Violência no Sudão do Sul mata 27 pessoas antes da chegada do Papa

Francisco termina visita à República Democrática do Congo e chega esta sexta-feira ao Sudão do Sul, onde terá a companhia dos líderes das igrejas de Inglaterra e da Escócia.

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O Papa antes de um encontro com os bispos congoleses, em Kinshasa Reuters/YARA NARDI

O Papa Francisco encerra uma visita emotiva à República Democrática do Congo nesta sexta-feira, partindo em seguida para o vizinho Sudão do Sul, outra nação que luta para ultrapassar décadas de conflito e extrema pobreza.

As dificuldades do país foram sublinhadas na véspera da chegada do Papa, quando 27 pessoas foram mortas no estado de Equatória, no centro do Sudão do Sul, em mais um episódio de violência entre criadores de gado e uma milícia local.

A chegada do Papa ao Sudão do Sul, agendada para esta sexta-feira após o fim da visita à República Democrática do Congo, tem como objectivo a reanimação de um processo de paz com vista ao fim de uma década de conflito.

Na sua terceira visita à África subsariana desde que assumiu o cargo, em 2013, o Papa Francisco, de 86 anos, foi recebido com entusiasmo por multidões na capital da RD Congo, Kinshasa. Mas também foi confrontado com a realidade da guerra, da pobreza e da fome.

Na quarta-feira, Francisco ouviu histórias terríveis de vítimas do conflito no leste do Congo, que testemunharam o assassínio de familiares e foram sujeitas a escravatura sexual, amputações e canibalismo forçado.

O Papa condenou as atrocidades, classificando-as como crimes de guerra, e denunciou os responsáveis — dentro e fora do país — por uma guerra de pilhagem dos vastos recursos naturais da região. Numa das comunicações, Francisco instou os responsáveis a "deixarem de enriquecer à custa de dinheiro manchado de sangue".

O leste do Congo tem sido marcado por um conflito de décadas que é mantido, em parte, por uma luta pelo controlo dos depósitos de diamantes, ouro e outros metais preciosos, entre o Governo, os rebeldes e invasores estrangeiros. As consequências da violência originada no genocídio do Ruanda, em 1994, é outro dos combustíveis do conflito no Congo.

O Papa Francisco insistiu na denúncia de um conflito alimentado "pelo veneno da ganância", dizendo que o povo congolês e o resto do mundo deviam perceber que as pessoas são mais preciosas do que os minerais que existem debaixo da terra.

"Peregrinação da paz"

Depois de um encontro com bispos congoleses em Kinshasa, na manhã desta sexta-feira, e de uma cerimónia de despedida no aeroporto da capital, o avião do Papa parte em direcção a Juba, capital do Sudão do Sul.

Durante a visita, Francisco irá ter a companhia do arcebispo da Cantuária, Justin Welby, líder da Comunhão Anglicana, e pelo moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, Iain Greenshields.

É a primeira viagem em conjunto dos três líderes cristãos, que chamaram ao acontecimento "uma peregrinação da paz".

O arcebispo da Cantuária mostrou-se "horrorizado" com o mais recente episódio de violência no Sudão do Sul.

"É uma história muitas vezes repetida em todo o país", disse Welby na rede social Twitter. "Volto a apelar a um caminho diferente, para que o Sudão do Sul se una em busca de paz."

O Sudão do Sul tornou-se independente do Sudão em 2011, após um conflito de décadas entre o norte e o sul. Em 2013, eclodiu uma guerra civil no novo país — uma violência que persiste apesar de um acordo de paz assinado entre os dois principais inimigos.

O Papa Francisco tentou visitar o país de maioria cristã ao longo dos últimos anos, mas todas as tentativas foram canceladas devido à instabilidade no terreno.

Num dos gestos mais marcantes do seu papado, Francisco ajoelhou-se para beijar os pés dos anteriores líderes da guerra no Sudão do Sul, durante uma cerimónia no Vaticano, em Abril de 2019, em que lhes pediu para que não retomassem a guerra civil.