Na casa de campo da Kopke, sentem-se a hospitalidade e o orgulho durienses
Foi residência dos Barros e dos Kopke e, este ano, a Sogevinus transformou-a num acolhedor alojamento, coroando a experiência de enoturismo que já existia na Quinta de São Luiz desde 2019.
Era o que faltava à simpática e hospitaleira experiência de enoturismo da Quinta de São Luiz, na margem esquerda do Douro, Tabuaço. Estava aberta ao turismo, com visitas de Novembro a Fevereiro, provas de vinhos das várias marcas do universo Sogevinus e uma loja novinha em folha, paredes meias com os armazéns de envelhecimento de vinho do Porto (e a nova adega dos vinhos DOC), mas faltava-lhe oferecer a possibilidade de ali dormirmos.
A The Vine House é a primeira unidade de alojamento do grupo na região e com ela o projecto de enoturismo passou a funcionar o ano inteiro (só fecha nos dias de Natal e Ano Novo). Nasceu em Agosto, da recuperação de uma casa com mais de 200 anos que serviu de residência aos Kopke, primeiro, e à família Barros, mais tarde. São desta as fotografias que mantêm viva a memória desta casa de campo e que vemos espalhadas pelos seus vários recantos.
A reabilitação da casa é do gabinete de projectos Core Concept, enquanto a decoração de interiores ficou a cargo do estúdio Isabel Lopez Vilalta, que apostou num ambiente sóbrio e no conforto, relevando a paisagem que é Património Mundial da Humanidade e que vemos dos quartos (onze, com o nome dos talhões de vinha da quinta), todos eles com terraço. Soalho de madeira de Riga e móveis em pinho nacional. Cadeiras, candeeiros e mesinhas de cabeceira feitos de rattan e vime. As tais fotografias a preto e branco. E um apontamento cor de vinho nas cabeceiras. O resultado não podia ser mais aconchegante.
O primeiro registo da Quinta de São Luiz data do primeiro terço do século XIX, e surge numa referência ao seu primeiro proprietário, João Varandas. Foi comprada em 1922 pelos Kopke, que então já contavam quase 300 anos de história e de ligação ao Douro. Em 1936 Nicolau Kopke chegou a Portugal como cônsul geral das Cidades Hanseáticas, dois anos depois já o alemão enviava as primeiras garrafas de vinho para o Norte da Europa. Fundada em 1638, a Kopke orgulha-se de ser "a casa de vinho do Porto mais antiga do mundo", fundada ainda antes da demarcação da região. A Barros comprou marca e quinta em 1953. E já no século XXI, em 2006, todo esse património passou a ser Sogevinus, que tem cinco quintas nas três sub-regiões durienses, num total de 250 hectares de vinha, e que pertence hoje ao grupo espanhol Abanca.
Contada a história da quinta e da casa, a visita propriamente dita, e incluída na estadia, começa nas vinhas (90 hectares, dos 77 aos 466 metros de altitude, numa área total de 125 hectares), em concreto na Vinha Rumilã, a mais antiga, com a idade média das videiras nos 90 anos, e que rodeia a casa. As uvas produzidas na propriedade vão, em partes iguais, para vinho do Porto e DOC Douro. A maioria das videiras dá tintas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Sousão, Rufete, Tinto Cão, Alicante Bouschet e Donzelinho Tinto. Viosinho e Verdelho são as castas brancas plantadas na modernidade, e nas zonas mais elevadas da quinta. Nas vinhas velhas, há sensivelmente 35 variedades misturadas.
Liliana Cardoso, do Peso da Régua e com um orgulho de ser dali que se percebe nos primeiros dois minutos de conversa ("Isto é quase um mundo à parte. Sou natural daqui e nunca me canso desta paisagem linda."), conduz-nos para a adega, mas não sem antes nos mostrar a Casa do Alambique e a capela de Santa Quitéria, muito utilizada pelos Barros e pelos trabalhadores dessa época, e chamar a nossa atenção para as icónicas "Ginas".
A quinta tem, ainda em utilização, oito desses depósitos de cimento pintados de branco e cujo criativo (e popular) baptismo está associado à lenda do cinema italiano Gina Lollobrigida. Num deles funciona um bar, que abre na época alta, e na mesma zona será construída até ao próximo Verão uma piscina de frente para a vinha, explica-nos Liliana, "a rapariga dos Portos brancos", enquanto nos dirigimos para o armazém onde envelhecem os Portos.
Estão ali balseiros com capacidade até 60 mil litros, outros mais pequenos, vários tonéis e muitas pipas. E cheira a vinho e a tradição. É uma das zonas que os turistas mais gostam de visitar, diz-nos, já à mesa, Michel Moutinho, natural de São João da Pesqueira, e outro elemento da equipa de enoturismo com o Douro na guelra. À volta da prova dos tawnies de dez, 20, 30 e 40 anos da Kopke (30 euros por pessoa), explica-nos este guia que na quinta só está 5% do stock de vinho do Porto da casa, "quase todo o envelhecimento está em Gaia".
Nos anciões armazéns da quinta (o mais antigo do século XIX), com paredes originais em xisto, é possível provar e comprar todos esses vinhos e também os vinhos tranquilos das marcas Sogevinus. Os hóspedes da The Vine House têm 10% de desconto na loja e a facilidade de comprar ali e receber o vinho em casa, seja esta em que parte do mundo for.
Focada principalmente na produção de Portos colheita, tawnies e brancos, a Kopke é a marca premium do grupo, que detém também a Cálem, a Burmester, a Barros e a Gilberts. E o chapéu sobre o qual encontramos também os belíssimos DOC Douro da série Winemaker’s Collection ou os Quinta de São Luiz (até há pouco tempo, era Kopke que líamos em grande nestes rótulos).
"O colheita mais jovem que temos hoje em dia é de 2012 e o mais antigo que temos em loja é de 1934", conta Michel, para logo acrescentar que se lembra bem de quem comprou garrafas desse tawny muito velho: "russos e chineses".
A quem não tem "900 euros" para dar por um vinho do Porto, a equipa do enoturismo da quinta aconselha outras preciosidades mais em conta: na loja, estão disponíveis "o Ferrari" da Kopke, que é o colheita de 1966, as colheitas da Kopke de 2003 e 2012, deste último ano também o colheita da Burmester, os vintages Cálem 1985 e Kopke 2016; nos brancos, o mais antigo que o grupo tem nesta loja física é a colheita 2004, da Kopke. Exceptuando o 1966, que custa 235 euros, estas são propostas até 65 euros.
Depois de piscarmos o olho ao Crasto e a São Leonardo de Galafura, na outra margem, tomamos o pequeno-almoço na acolhedora sala comum. É estranho dizer que o frio sabe bem, mas aqui sabe. Sabe bem o charme despojado, enquanto o Inverno, gelado e belo, do Cima Corgo aperta lá fora.
A Fugas esteve alojada a convite da The Vine House
Nome The Vine House
Morada Estrada Nacional 222, Adorigo, 5120-012 Tabuaço
Região Douro
Telefone 254 407 965
Web https://kopke1638.com/pt
Horário Só fecha dias 25 de Dezembro e 1 de Janeiro. Restaurante Quinta de São Luiz by Chef Vítor de Oliveira: terça a domingo, 19h-22h; sábados e domingos abre também ao almoço, 12h30-15h.
Preço (euros) Quarto duplo a partir de 100 euros na época baixa e de 120 euros na alta (inclui visita e prova São Luiz Clássico — DOC Douro tinto e branco); provas a partir de 14 euros por pessoa. Preço médio no restaurante: 30 euros. Piqueniques: 80 euros (cesto para duas pessoas).
Impressões da visita Alojamento acolhedor e simpático, que enriquece a experiência de enoturismo que já existia na Quinta de S. Luiz desde 2019. O melhor mesmo da estadia são as pessoas que nos recebem e o facto de percebermos que o Douro tem orgulho em ser Douro e em mostrar o Douro. Isso é bonito. A essa hospitalidade, o projecto de decoração de interiores da nova casa de campo da Kopke acrescenta conforto e aconchego. Tudo isso enquanto decorrem com normalidade os trabalhos do dia-a-dia de uma quinta onde se produzem vinhos do Porto e vinhos tranquilos (Kopke e Quinta de S. Luiz). Na loja, também estão à venda as outras marcas do grupo Sogevinus (Cálem, Burmester, Barros e Gilberts) e há desconto de 10 por cento para hóspedes.
Autor Ana Isabel Pereira