Bento XVI pede desculpa em testamento aos que possa ter prejudicado
“A todos aqueles que, de alguma forma, prejudiquei, peço perdão de coração”, lê-se no documento deixado por Joseph Ratzinger.
O papa emérito Bento XVI deixou um testamento espiritual em que pede “perdão de coração” àqueles que possa ter prejudicado na sua vida e exorta a igreja a “manter-se firme” na fé perante as ideias que tentam combatê-la. “A todos aqueles que, de alguma forma, prejudiquei, peço perdão de coração”, lê-se no documento intitulado “O meu testamento espiritual”, que foi divulgado este sábado pela Santa Sé, em alemão e italiano.
Bento XVI, que morreu este sábado aos 95 anos, inicia o documento agradecendo a Deus por tê-lo guiado em “vários momentos de confusão”. “Agradeço em primeiro lugar a Deus, dispensador de todo o bem, que me deu a vida e me guiou em vários momentos de confusão, levantando-me sempre que eu começava a resvalar, mostrando-me sempre de novo a luz do seu rosto”, escreve.
O papa emérito agradece também aos pais que lhe deram a vida “num momento difícil”, na Alemanha, em 1927, entre as duas grandes guerras e quando o país caminhava para o nazismo, e aos irmãos Maria e Georg. Bento XVI, cujo nome original é Joseph Ratzinger, também expressa a sua gratidão aos “muitos amigos, homens e mulheres” que o acompanharam ao longo da vida e aos professores e alunos que teve, bem como ao seu país e à sua Baviera Natal onde, diz, viu sempre “aparecer o esplendor do Criador”.
Dirigindo-se directamente ao povo alemão escreve: “Rezo para que a nossa terra continue a ser de fé e peço-vos, queridos compatriotas, não se deixem desviar da fé”. “O que eu disse aos meus compatriotas digo agora a todos os que na igreja foram confiados ao meu serviço: permaneçam firmes na fé! Não se deixem confundir!”, encoraja.
Neste sentido, Bento XVI deixa um apelo em defesa da fé contra as interpretações filosóficas e supostamente científicas que procuram apaziguá-la ou minimizar a sua importância. “Frequentemente parece que a ciência – as ciências naturais, por um lado, e a pesquisa histórica (em particular a exegese das Sagradas Escrituras), por outro – são capazes de oferecer resultados inequívocos perante a fé católica”, refere.
Mas, acrescenta: “Tenho visto as transformações das ciências naturais desde os tempos antigos e pude verificar como, ao contrário, desaparecem as certezas aparentes contra a fé, demonstrando não ser ciência, mas apenas interpretações filosóficas aparentemente ligadas a ciência". A fé, assinala Ratzinger, tem dialogado com as ciências naturais e com elas “aprendeu” também a compreender “melhor o limite da dimensão das suas afirmações”.
O papa emérito Bento XVI, que morreu este sábado com 95 anos, abalou a Igreja ao resignar do pontificado por motivos de saúde, a 11 de Fevereiro de 2013, dois meses antes de comemorar oito anos no cargo.
Joseph Ratzinger, que foi papa entre 2005 e 2013, nasceu em 1927 em Marktl am Inn, na diocese alemã de Passau, tornando-se no primeiro alemão a chefiar a Igreja Católica em muitos séculos e um representante da linha mais dogmática da Igreja.
Os abusos sexuais a menores por padres e o “Vatileaks”, caso em que se revelaram documentos confidenciais do papa, foram temas que agitaram o seu pontificado. Bento XVI classificou os abusos como um "crime hediondo" e pediu desculpa às vítimas.
O funeral de Bento XVI realiza-se na quinta-feira, na Praça de São Pedro, no Vaticano, às 9h30 locais (08h30 em Lisboa), numa celebração presidida pelo Papa Francisco.