A “queda de um anjo”
Com Cristiano Ronaldo sentado no banco de suplentes no início de um jogo da selecção também se assiste à “queda de um anjo” na equipa nacional.
Nunca se saberá se Portugal não teria também derrotado a Suíça se Cristiano Ronaldo tivesse começado o jogo desta terça-feira no “onze” titular. Também não se terá a certeza absoluta se o “caldo não se tivesse entornado” entre o capitão português e Fernando Santos na sequência da polémica frase de CR7 aquando da sua substituição no jogo da Coreia do Sul, o seleccionador nacional teria, na mesma, deixado o craque a ver o início do jogo contra os helvéticos sentado no banco de suplentes, como sugeriu à chegada ao Estádio de Lusail, quando referiu que tudo se tratou de uma opção estratégica.
O que se sabe é que pela primeira vez em muitos, muitos jogos, o mais internacional jogador de sempre por Portugal, o melhor marcador da história da selecção foi, por opção técnica, deixado de fora do “onze” titular português. De um jogo oficial é preciso recuar a 2017 (partida contra Andorra), mas de um “jogo a sério”, frente a um adversário competitivo, é preciso procurar, procurar, procurar…
Caiu assim, por terra, um mito que vinha sendo alimentado nos últimos jogos da selecção. O de que, apesar das declarações de circunstância em que se garantia que nenhum jogador tinha lugar cativo entre os titulares nacionais, na prática, Cristiano Ronaldo surgia sempre no lote dos eleitos. Por mais que as suas exibições esta temporada não o justificassem.
É verdade que Fernando Santos não tinha muito a perder com a decisão que tomou. Se ganhasse, como ganhou, mostrava que não aceita faltas de respeito e que a selecção é capaz de vencer mesmo sem CR7 em campo (na verdade já toda a gente sabia isso). Se perdesse, não teria ninguém a apontar-lhe o dedo (talvez mesmo só a família de Ronaldo e o jornalista inglês Piers Morgan) de tal forma foi unânime a condenação à atitude do madeirense.
Com Cristiano Ronaldo sentado no banco de suplentes no início de um jogo da selecção também se assiste à “queda de um anjo” na equipa nacional. E se no romance de Camilo Castelo Branco se retrata o progressivo desnorte de Calisto Elói, o fidalgo transmontano, defensor da moral e dos bons costumes que ao chegar à capital portuguesa, se deixa corromper pela boémia e a volúpia de Lisboa, na novela da vida real que tem Cristiano Ronaldo como protagonista vamos assistindo à forma como um homem que atingiu os píncaros da fama e do reconhecimento social e profissional não consegue lidar com o inexorável passar do tempo e o inevitável ocaso de uma carreira brilhante.
Texto corrigido à 1h19 rectificando a origem de Calisto Elói