Ministro surpreendido com greve de professores enquanto decorrem negociações

Sindicatos querem que ministério recue em algumas das propostas para a revisão do modelo de recrutamento e mobilidade.

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João Costa diz que está em curso um processo negocial em que o ministério da Educação apresentou "alguns objectivos concretos" Nuno Ferreira Santos

O ministro da Educação, João Costa, mostrou-se esta sexta-feira surpreendido com a greve de professores em curso, argumentando que estão a decorrer negociações com os sindicatos, nas quais o executivo está de boa-fé.

Em declarações aos jornalistas após ter sido vaiado por dezenas de professores ao chegar à Escola Secundária Marques de Castilho, em Águeda, distrito de Aveiro, o governante referiu-se a uma "guerra de sindicatos" para alegar que os representantes dos professores não estão todos unidos nos protestos.

Referindo-se à greve em curso desde 9 de Dezembro, convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P.), o ministro acusou o dirigente sindical André Pestana de mentir, garantindo que não há qualquer processo de municipalização da contratação de professores.

"Isso é falso. O líder do sindicato que convoca esta greve sabe que é falso. Já lhe foi dito olhos nos olhos que é falso, mas ele insiste em mentir e por isso só podemos repudiar uma campanha assente na mentira, na desinformação e na manipulação da opinião dos professores", afirmou o ministro, garantindo que a antiguidade dos professores vai ser o critério no modelo que está a ser negociado com os sindicatos para a vinculação dos professores.

O governante mostrou-se surpreendido com a greve dos professores que está a decorrer, tendo em conta que está em curso um processo negocial em que o ministério da Educação apresentou "alguns objectivos concretos", que, no seu entender, não vão contra aquele que é o desejo de grande parte dos professores.

“Mais e muitos” lugares no quadro

Uma das propostas em cima da mesa passa pela abertura de "mais e muitos" lugares de quadros de escola, por forma a "dar estabilidade aos professores em quadros de escola por oposição aos quadros de zona pedagógica, que obrigam os professores a deslocarem-se por vezes em distâncias superiores a 200 quilómetros", disse o governante.

O ministro referiu ainda que o Governo pretende avançar com uma "redução significativa das distâncias em que os professores têm de se deslocar” e reduzir a precariedade dos professores, propondo em 2023 vincular mais cinco mil professores contratados.

"Respeito sempre o direito à greve e à manifestação. Tenho a maior estima e respeito pelos professores, mas sobretudo tenho também um grande respeito pela concertação social séria e pela negociação sindical que está em curso", concluiu.

Durante a visita à escola, o ministro parou várias vezes para falar com os alunos e foi ainda interpelado por uma das funcionárias mais antigas do estabelecimento que se queixou de estar a receber o ordenado mínimo, ao fim de 34 anos de serviço.

O S.TO.P anunciou na quinta-feira ter convocado greve para todo o mês de Janeiro, como forma de protesto pelas últimas decisões do Governo, nomeadamente a transferência da Educação para as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR). Um despacho do Conselho de Ministros, publicado na quarta-feira, determina a transferência, a partilha e a articulação das atribuições dos serviços periféricos da administração directa e indirecta do Estado nas comissões de coordenação e desenvolvimento regional.

Para sábado, está convocada uma manifestação nacional na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, e nessa altura os professores vão discutir a sua suspensão ou continuidade da greve.

Greves no 2º período

Também na quinta-feira, outros oito sindicatos de professores ameaçaram convocar uma greve de 18 dias, por distritos, no início do 2º período lectivo se o ministério não recuar em algumas das propostas para a revisão do modelo de recrutamento e mobilidade.

Os oito sindicatos (Fenprof, ASPL, Pró-Ordem, SEPLEU, SINAPE, SINDEP, SIPE e SPLIU) exigem que até ao dia 10 de Janeiro João Costa recue em algumas das propostas que apresentou no âmbito da negociação da revisão do modelo de recrutamento e mobilidade, e que inicie novos processos negociais sobre outros temas.