Como se constrói um processo de mudança?

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"A educação é a base da sociedade, é o início de tudo: da cultura, da saúde, da economia, da segurança" Nelson Garrido/Arquivo

Todos percebemos que a escola tem de mudar. Quando dizemos isto queremos dizer uma imensidade de coisas e não apenas que a escola tem de mudar. Queremos dizer que tem de mudar a gestão da carreira docente, tem de mudar a formação inicial e continua dos professores, tem de mudar as habilitações para a docência, tem de mudar a organização escolar, tem de mudar a avaliação de desempenho, tem de mudar muitas das didáticas de várias disciplinas, tem de mudar a avaliação dos alunos, tem de mudar a organização curricular, tem de mudar, tem de mudar, tem de mudar…

Temos muitas coisas para mudar, mas não podemos andar sempre a mudar, causa instabilidade, confusão, ansiedade, stress e depressão e possivelmente muitos outros estados psicológicos e físicos.

Quais seriam duas ou três mudanças significativas que por si só teriam um efeito de dominó positivo? Costumamos ouvir dizer que para mudar precisamos de mudar toda a organização ao mesmo tempo e todos quererem mudar. Esta é uma missão quase impossível, ou seja, fazer tudo ao mesmo tempo e com todos.

Por vezes não sabemos bem se queremos mudar, mas confiamos naqueles que nos inspiram e que estão ao leme da organização, ou que não estando, tem uma liderança inata arrastando-nos atrás deles. Normalmente as mudanças nos sistemas instituídos são grosso modo, boas para todos. É preciso fazer ver essas boas consequências e tornar todos os agentes conscientes delas, para que ganhem sentido aos olhos de todos os afetados e intervenientes na mudança.

Os líderes sensatos não deixam que nas suas lutas pela inovação e mudança sejam afetados no seu bem-estar seja de que ordem for, aqueles que são o foco da sua ação, mas antes envolvem-nos nas ações de mudança.

Estamos a falar de educação. As mudanças na educação devem envolver não só os professores, mas os alunos, os pais e os assistentes operacionais. São eles as comunidades educativas. As mudanças que acontecerem com os professores terão consequências nos alunos, no ensino e na aprendizagem. Qual a visão dos alunos sobre estas mudanças? Qual a opinião dos pais e encarregados de educação?

Há, sem dúvida, situações de vida completamente insustentáveis. E muitos professores estão a chegar ao limite. Outros já chegaram ao limite há muito tempo, gastos e consumidos por um sistema que em nada os honra ou dignifica.

Não se pode reconhecer o valor que têm na vida de uma nação, como aconteceu no tempo da pandemia, e depois continuar a dar-lhes condições esgotantes de vida diária. Como fazer ver a todos, decisores políticos, outros professores, alunos e pais que assim como está, não pode ser mais? Só os envolvendo nas possíveis consequências da mudança, para que o resultado sonhado seja querido por todos, se não por todos, pela maior parte e que os outros confiem nas alterações propostas.

Não se muda sozinho, nem à força. Uma coisa é ser resiliente, ter capacidade de mudar de perspetiva, ver o cenário de outro modo e encontrar novas possibilidades, estabelecer prioridades e urgências de entre tudo o que é importante e conceber um plano estratégico para a subida de um degrau sonhado, onde há lugar a avaliação, planeamento e novo ciclo de melhoria. Mas cuidado, ninguém aguenta andar sempre em mudança!

A educação é a base da sociedade, é o início de tudo: da cultura, da saúde, da economia, da segurança.

De que forma é possível considerarmos os professores e devolver-lhes a dignidade que, por natureza, já possuem?


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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