Londres planeou criar território só para protestantes no Ulster

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Documentos secretos revelados agora indicam que o projecto não foi aplicado, em 1972, porque ameaçava a libra e poderia desencadear uma guerra civil Paul Faith/EP

Este plano, concebido em 23 de Julho de 1972, 48 horas após uma série de atentados do IRA que causaram onze mortos e mais de 200 feridos em Belfast, foi revelado esta semana após a desclassificação de uma série de documentos secretos.

A acção do IRA foi a resposta ao Bloody Sunday (Domingo Sangrento), em 30 de Janeiro de 1972, em que 14 católicos desarmados foram mortos pelo exército britânico no decurso de uma manifestação.

O plano só não foi por diante por o Executivo de Heath ter recuado depois de saber que a aventura teria tornado instável a libra esterlina e provocado uma guerra civil, sem atingir os seus objectivos.

A primeira fase do plano consistia em "inundar de soldados todos os bastiões extremistas, incluindo as zonas onde existia o maior risco de confronto intercomunitário, para permitir um domínio completo e a desmoralização dos dois campos", rezam o documentos feitos públicos.

Se isto falhasse, havia uma segunda fase, ou uma solução "política": a divisão do território em duas zonas, uma protestante e a outra católica, esta susceptível de integração, num prazo não esclarecido, na vizinha República da Irlanda, de maioria católica, independente desde 1921.

A "limpeza étnica", como lhe chamou ontem o diário espanhol "El País", ocorreria neste último caso. Mais de 300 mil católicos norte-irlandeses seriam então obrigados "manu militari" a concentrar-se no território cedido a Dublin, de onde seriam entretanto retirados 200 mil protestantes.

"Cerca de um terço da população da Irlanda do Norte seria migrada", segundo o plano, que previa no entanto uma "grande resistência" por parte da população deslocada. O que para os autores teria pouca importância: "A menos que o Governo não esteja disposto a usar de uma firmeza total no uso da força, as possibilidades de impor uma solução sob a forma de uma nova partilha com a transferência de populações são negligenciáveis", declaravam no texto.

Nem Edward Heath nem nenhum dos seus ministros avalizou a "limpeza étnica" da Irlanda do Norte. Por isso, o plano nunca foi oficial.

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