Os "anjos" da Victoria’s Secret poderão estar perto de "voltar à Terra", ainda este ano. A empresa de roupa interior norte-americana anunciou que 2023 ficará marcado pelo regresso do desfile de moda da marca. Não se conhecem, para já, mais detalhes sobre a data nem como será o espectáculo, mas sabe-se que os fãs devem esperar algumas mudanças, sobretudo no que toca à diversidade na passerelle.
Depois dos maus resultados nas vendas e nas audiências televisivas, rodeadas de polémicas sobre a cultura “misógina” da empresa, o director financeiro da Victoria’s Secret, Timothy Johnson, anunciou, na passada sexta-feira, o regresso do desfile para breve. “Continuaremos a debruçar-nos sobre as despesas de marketing para investir no negócio, tanto no topo do funil, como também para apoiar a nova versão do nosso desfile de moda, que virá no final deste ano”, disse, numa reunião de balanço, cita o Retail Dive.
“Acreditamos que estamos no segundo ano de uma jornada de cinco para mudar o nosso negócio e temos uma estratégia clara para ser o líder mundial do retalho de roupa interior”, declarou também o CEO, Martin Waters, no mesmo encontro digital.
Ainda que não se conheçam pormenores, a empresa salientou, em declarações ao Page Six, que vai reforçar o “compromisso em defesa da voz das mulheres e das suas perspectivas únicas”. E acrescenta: “Isto levar-nos a recuperar uma das nossas melhores estratégias de marketing e entretenimento, mas alterando-a para reflectir quem somos hoje.”
Entre as reacções ao anúncio da Victoria’s Secret, destaca-se a cantora Lizzo que celebrou “a vitória da inclusividade”, mas levantou uma dúvida no Twitter. “Mas se as marcas começarem a fazer isto apenas porque receberam reacções negativas, depois o que acontece quando as tendências mudarem novamente?” E insiste: “Os CEO destas empresas valorizam a verdadeira inclusividade? Ou só valorizam o dinheiro?”
O último desfile da marca foi em 2018 e ainda contou com os “anjos” da marca — um clube composto por alguns dos nomes mais cobiçados moda, como a portuguesa Sara Sampaio ou a brasileira Alessandra Ambrósio. Um ano depois, o desfile anual foi cancelado, culpa dos maus resultados financeiros e de marketing.
Ficou então prometida uma mudança, anunciada em Junho de 2021, mas que só agora se deverá concretizar. As modelos iam dar lugar a activistas, entre elas a futebolista norte-americana Megan Rapinoe ou a actriz e empresária Priyanka Chopra Jonas — não se sabe se a estratégia se mantém.
A empresa de roupa interior foi criada em 1997 e dependia grande parte da imagem das modelos que davam vida aos “anjos”. Pela exclusiva passerelle, passaram personalidades como Claudia Schiffer, Naomi Campbell, Heidi Klum ou Tyra Banks.
Questionado sobre a falta de diversidade entre o clã, o então responsável pelo marketing da marca, Ed Razek, defendeu, em entrevista à Vogue, que essa não era a missão do projecto: “Se não deveria ter transexuais no espectáculo? Não, acho que não devíamos. Bem, porque não? Porque o espectáculo é uma fantasia. É um especial de entretenimento de 42 minutos. É o que é.”
As declarações polémicas terão sido mais uma gota de água no oceano de polémicas e levaram Razek a abandonar o cargo. Pouco depois, o ex-presidente Les Wexner, ligado a Jeffrey Epstein, o magnata financeiro condenado por crimes sexuais, também foi afastado.