Catarina Martins quer usar “folga orçamental” para apoiar sector da cultura

Líder bloquista apela a que Pedro Adão e Silva apoie entidades culturais que foram excluídas dos apoios sustentados às artes através do excedente do Orçamento do Estado para 2022.

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Catarina Martins reuniu-se nesta segunda-feira com 12 entidades culturais LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, defendeu nesta segunda-feira que o Governo devia utilizar a folga orçamental deste ano para apoiar as estruturas culturais que ficaram de fora dos apoios sustentados do Ministério da Cultura por falta de verbas e que "estão em risco de fechar portas", considerando que "menos de 5%" do excedente do Orçamento do Estado para 2022 bastaria para financiar as mesmas.

"Tendo a achar que a folga [orçamental] está subavaliada por parte do Governo, mas mesmo que acreditemos que são só aqueles mil milhões de euros, menos de 5% da folga que o Governo já anunciou que tem chegava para apoiar todas as estruturas que tiveram boa avaliação por parte dos júris em todas as áreas artísticas e em todo o território nacional nas mais variadas modalidades de apoio", afirmou em declarações aos jornalistas após uma reunião com agentes culturais na sede nacional do partido, em Lisboa.

Embora considere que é "já muito tarde", para Catarina Martins esse reforço orçamental do sector cultural, ainda que "relativamente pequeno, serviria seguramente para que todas as estruturas pudessem continuar o seu trabalho", já que "Portugal corre o risco de ver algumas das suas estruturas mais importantes ao longo do território fechar".

Criticando o "corte de financiamento" do ministério de Pedro Adão e Silva aos apoios sustentados às artes, a líder do partido considerou que as estruturas culturais do país, das mais antigas às mais recentes, se encontram actualmente "mais frágeis do que em anos anteriores" porque, após a pandemia, "as folgas orçamentais que existiam acabaram".

"As estruturas culturais estão com uma enorme fragilidade porque depois de dois anos de pandemia chegaram a um concurso cujas regras foram alteradas a meio", apontou, acusando o Governo de "não cumprir" com "as próprias regras do concurso" da DGArtes que abriu por não ter colocado a "verba necessária" no mesmo para apoiar todas as estruturas que tiveram uma avaliação positiva.

Catarina Martins apontou ainda que a decisão do Governo de não reforçar a verba dos apoios bienais se traduz numa perda dos "apoios das autarquias", influencia a capacidade destas estruturas de "irem aos fóruns internacionais" e pode vir a "esmagar absolutamente as novas gerações" se estas estruturas já reconhecidas que não conseguiram aceder aos apoios sustentados vierem a concorrer a "apoios pontuais" numa "tentativa de sobrevivência".

"Estamos a falar mesmo do fim de estruturas que são fundamentais no acesso da população portuguesa à cultura e na afirmação de Portugal no mundo do ponto de vista artístico", afirmou, sublinhando que esta "decisão errada" do ministério "põe em causa todo o ecossistema" cultural.

Adão e Silva "nem sequer as ouviu", acusa Catarina Martins

Após se ter reunido com diversas entidades das artes visuais, do teatro ou da dança, a líder do Bloco classificou como "inconcebível" o facto de Pedro Adão e Silva não ter recebido estas estruturas para as ouvir sobre esta matéria. "Estamos a falar de criadores, de estruturas de criação e produção muito afirmadas no nosso país, muito bem avaliadas por júris que estão a fechar as portas e o ministro da Cultura nem sequer as ouviu para saber o que está a acontecer", atirou.

Questionada pelos jornalistas sobre se acredita que o trabalho do ministro Pedro Adão e Silva está a ser mais negativo do que o da sua antecessora, Graça Fonseca, a coordenadora do Bloco referiu que "achar que a política cultural se resolve com relações públicas é um erro". "Resolve-se com visão para o país e com orçamento, e é isso que falta."

No encontro com o Bloco estiveram presentes a actriz Cucha Carvalheiro, Luísa Fernandes da Jangada Teatro, Teresa Mello Sampayo e Inês Costa d'A Barraca, Susana Otero do Ballet Contemporâneo do Norte, Helena Menino da Companhia Clara Andermatt, Pedro Barateiro e Pedro Gomes da Associação de Artistas Visuais em Portugal, Inês Soares da Associação Pobo, Sophia Neuparth e Margarida Agostinho do c.e.m – centro em movimento, Ivo Alexandre e Anabela Faustino da Ninguém – Associação Cultural, Susana Domingos Gaspar da Acção Cooperativista, Nuno Eusébio e Sara Barbosa da Cão Danado, Mariana Brandão do Arena Ensemble e Inês Pires do Teatro Ibérico.

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