Vice-primeiro-ministro chinês diz que a economia da China está novamente aberta ao mundo
Em Davos, Liu He anunciou regresso à normalidade, depois de três anos de “covid zero”, e apelou ao investimento estrangeiro. Em 2022, a economia chinesa cresceu ao ritmo mais lento em meio século.
O Governo da República Popular da China aproveitou a edição deste ano do Fórum Económico Mundial, em Davos, para fazer uma espécie de anúncio oficial do regresso da sua economia à normalidade, depois de cerca de três anos de restrições e de constrangimentos económicos provocados pela imposição da draconiana política “covid zero” dentro das suas fronteiras.
Esta terça-feira, nos Alpes suíços, Liu He, vice-primeiro-ministro chinês e principal conselheiro económico do Presidente Xi Jinping, declarou que as portas do seu país estão novamente abertas ao mundo e sublinhou, enfaticamente, que “os investimentos estrangeiros são bem-vindos na China”.
“Algumas pessoas dizem que a China vai voltar à economia planificada. Isso não é de todo possível. A porta da China para o mundo exterior só se vai abrir ainda mais”, afiançou Liu, perante uma assistência composta por investidores, empresários e líder políticos, citado pelo South China Morning Post.
A intervenção do vice-primeiro-ministro chinês surge cerca de duas semanas depois do levantamento das restrições de viagem para o estrangeiro – um dos últimos vestígios da “covid zero” na China – e numa altura em que existe alguma desconfiança, inclusivamente da Organização Mundial de Saúde, sobre os números de casos de covid-19 divulgados por Pequim.
Para além disso, acontece no mesmo dia em que o próprio Governo chinês revela dois dados estatísticos muito relevantes (e preocupantes) relativos ao ano que passou.
Por um lado, o seu PIB cresceu apenas 2,9% no último trimestre de 2022, e 3% no ano inteiro, um ritmo aquém do esperado e o mais lento desde 1976, excluindo 2020; por outro, a China perdeu 850 mil pessoas em 2022, o primeiro declínio populacional registado em mais de meio século no país mais populoso do mundo.
O Governo de Xi tinha estabelecido uma meta de 5,5% de crescimento para 2022 e o Fundo Monetário Internacional apontava para 3,2%.
Os dados divulgados pelas autoridades chinesas mostram ainda uma queda de 10% no investimento em imobiliário em 2022, a primeira desde que os dados começaram a ser registados, em 1999.
Já o número de vendas registou a maior quebra desde 1992; o volume de vendas a retalho caiu 0,2%; e a produção industrial registou um crescimento de 3,6%, um resultado positivo que, ainda assim, também ficou aquém das expectativas.
Não obstante, Liu He mostrou-se optimista com o presente e com o futuro económico do país.
“Estamos confiantes de que o mais provável é que o crescimento da China em 2023 regresse à sua tendência normal. A economia chinesa apresentar melhorias significativas”, afirmou.
“Em 2023, vamos continuar a trabalhar para fazer progressos, mantendo a estabilidade e seguindo uma política fiscal pró-activa e uma política monetária prudente. Para este ano, perspectivamos um aumento considerável das importações, mais investimento empresarial e o regresso do consumo das famílias aos níveis normais”, acrescentou.
“Manter a paz”
No seu discurso, esta terça-feira, o vice-primeiro-ministro chinês também apelou à paz – usou 11 vezes a expressão “manter a paz mundial”, segundo a Reuters – e defendeu que o mundo tem de “abandonar a mentalidade de Guerra Fria” e “dar as mãos para responder aos desafios globais”.
Um apelo que voltou a levantar algumas sobrancelhas, tendo em conta que a China se recusa a condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e que, apesar de não esconder que o conflito europeu tem um impacto negativo nas cadeias de abastecimento que alimentam a sua economia, tem aprofundado a sua cooperação financeira, energética e diplomática com o Kremlin desde o início da guerra.
Depois de um período muito difícil nas relações com os EUA – que teve na visita de Nancy Pelosi, ex-speaker da Câmara dos Representantes, a Taiwan, no Verão, um dos seus pontos mais baixos – a China tem dado sinais de que quer desanuviar a tensão.
O encontro entre Xi e Joe Biden, Presidente norte-americano, em Novembro, foi entendido nesse sentido, assim como a escolha recente do antigo embaixador chinês da China nos EUA, Qin Gang, para o importante cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros.
Nessa mesma linha, está prevista uma reunião entre Liu e Janet Yellen, secretária de Estado do Tesouro dos EUA, em Zurique, na quarta-feira.
Para além disso, Lawrence Summers, que também ocupou o cargo, na Administração Clinton, revelou à Reuters que esteve reunido com o vice-primeiro-ministro chinês durante mais de uma hora. Mas não deu detalhes do encontro.