Como lidar com um colega de trabalho tóxico?
Passamos grande parte do tempo a trabalhar. O que fazer quando alguém que também lá está tem impacto negativo em nós?
Gritam, fazem piadas, mexericos e nunca têm culpa do que acontece. Estes são alguns dos comportamentos típicos de colegas de trabalho tóxicos — um de cada vez ou todos ao mesmo tempo. E como podemos lidar com eles? Devemos falar com a chefia? Podemos gritar-lhes também? A psicóloga Teresa Espassandim ajuda — e não é preciso berrar.
Como identificar um colega de trabalho tóxico?
Tal como noutro tipo de situações, o ideal é usar a “bússola orientadora” que nos diz o quão (des)confortáveis estamos com determinado comportamento. No caso do local de trabalho, essa bússola pode ser complementada “com a identificação do que são os valores e princípios” da empresa.
Mas é importante sublinhar que “a toxicidade está definida pela frequência e intensidade”. Ainda que “haja comportamentos que só precisam de acontecer uma vez para não poderem ser aceites”, como os assédios, uma piada falhada não faz necessariamente de uma pessoa tóxica. “Devo avaliar se o comportamento acontece frequentemente comigo ou com outros”, refere a psicóloga.
Que comportamentos são comuns e devo sinalizar?
Por exemplo, a “comunicação agressiva” (o colega que está sempre aos berros com toda a gente); os mexericos ou ainda a desresponsabilização (a pessoa que nunca é responsável pelos seus comportamentos, a culpa é sempre dos outros ou de outros factores).
Há um perfil típico?
Os comportamentos tóxicos podem ter diferentes origens. “Pode ser porque a pessoa utiliza uma comunicação manipuladora, porque é muito insegura, porque não sente arrependimento ou não tem juízos morais, os chamados ‘psicopatas’”, explica Teresa.
Mas também podem existir “factores organizacionais”: “Quando a liderança não tem a qualidade esperada, pode gerar injustiças, promover certo tipo de comportamentos e permitir que certas personalidades tenham mais espaço para se evidenciar. A liderança é importante para reduzir as sensações de injustiça ou interdependência de funções.”
Como devo responder?
Primeiro, é importante “estabelecer limites pessoais”: o que é (ou não) aceitável para mim? O que tem piada para mim? Quão disponível estou para contribuir para esta tarefa?
Depois, é preciso ser capaz de comunicar limites, “formular pedidos” e fazê-lo de forma adequada. Ou seja, se berram comigo, não devo responder berrando também, mas antes explicando, com “regulação emocional”, que esse comportamento não me faz sentir bem, que não o posso aceitar, e pedindo para que não se repita. E também não devemos assumir, à partida, que a pessoa não vai mudar o comportamento.
Os próprios locais de trabalho, defende a psicóloga, podem contribuir positivamente para os bons relacionamentos, ao incentivar o “apoio entre colegas”, criar “oportunidades para as pessoas socializarem e aumentarem a confiança” ou promover formação para o desenvolvimento pessoal.
Na vida pessoal, ter uma boa rotina de sono é uma das chaves para lidar com este tipo de comportamentos: “Se não estiver tão descansada, posso estar hipersensível, reagir de forma irritada e ter menos controlo sobre as emoções.”
Mais ainda é importante assegurar comportamentos que dêem prazer também durante a semana e não os empurrar apenas para o fim-de-semana. Isso vai aumentar a sensação de “recuperação da jornada de trabalho”.
Devo falar com a chefia?
A primeira tentativa de resolução deve ser “pelos nossos próprios recursos, directamente com a pessoa”, usando as estratégias acima mencionadas. “Se for percepcionada como alguém que precisa de ir ao árbitro para resolver as dificuldades, posso ser infantilizada, ao invés de aumentar a minha autoconfiança.”
Se forem esgotadas todas as estratégias e nada mudar, pode então fazer sentido envolver a chefia: mas sempre numa lógica de “relatar um facto, explicar o impacto desse facto em mim e/ou na equipa e, novamente, fazer pedidos” ou apresentar soluções, em vez de “fazer queixinhas”.
De qualquer forma, é importante ter em mente que “passamos muitas horas a trabalhar e que pessoas com este tipo de comportamento têm um enorme impacto nas nossas vidas”.
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