quem sabe, com perspectivas diferentes e novos detalhes da cidade, encerra-se a missão (novamente com leitura de código QR) e tira-se uma foto para memória futura. Fomos dos Clérigos a Miragaia - o património da cidade está salvo (e foi desfrutado).

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