Shakira dá a primeira entrevista depois da polémica: “Pronta para o próximo round

Apesar de não ter falado directamente de Gerard Piqué, a cantora colombiana abriu o coração sobre a separação e o que aprendeu durante estes meses: “Sempre fui muito dependente dos homens.”

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A cantora colombiana no Festival de Cannes em 2022 EPA/GUILLAUME HORCAJUELO

Foram meses de especulação, rumores e música com indirectas ao ex-marido, mas só agora Shakira veio a público falar sobre o divórcio e a polémica canção. Em entrevista ao canal mexicano Las Estrellas, nesta segunda-feira, a cantora colombiana não mencionou directamente Gerard Piqué, mas falou abertamente sobre as lições que a separação lhe ensinou e sobre os filhos. Diz-se pronta para o próximo capítulo: “Que venha a vida e que me mostre quem mais há.”

O burburinho começou no fim-de-semana quando a plataforma N+ e o jornalista Enrique Acevedo partilharam alguns excertos da entrevista. O início da conversa vai directo ao tema que dominou o início do ano: a canção Sessions, Vol. 53, em parceria com Bizarrap, onde a cantora lançava farpas ao futebolista e à nova namorada Clara Chía Marti.

“A arte tem, antes de mais, a função de incomodar”, começa por declarar Shakira. Ao longo de quase três décadas de carreira, argumenta, sempre tentou que as suas canções “dessem voz a quem não pode falar”. Com a polémica em torno da separação não terá sido diferente: “Dei-me conta que nós, as mulheres, estamos a passar um momento difícil na sociedade.” Por esse motivo, “o apoio que podemos receber umas das outras é muito importante”.

A cantora assevera a ideia, citando uma frase de Madeleine Albright (1937-2022), antiga secretária de estado dos Estados Unidos: “Há um lugar especial no inferno para as mulheres que não apoiam as outras.” O jornalista não questionou a artista sobre se a canção Sessions, Vol. 53 não é também um ataque a outra mulher, a namorada de Piqué, uma jovem de 23 anos que, alegadamente, estará a sofrer com a exposição mediática.

Shakira confessa que também ela “acreditava naquela história de que as mulheres precisam de um homem para se completar” e não tem vergonha de admitir — “sempre fui muito dependente dos homens”. O seu sonho era ter “uma família em que os filhos contassem com um pai e uma mãe debaixo do mesmo tecto”, revela. Visivelmente magoada, reconhece que “nem todos os sonhos da vida se cumprem”.

“A vida encontra sempre uma forma de nos compensar. Creio que a mim o fez com os meus filhos, que me enchem de amor, todos os dias”, analisa. Shakira e Piqué, que se separaram em Junho do ano passado, têm dois filhos em comum, Milan, de 9, e Sasha, de 7 anos. É para eles que a colombiana quer ser “um exemplo de que se pode sobreviver aos embates da vida”.

Depois desse “embate”, defende, está mais “fortalecida”, sobretudo porque aprendeu a aceitar a sua “vulnerabilidade” e sente que depende apenas de si mesma. “Tenho dois filhos que dependem de mim e tenho de ser, mais do que nunca, uma leoa”, observa, fazendo alusão a um dos versos da sua canção — “Uma loba como eu não é para gajos como tu”.

Gravar a canção, que explodiu nas redes sociais e continua na lista das mais ouvidas mundialmente, foi equivalente a uma “terapia”. E insiste: “A minha música é uma catarse e é mais eficaz do que uma ida ao psicólogo.” Para o comprovar deviam ter-lhe tirado uma fotografia antes e depois de gravar com Bizarrap, acrescenta. “Foi uma oportunidade de desabafar. Creio que estaria num lugar diferente se não tivesse gravado esta canção.”

É que, “quando se passa por um desgosto ou uma traição”, é preciso deixar as emoções fluírem, sem as reprimir. “Há que sentir o que é preciso, mas também pensar no que se sente.” Nesse processo, descobriu quem são os seus “verdadeiros amigos” e sentiu o apoio do público. “Ajudaram-me a levantar quando estava no chão. Ajudaram-me a dizer ‘estou pronta para o próximo round’”, agradece.

Síndrome do impostor

Na entrevista, recordaram-se ainda, as conquistas da carreira de Shakira, a cantora latina com mais êxitos no mundo. “A música transforma-se na banda sonora da vida das pessoas”, orgulha-se. Os filhos já celebram os feitos da mãe e são parte da construção da sua carreira, diz. “Acho que as crianças têm uma sensibilidade muito especial e escuto-os.”

Foi, aliás, graças a Milan que a canção Sessions, Vol. 53 foi gravada: “Ele disse-me: ‘Mãe, tens de fazer alguma coisa com o Bizarrap, é o Deus argentino.’” O menino terá enviado um áudio ao agente da cantora a pedir o mesmo. Pouco depois, o músico contactou Shakira.

Apesar de já ter uma carreira com quase três décadas, a colombiana continua a somar sucessos, o que confessa assustá-la. “Dá-me ansiedade pensar no que falta. Sofro um bocadinho da síndrome do impostor. Nunca acredito que sou tão capaz como me dizem. Ou de ser tão criativa, tão inteligente ou tão talentosa”, reflecte.

Mas é essa incerteza que, acredita, a mantém motivada: “Estar constantemente a provar que o talento se mantém.” Aos 46 anos, tem “mais vontade do que nunca”, apesar de achar que “com esta idade, estaria numa quinta a criar galinhas e a ordenhar vacas, a ver os filhos crescer”.

Contudo, a vida continua a colocá-la em “situações incómodas” para lhe dar lições. “Sinto que já vivi mais do que uma vida. Como um gato, sinto que estou na sexta ou na sétima vida”, compara. Qualquer que seja o futuro, agora tem “mais confiança”. E termina: “Há que ter fé em nós mesmos.”

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