A Síria ainda é palco “das piores violações de direitos humanos do mundo”

Director de uma das principais organizações de direitos humanos a operar na Síria será recebido no Parlamento português, onde lembrará que a Síria não é um conflito parado no tempo.

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Fadel Abdul Ghany, fundador e director da Syrian Network For Human Rights Rui Gaudêncio

Foi mais ou menos por estes dias, há 12 anos, que os sírios começaram a protestar contra Bashar al-Assad, num acto de coragem que poucos analistas anteciparam. Hoje, a Síria aparece pouco nas notícias – em Portugal, já nem um relatório a responsabilizar o regime por um ataque com armas químicas merece um comunicado do Governo. É para contrariar esta ausência que Fadel Abdul Ghany, fundador e director da organização não-governamental Syrian Network for Human Rights (SNHR), tem esta sexta-feira, no Parlamento português, uma audiência com o Grupo de Trabalho – Audições de Peticionantes e Audiências sobre Crimes de Guerra e Crimes Contra a Humanidade cometidos na Síria.

Abdul Ghany dá o exemplo do relatório publicado há dias pela Organização para a Proibição das Armas Químicas sobre um ataque de de 2018: a investigação, que contou com a colaboração da sua ONG, conclui que foram as forças leais a Assad a “lançar dois cilindros com gás de cloro contra dois prédios numa zona habitada por civis, matando 43 indivíduos identificados e afectando outras dezenas de pessoas”.

Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Qatar, Turquia… “muitos ministros dos Negócios Estrangeiros reagiram”, centenas de media noticiaram. “[Na audiência] vou perguntar ‘onde é que está a reacção de Portugal?’ Onde é que está a voz de Portugal em relação às gravíssimas violações de direitos humanos na Síria? Portugal está ausente. É-lhes indiferente? Nós não queremos que seja indiferente, por isso é que gastámos esforço e tempo para estar aqui”, explicou Abdul Ghany, numa conversa esta quinta-feira, em Lisboa.

O director da SNHR fará um retrato da situação actual e pedirá aos representantes dos diferentes grupos parlamentares para pressionarem o Governo. Muitas vezes, em encontros deste tipo, acontece ser preciso lembrar que o conflito sírio não ficou parado no tempo. “A Síria continua a ser o pior país do mundo em vários tipos de violação de direitos humanos. Passámos de uma escala excepcionalmente grande para uma realidade em que continuamos a ser o pior país do mundo no que respeita a tortura, desaparecimentos forçados, munições de fragmentação ou deslocados – 13 milhões, mais ainda do que na Ucrânia”, descreve.

Só em Janeiro, de acordo com a SNHR, houve 178 detenções arbitrárias na Síria, incluindo 14 crianças, com o regime a ser responsável por 92 detenções. No mesmo período, foram mortos 65 civis, incluindo 16 crianças, quatro mulheres e quatro pessoas que morreram devido à tortura a que foram sujeitas.

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