Russell Cassevah é obcecado por tijolos de Lego desde os 4 anos, quando a sua mãe o deixou escolher o seu primeiro conjunto após uma ida ao consultório médico. Já em adulto, levou o seu amor pelos tijolos dinamarqueses a um novo nível, ao bater os recordes mundiais do Guinness por andar descalço quase um quilómetro, para cima e para baixo, num caminho coberto de tijolos de Lego afiados.
Mais: no ano passado, fez parte de uma equipa de cinco membros que quebrou um recorde mundial do Guinness por andar dois quilómetros descalço sobre os tijolos de um pequeno edifício. "Da primeira vez, Jimmy Fallon fez uma piada sobre mim no The Tonight Show", revela Cassevah, 38 anos, que vive em Chesapeake, Virgínia. E revela que a na caminhada, parecia que os seus pés estavam a arder, porém, bloqueou a dor e continuou.
Após o seu primeiro recorde mundial, Cassevah decidiu que podia continuar no mundo dos Legos e deixou o seu emprego para viajar pelo país para entregar Legos grátis aos hospitais infantis, através da associação sem fins lucrativos Little Bricks Charity, que criou entretanto. Todos os anos, usa donativos para comprar e doar mais de 120 mil dólares de conjuntos de Lego a 29 hospitais pediátricos de todo o país.
Quase um milhão de pessoas no TikTok seguem as viagens que faz na sua carrinha Little Bricks, e todas as épocas festivas, Cassevah faz uma lista de desejos para os conjuntos Lego que são mais solicitados pelas crianças nos hospitais.
Não é fácil perder de vista Russell Cassevah, com o seu mohawk, um penteado associado à tribo indígena com o mesmo nome; e todos os meses, o homem pinta o cabelo de uma cor berrante. A acompanhá-lo, nas suas idas aos hospitais, vão a mulher, Shannon Wolf, e a filha, Faith, de 9 anos. "Ela é tão louca por Legos como eu, e adora ajudar sempre que possível", comenta.
Tessa mudou a vida de Russell
Para iniciar a sua associação, Cassevah inspirou-se na Fairy Bricks, uma organização sem fins lucrativos britânica, que dá conjuntos de Legos grátis às crianças.
Em 2017, recorda, alguém tinha roubado 2000 conjuntos de Lego de uma das carrinhas de entrega do grupo. "Depois de saber do roubo, fiz algumas pesquisas sobre o que os Legos fazem pelas crianças nos hospitais", recorda. "Então, soube que tinha encontrado o meu propósito."
Na altura, trabalhava como formador para a Canon USA e decidiu usar alguns dos seus ganhos para comprar conjuntos Lego e entregá-los aos hospitais pediátricos, aos fins-de-semana. Mas em 2020, a sua vida mudu quando conheceu uma menina de 1 ano, Tessa, que tinha cancro no cérebro.
"Tessa tinha o riso mais bonito e um pequeno mohawk a crescer no meio da sua cabeça", recorda. O facto de a criança não ter sobrevivido abalou-o de tal forma que, para honrar a memória de Tessa, rapou a cabeça e deixou apenas uma linha de cabelo no meio, como um mohawk; deixou o emprego; levantou as suas poupanças para se concentrar a tempo inteiro na sua associação.
No mês passado, deixou 240 conjuntos de Lego, no valor de seis mil dólares, no Hospital Infantil da Universidade da Virgínia, em Charlottesville. "Os Legos são um dos artigos mais solicitados pelos doentes, e muitas vezes não conseguimos acompanhar a procura", diz Savannah Sweatman, responsável do hospital. "Os Legos permitem que as crianças sejam apenas crianças enquanto estão aqui, e para Russell doar-nos tantos [conjuntos] é excitante e generoso", continua.
Recentemente, Cassevah também completou uma viagem ao Hospital Infantil Noroeste do Arkansas, em Springdale, onde doou nove mil dólares de novos conjuntos Lego a jovens doentes. Um deles, Hewitt Kahana, estava no hospital para o seu terceiro tratamento de quimioterapia quando viu Cassevah com o seu corte de cabelo mohawk azul, sentado a uma mesa coberta com novos conjuntos de Lego.
Hewitt, 11 anos, sempre foi um fã de Lego, e tinha acabado recentemente de construir uma mini pirâmide egípcia em casa,em Springdale, entre tratamentos a um tumor cerebral. "Fiquei entusiasmado quando vi este tipo, porque se podia dizer que ele realmente amava Legos, tal como eu", diz o menino.
Quando Cassevah notou a excitação de Hewitt, entregou-lhe um conjunto Lego Galaxy Explorer e perguntou-lhe se o podia ajudar a construí-lo. Hewitt disse logo que sim. "Ele foi muito fixe, e construirmos Legos juntos fez-me sentir feliz", conta. "Foi divertido olhar para o que eu tinha criado com ele."
Christen Sluyter, 32 anos, mãe do menino acrescenta: "Pode dizer-se que Russell se preocupa realmente com as crianças e está lá para arrancar sorrisos e encorajá-las." Mais: "Foi maravilhoso vê-lo e ao Hewitt a construir e a rir."
Cassevah disse que a memória do sorriso de Hewitt permaneceu com ele enquanto conduzia cerca de 14 horas até casa, na Virgínia. "Quando construo com crianças, o meu objectivo é criar memórias divertidas, dar-lhes voz e deixá-las falar", explica. "Hewitt é articulado, e sabia tanto sobre a sua condição. Acredito que os Legos são a sua fuga e alegria."
"Mais do que tudo, rimo-nos e divertimo-nos", acrescenta. "O meu tempo com Hewitt reforçou a minha sensação de que estou no caminho certo", conclui.