Mais de mil professores protestam em Faro e pedem “respeito” pela classe
Depois de uma manifestação em frente ao Mercado Municipal de Faro, os professores deslocaram-se até aos serviços regionais da Educação.
O protesto dos professores em Faro, na manhã desta quinta-feira, juntou mais de mil professores, segundo as estimativas da PSP. Uma adesão inesperada para alguns dos presentes. E no final da manifestação o número já teria pelo menos duplicado.
“Não esperava ver tanta gente”, comentou Ricardo Oliveira, docente na Escola João de Deus (antigo liceu) que fechou as portas – o que ainda não tinha ainda sucedido durante as últimas semanas de greve dos professores. O director deste agrupamento, Carlos Luís, militante do PS, foi um dos dirigentes que se solidarizaram com os colegas e foi também para a rua. “Não vamos parar”, disse Ana Simões, represente do Sindicato dos Professores da Zona Sul (Fenprof), enquanto lia a lista das “escolas sem aulas” à medida que a informação lhe chegava. A adesão, segunda a estimativa da sindicalista, terá tido uma participação “de 93% a 95%”.
A greve de professores por distritos, promovida por nove estruturas sindicais, arrancou a 16 de Janeiro e vai terminar no dia 8 de Fevereiro.
A praça em frente ao mercado, o ponto de encontro combinado, ficou completamente repleta. E ganhou colorido de festa, à medida que os tambores rufavam, com os milhares de docentes a sublinhar as palavras de ordem dos representantes sindicais. “A luta não vai ficar por aqui”, repetiam. “Para a próxima temos de levar para lá [Parlamento] os tambores”, comentou o secretário-geral adjunto da Fenprof, José Costa, que esteve na quarta-feira na audição da Assembleia da República (AR).
“O ministro [da Educação] não disse nada sobre as questões que nós há anos achamos que são urgentes e que têm de ser resolvidas”, acrescentou o dirigente, destacando de uma extensa lista a recuperação do tempo de serviço e a precariedade. Já a professora de Matemática Ana Terra lamentou o percurso feito nos anos que leva de carreira. “Eu, porque só concorri para escolas do Algarve, sinto-me prejudicada na carreira”, exemplificou. Outros, como é caso de Ricardo Oliveira, são professores há duas dezenas de anos, percorrem o país de uma ponta a outra e ainda são precários.
Os professores exigem melhores condições de trabalho e salariais, o fim da precariedade, a progressão mais rápida na carreira, e protestam contra propostas do Governo para a revisão do regime de recrutamento e colocação, que está a ser negociada com os sindicatos do sector.
À frente da manifestação que percorreu a cidade de uma ponta a outra – do largo do mercado aos serviços regionais do Ministério da Educação –, Ana Simões apelava a João Costa: “Respeito, senhor ministro.” E os colegas responderam erguendo cartazes com frases alusivas à situação de cada um. “Quando o ministro diz que está a negociar com os sindicatos, connosco não está, caros colegas”, destaca, por seu lado, José Costa, dizendo que o que ouviu do governante foram palavras de “ilusionismo”, para não se comprometer com a “calendarização da resolução dos problemas”. Mais à frente, o professor de Educação Física Luís Santos, de Faro, de 50 anos, recebe das mãos de uma colega uma cartaz com a imagem de uma urna, em cartão, com uma cruz. “Aposentação digna em vida”, dizia, com algo complementar à mensagem, “reconhecimento do desgaste da profissão”.
O cortejo dos professores foi sempre acompanhado pela PSP e manteve-se até ao fim na mesma faixa de estrada que lhe estava destinado. “Caros senhores Costas, António [primeiro-ministro], e João, [ministro] não vamos parar a luta”, disse José Paulo Dias, do Sindicato Democrático dos Professores da Zona Sul, acusando os governantes de serem responsáveis pela “degradação” do património cultural e intelectual em Portugal, ao mesmo tempo que criticava o Governo pela desmotivação crescente na classe. A luta, afirmou o também representante da Federação Nacional da Educação (FNE), veio para ficar. E deixou o aviso: “Deixamos um recado, senhor Costa: demita-se.”