Açores: IL recusa qualquer novo acordo e Chega pressiona com moção de confiança

Liberais propõem “governação a retalho” e recusam novo acordo. André Ventura garante que o seu deputado apoiará o Governo e acusa IL de “manobra” com o PSD para afastar o Chega.

Foto
Rui Rocha considera que PSD-Açores desrespeitou acordo assinado com liberais Nuno Ferreira Santos

Depois de romper o acordo de incidência parlamentar com o PSD Açores, a Iniciativa Liberal rejeita qualquer cenário de apoio ao PS na região autónoma, agora que a direita ficará em minoria: Rui Rocha afirma que o seu deputado açoriano vai passar a analisar individualmente cada uma das propostas do Governo regional e do PSD.

Já o Chega acusa os liberais de irresponsabilidade por criarem uma “crise artificial e desnecessária” e de quererem "tirar o Chega da coligação" dos Açores, e vai pedir ao executivo de José Manuel Bolieiro que apresente uma moção de confiança no Parlamento regional.

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, André Ventura chegou mesmo ao ponto de admitir o cenário de esta situação ser “uma manobra da IL com o PSD para afastar o Chega” da coligação, avisando que, “se assim for, é uma jogada que vai correr mal”. O líder do Chega garantiu que o seu partido, através do agora único deputado José Pacheco, “não vai contribuir para o fim deste governo” e votará ao lado do executivo a moção de confiança que vai pedir que seja apresentada.

PÚBLICO -
Aumentar

Questionado pelo PÚBLICO sobre como votará uma moção de confiança ao executivo açoriano, o gabinete de Rui Rocha, presidente da IL, recusou “especular sobre cenários futuros”.

Aos jornalistas, Rui Rocha justificou que a IL concluiu que, quase dois anos e meio depois de assinado o acordo com o governo social-democrata, “não havia nenhuma possibilidade de o PSD continuar a executar este acordo”. Porque, além do que está por fazer, o executivo tomou decisões contrárias àquilo que acordou com a IL.

PÚBLICO -
Aumentar

Exemplos? Há dias, foi aprovada a subida do ISP que condiciona a actividade económica dos habitantes e das empresas açorianas quando, no acordo, “estava clara a baixa de impostos”, descreveu Rui Rocha. Que acrescentou o facto de o executivo açoriano mostrar “sinais evidentes de instabilidade, um paralelo com o Governo do PS no continente”, de que a saída da secretária da Saúde é um exemplo e o “clientelismo” e os cargos para familiares na estrutura pública são outro.

“Nós não podemos fazer uma moção de censura ao Governo do PS no continente e depois fazer parte ou apoiar um governo nos Açores que faz o mesmo”, realçou o liberal.

Questionado pelo PÚBLICO sobre o timing da decisão, uma vez que esteve nos Açores nos últimos dias e defendeu um aumento da votação da IL na região, Rui Rocha contou que a “avaliação” e a decisão de rasgar o acordo foi do núcleo dos Açores. E que foi comunicada à direcção nacional, que aceitou os argumentos e foi “solidária” com a decisão. “Isto não tem nada a ver com os propósitos eleitorais da IL”, garantiu o líder liberal.

Rui Rocha insistiu na ideia de que “quem não cumpriu a base fundamental do acordo foi o PSD”, colocando o ónus nos sociais-democratas, que “não têm a força reformista necessária para cumprir” aquilo com que se comprometeram. “Isto não significa que decorre daqui uma falta de solução política na Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Cá estaremos para avaliar cada uma das propostas.”

O líder da IL fugiu a responder se esta decisão – parecida com a ameaça do Chega em Novembro de 2021 – deixa a imagem de que o partido “não é um parceiro fiável”. “A IL participará em todas as soluções que façam sentido, mas não sustenta acordos que não estejam a ser cumpridos”, insistiu Rui Rocha.

Ao mesmo tempo que garante continuar a apoiar o executivo de Bolieiro, Ventura já olha para as eleições antecipadas, embora diga que “só tem sentido ter novas eleições depois do chumbo de uma moção de confiança”.

Sugerir correcção
Comentar