Andreia Garcia será curadora do Pavilhão de Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza
Arquitecta com atelier no Porto propõe discutir escassez da água no território nacional e convidou sete equipas de jovens arquitectos para propor os reservatórios do futuro.
A arquitecta Andreia Garcia (Guimarães, 1985), que tem atelier no Porto, será a curadora da representação portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza, com inauguração marcada para 20 de Maio do próximo ano, anunciou esta quinta-feira a Direcção-Geral das Artes (DGArtes).
A acompanhá-la estarão dois curadores-adjuntos, Diogo Aguiar e Ana Neiva, revelou a própria ao PÚBLICO. A sua proposta para o Pavilhão de Portugal pretende reflectir sobre "a escassez da água doce a partir do território nacional".
A curadora foi escolhida entre os três nomes do concurso por convites organizado pela DGArtes, e que incluíra também o arquitecto e curador Ricardo Carvalho e a dupla do Atelier do Corvo (Carlos Antunes e Désirée Pedro), prémio AICA em 2021.
Andreia Garcia fundou o atelier Architectural Affairs em 2016 no Porto, destacando-se na sua prática curatorial a Bienal de Arte Contemporânea da Maia (2019). O site do seu atelier lembra que foi também curadora de Smaller Cities (Guimarães Capital Europeia da Cultura, 2012), e do Projecto Memória (Centenário do Theatro Circo de Braga, 2015).
É professora de Projecto de Arquitectura na Faculdade de Engenharia da Universidade da Beira Interior, função que acumula, desde o ano passado, como o cargo de vice-presidente da mesma faculdade. A sua tese de doutoramento pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, com a qual recebeu o Prémio Manuel Tainha, foi publicada em livro em 2016, com o título Espaço Cénico, Arquitectura e Cidade.
Andreia Garcia é co-fundadora, com Diogo Aguiar, da Galeria de Arquitectura, no Porto, um espaço dedicado à reflexão sobre arquitectura e território.
A 18.ª Bienal de Arquitectura de Veneza, que terá como curadora-geral a arquitecta e escritora escocesa-ganesa Lesley Lokko, tem como tema “O Laboratório do Futuro”.
A proposta para o Pavilhão de Portugal, situado no Palácio Franchetti, tem como título Fertile Futures. Segundo o comunicado da DGArtes, a exposição quer reflectir sobre “o contributo da arquitectura no redesenho do futuro descarbonizado, descolonizado e colaborativo, respondendo directamente à convocatória de Lesley Lokko.
"Somos todos África", resume a curadora ao PÚBLICO, nessa aprendizagem a partir de territórios africanos que há muito tempo testemunham condições climáticas extremas e lidam com os problemas da escassez de água.
Reservatórios do futuro
A exposição do Pavilhão de Portugal terá o seu foco, explica curadora, "em sete hidrogeografias portuguesas" profundamente marcadas pela acção antropocêntrica — Bacia do Tâmega, Douro Internacional, Médio Tejo, Albufeira do Alqueva, Rio Mira, Lagoa das Sete Cidades e Ribeiras Madeirenses. Convida sete jovens ateliers, em colaboração como sete outros especialistas mais consagrados (geógrafos, arquitectos paisagistas, antropólogos e engenheiros do ambiente), "a propor reservatórios do futuro".
As equipas incluem os Space Transcribers e Álvaro Domingues (Tâmega), Dulcinea Santos e João Pedro Matos Fernandes (Douro), Guida Marques e Érica Castanheira (Tejo), Pedrez Studio e Aurora Carapinha (Alqueva), Corpo Atelier e Eglantina Monteiro (Mira), Ilhéu Atelier e João Mora Porteiro (Sete Cidades) e Ponto Atelier e Ana Salgueiro Rodrigues (Madeira).
"Cada território levanta uma questão e propomos discutir estratégias de gestão, reserva e transformação deste recurso natural, contribuindo para uma discussão que é comum e global", explica Andreia Garcia, acrescentando que há também uma bolsa de consultores comuns, nacionais e internacionais, que vai alargar a discussão. Entre eles estão Margarida Waco, Patti Anahory ou Pedro Gadanho.
A DGArtes diz que esta colaboração proporá modelos "para um amanhã mais sustentável, saudável e equitativo, em cooperação não hierarquizada entre disciplinas, gerações e espécies".
A escolha de Andreia Garcia foi feita por um júri constituído por Paulo Carretas, técnico superior da DGArtes e coordenador, Joaquim Moreno, Isabel Ortins Simões Raposo, Julia Albani e Nuno Grande.
Na edição anterior da bienal, o atelier portuense depA, composto por Luís Sobral, Carlos Azevedo e João Crisóstomo, representou Portugal com o projecto In Conflict.