Sete propostas para brincar ao Carnaval, de Trás-os-Montes ao Algarve

Os grandes corsos estão de regresso, depois de dois anos de paragem. De Norte a Sul do país, a vontade de voltar a bailar nas ruas e avenidas é muita. Algumas propostas para dar largas à folia.

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Preparativos de outros Carnavais em Torres Vedras Rui Gaudencio

Torres Vedras: festa com sabor a centenário

Em Torres Vedras, há um motivo extra para fazer deste Carnaval uma festa muito especial: é tempo de dar início às comemorações do centenário do Carnaval (vão estender-se até 14 de Fevereiro de 2024). Depois de já ter sido inaugurado um monumento ao Carnaval de Torres Vedras em plena Praça da República, agora as atenções estão, efectivamente, viradas para os festejos propriamente ditos.

Além dos corsos diurnos, no domingo e na terça-feira - com carros alegóricos, grupos de mascarados, carros espontâneos, “cavalinhos” com origem nas bandas filarmónicas do concelho, e um número incalculável de foliões espontâneos -, em Torres Vedras a festa também se faz com corsos nocturnos, nomeadamente o da noite de sábado, que acolhe o Concurso de Grupos de Mascarados. Destaque, também, para o Corso Trapalhão, que decorre na segunda-feira e vive da espontaneidade dos seus foliões.

Neste município da região do Oeste, o Carnaval não dura apenas três dias. O programa só encerra com o Enterro do Entrudo, na noite de quarta-feira (22 de Fevereiro). Depois de um desfile de tochas e velas pelas ruas do centro da cidade, sucede-se um julgamento pleno de alusões satíricas sobre a realidade local, nacional e internacional e a queima do Boneco do Entrudo. O acto encerra com fogo-de-artifício.

Este ano, Torres Vedras espera uma afluência superior à de 2019 e 2020, anos em que a cidade foi procurada, “durante os seis dias de festa, por um total de 500 mil foliões”, destaca Rui Penetra, da empresa municipal Promotorres (responsável, juntamente com a autarquia, pela organização do Carnaval), explicando que o município faz questão de não usar a palavra “visitante”. Ali, toda a gente é parte integrante da festa - pode, inclusive, juntar-se aos desfiles -, que já sofreu os efeitos da inflação. Os bilhetes para os corsos (que são os únicos eventos que requerem ingresso) sofreram um ligeiro aumento e custam agora 8 euros por pessoa. O livre-trânsito para os quatro desfiles custa 16 euros.

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A festa volta à Mealhada SÉRGIO AZENHA

Mealhada: festejos com sotaque do Brasil

Fiel à sua marca identitária de Carnaval luso-brasileiro, a Mealhada, no distrito de Aveiro, não só promete um “regresso à normalidade”, como até reforçou os festejos. “Os desfiles mudam de sítio, vão para a Avenida 25 de Abril, garantindo mais espaço para quem desfila e maior visibilidade para quem assiste”, anuncia Alexandre Oliveira, presidente da Associação do Carnaval da Bairrada. O que não muda é a aposta em ter nomes brasileiros conhecidos do grande público para vestir a pele de “Reis do Carnaval”. O antigo futebolista Jardel e a influencer Jaciara foram os escolhidos para o reinado de 2023.

A edição deste ano do Carnaval da Mealhada fica ainda marcada pelo retomar de uma antiga tradição: o Baile de Gala, suspenso há vários anos, que acontecerá na noite de sábado e será “uma surpresa para aqueles que, noutros tempos, organizavam e viviam os festejos carnavalescos na Mealhada”. Na noite de segunda-feira, os holofotes viram-se para o desfile nocturno das escolas de samba. Amigos da Tijuca, Batuque, Real Imperatriz e Sócios da Mangueira voltam a protagonizar “um momento único”, realça Alexandre Oliveira. “Durante a noite, com a luz, os fatos ganham outro brilho”, especifica.

As quatro escolas de samba do município são também parte integrante dos habituais corsos das tardes de domingo e terça-feira, ponto alto da festa. No total, desfilarão cerca de 800 figurantes e dez carros alegóricos. Os bilhetes mantêm-se no mesmo valor dos anos anteriores - 6 euros por pessoa e grátis para crianças até aos seis anos. “Apesar de os custos terem aumentado, entendemos que não é a altura certa para aplicar aumentos nos ingressos”, explica o presidente da Associação do Carnaval da Bairrada. Na Mealhada, a festa passa, ainda, pela tenda com animação nocturna.

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Carnaval em Ovar nelson garrido

Ovar: dois mil figurantes a colorir a avenida

Ovar leva o Carnaval tão a sério que até já abriu as hostilidades logo no primeiro mês do ano, com uma festa de abertura de arromba. Ainda assim, o melhor fica guardado para o fim-de-semana de Carnaval, com os grandes corsos a invadirem, no domingo e na terça-feira, a Avenida Sá Carneiro. São cerca de 2000 figurantes, pertencentes a 14 grupos carnavalescos, seis grupos de passerelle e quatro escolas de samba.

Destaque, também, para a Noite Mágica que, na segunda-feira, toma conta de seis espaços distintos da cidade (Praça da República, Parque Júlio Dinis, Praça das Galinhas, Chafariz do Neptuno, Jardim do Cáster e Mercado Municipal). Haja força nas pernas para dançar que DJ e música é coisa que não faltará.

“O Carnaval é a nossa festa maior”, destaca Alexandre Rosas, vereador da câmara municipal de Ovar, lembrando a origem e a abrangência destes festejos. “O Carnaval de Ovar já remonta ao final do século XIX e, entre crianças e adultos, actualmente, coloca 4000 mil pessoas a desfilar”, frisa, evidenciando ainda o peso do evento na economia local.

Em ano de regresso à normalidade, Ovar também tem algumas novidades para apresentar. “Melhorámos os acessos para quem nos visita e também introduzimos a venda de bilhetes online, através da BOL, facilitando a compra para quem não é de Ovar”, realça o vereador - os preços para os grandes corsos não sofreram qualquer aumento (7 euros).

Os dados já disponíveis - nomeadamente no que diz respeito à procura de bilhetes - levam a organização a esperar uma afluência de público superior à dos anos anteriores, razão pela qual foi também reforçada a segurança nos locais da festa.

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Um desfile trapalhão em Sesimbra pedro cunha

Sesimbra: folia e samba à beira-mar

O município de Sesimbra promete levar para a sua marginal, com o mar como pano de fundo, “a melhor edição de sempre dos 40 anos da história” do seu Carnaval. Os destaques continuam a ser os desfiles de domingo e terça-feira, com seis escolas de samba e os dois grupos de afro-axé. No total, serão cerca de mil elementos a desfilar, em perto de quatro horas de festa, contabiliza a câmara municipal. E para que o público não perca pitada do corso este ano haverá dois ecrãs gigantes - garantida está também uma bancada, que é o único local para o qual é exigido pagamento.

Outra das principais marcas dos festejos prende-se com o Corso de Palhaços, que acontece na segunda-feira, dia 20, e costuma concentrar “mais de 3000 mascarados de palhaço, de todas as idades”. As noites estarão por conta dos trios eléctricos: no sábado e na segunda-feira atravessarão a marginal, em sentidos opostos, entre as 22h e as duas da manhã.

O programa da festa, que já arrancou no passado dia 12, contempla as tradicionais “cegadas”, costume das zonas rurais que têm sido recuperadas pelos grupos de cegantes, incentivados e apoiados pela câmara municipal, as “cavalhadas”, costume da aldeia de Alfarim, e o Enterro do Bacalhau, que encerra a folia (na quarta-feira, pelas 21h30).

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Loulé volta em força ao Carnaval CM Loulé

Loulé: aspirante a geoparque vira paródia

Em Loulé, o regresso dos desfiles à Avenida José da Costa Mealha está a gerar grande entusiasmo. Aquele que se apresenta como sendo “o mais antigo corso do país” tem, este ano, um tema especial. Nada mais, nada menos do que uma paródia à candidatura a geoparque, que em breve os municípios de Loulé, Albufeira e Silves irão apresentar junto da UNESCO, e ao achado paleontológico que a inspirou, uma salamandra gigante com 227 milhões de euros. “Ó Zé… Já viste o Algarvensis?” é a pergunta que mais se irá ouvir durante os dias de Carnaval.

O desfile vai contar com cerca de 600 participantes, de dez grupos de animação e três escolas de samba, 14 carros alegóricos, cabeçudos e gigantones. “Para colorir o cortejo, já foram adquiridas toneladas de confetes e está a ser confeccionado cerca de um milhão de flores de papel que serão coladas aos carros”, anunciou a autarquia, em comunicado. Garantidas estão também as “presenças” (através de caricaturas) de António Guterres, Vladimir Putin, Volodymyr Zelensky, Marcelo Rebelo de Sousa, Greta Thunberg, António Costa e muitos outros “convidados”.

Também neste concelho do Algarve é esperado, este ano, um acréscimo no número de visitantes – que por norma ronda entre os 60 e os 80 mil –, “já que o interregno de dois anos deixou saudades”.

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Um detalhe do cartaz de Carnaval de Loulé CM Loulé

O bilhete de entrada no corso tem um valor simbólico de 2 euros e as receitas revertem, em 50%, para as dez associações que vão desfilar, sendo os restantes 50% atribuídos a instituições particulares de solidariedade social do concelho.

Podence: os caretos vão andar à solta

Os caretos, com o colorido dos fatos amarelos, vermelhos e verdes, máscaras de lata, chocalhos à cintura e um pau na mão, são os protagonistas daquele que se autoproclamou como o “Carnaval mais genuíno de Portugal” - está classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Em Trás-os-Montes, no município de Macedo de Cavaleiros, mais concretamente na aldeia de Podence, a festa vai este ano prolongar-se por quatro dias, de sábado a terça-feira, com actividades que vão muito para além dos “Caretos à Solta”.

Mercadinho tradicional, tabernas, animação de rua, caminhadas e passeios em embarcação ecológica pela albufeira do Azibo são algumas das propostas que aguardam os foliões do Entrudo Chocalheiro. Na segunda-feira, será dada a oportunidade de os visitantes poderem pintar a sua máscara e terem a experiência de “ser careto” (experiências sujeitas a inscrição obrigatória). Na terça-feira de Entrudo, os festejos encerram em grande com a Procissão e a Queima do Entrudo.

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Os Caretos de Podence

Apesar de terem conseguido sair à rua nos dois últimos anos - em 2021, estiveram à janela e, em 2022, já conseguiram andar pela aldeia -, os Caretos de Podence esperam grande enchente na festa deste ano, com visitantes oriundos de todo o país e também do estrangeiro. “Após a classificação da UNESCO, tem sido cada vez mais gente”, destaca António Carneiro, presidente da Associação dos Caretos de Podence.

Pelas ruas vão andar “mais de 100 mascarados”, assegura António Carneiro, a propósito dos festejos que continuam a ser de acesso livre e gratuito (à excepção das caminhadas, que são organizadas por entidades parceiras).

Aigra Nova: soltar as quadras pela vizinhança

Nas aldeias do xisto do concelho de Góis, no distrito de Coimbra, as máscaras em cortiça tornaram-se numa marca do Entrudo. Recuperada pela Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, a tradição anima todos os anos o Carnaval pelas ruas da aldeia do xisto de Aigra Nova e das aldeias vizinhas. “Os foliões partem da Aigra Nova, com as máscaras de cortiça na cara, e vão andar pelas aldeias da Pena, Cerdeira, Esporão, Ponte de Sótão, a soltar as quadras, que são uma sátira ou piada sobre cada uma das aldeias”, explica Jorge Lucas, da Lousitânea.

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Carnaval no xisto: Góis Paulo Pimenta

Nesta que é “uma nova roupagem de uma antiga tradição que acabou por desaparecer” por conta do êxodo daquelas aldeias, os mascarados vestem roupas antigas e de forma trapalhona. A festa termina no ponto de origem, na Aigra Nova, com um almoço à boa maneira serrana, bailarico, toque de concertinas e gaitas de foles. “Depois, temos o poste do presunto e do bacalhau. É preciso subir para os apanhar”, anuncia Jorge Lucas, a propósito daquela que é uma das brincadeiras mais divertidas. No final, há a queima do Entrudo.

A festa, que acontece apenas no domingo de Carnaval, é de acesso livre e gratuito. Este ano, segundo as contas da Lousitânea, deverão ser cerca de 50 “os jovens e menos jovens” a “Correr o Entrudo” nas aldeias do xisto de Góis. A assistência não deverá superar os números registados nos outros anos. Pelo menos, assim espera a organização, que pretende manter a festa à escala das aldeias. “Aigra Nova só tem três ruas”, ilustra Jorge Lucas.

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