Trump pede extinção da Constituição dos Estados Unidos
Anterior Presidente dos Estados Unidos exigiu também a anulação ou a repetição da eleição presidencial de 2020.
O anterior Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu que a Constituição do país deve ser suspensa, por forma a possibilitar o seu regresso imediato à Casa Branca ou a repetição da última eleição presidencial.
Em causa está a divulgação de pormenores, na sexta-feira, sobre o bloqueio de ligações no Twitter para uma notícia que envolvia o filho de Joe Biden, Hunter Biden, em vésperas da eleição de 2020; e pedidos para a remoção de mensagens, por parte da campanha eleitoral de Biden, que também envolviam o filho do actual Presidente dos EUA.
“Uma fraude maciça deste tipo e com esta magnitude permite a rescisão de todas as regras, regulamentos e artigos, incluindo aqueles encontrados na Constituição”, disse Trump, no sábado, na Truth Social – uma rede social que ajudou a criar, em 2021, depois de ter sido suspenso do Twitter.
Trump, que já anunciou a sua candidatura à eleição presidencial de 2024, disse também que os “pais fundadores” da democracia dos EUA “não quereriam, nem aprovariam, eleições falsas e fraudulentas”; e voltou a alimentar teorias da conspiração, nunca provadas nos tribunais, sobre a sua derrota na última eleição, acusando as empresas de tecnologia, em particular o Twitter e o Facebook, de estarem alinhadas com o Partido Democrata.
As palavras do anterior Presidente dos EUA motivaram uma reacção da Casa Branca, com o vice-director de comunicação, Andrew Bates, a acusar Trump de lançar “um anátema sobre a alma da nação”, e a apelar à “condenação geral” das suas afirmações.
“Não se pode amar a América apenas quando se ganha. A Constituição dos EUA é um documento sacrossanto, que há mais de 200 anos assegura que a liberdade e o Estado de Direito prevalecem no nosso grande país. A Constituição une o povo americano independentemente do partido, e os líderes eleitos juram defendê-la”, disse Bates.
O portátil de Hunter Biden
Na sexta-feira, o novo proprietário do Twitter, Elon Musk, anunciou que a empresa ia revelar, no mesmo dia, “o que realmente aconteceu” em 2020, quando os seus antecessores na rede social decidiram bloquear a partilha de uma notícia do tablóide norte-americano New York Post sobre o conteúdo encontrado num computador portátil de Hunter Biden.
Nessa altura, estava ainda fresca na memória a fase final da campanha eleitoral de 2016, quando a notícia de que o FBI tinha reaberto uma investigação sobre os e-mails de Hillary Clinton, a apenas 11 dias da eleição presidencial, foi vista como um dos factores que contribuíram para a derrota da candidata do Partido Democrata frente a Trump. A investigação voltaria a ser encerrada, dessa vez de forma definitiva, a 6 de Novembro – dois dias antes da eleição, e sem que Clinton tivesse sido alvo de qualquer acusação criminal.
No dia 14 de Outubro de 2020 – a três semanas da eleição presidencial desse ano –, o New York Post noticiou que Hunter Biden tinha apresentado o seu pai a um executivo da empresa ucraniana Burisma, em 2015, quando Joe Biden era o vice-presidente dos EUA. Em 2015, Hunter Biden fazia parte do conselho de administração da Burisma, e Joe Biden era o responsável pela política da Administração Obama em relação à Ucrânia – o que foi visto, pela base de apoio de Trump, como uma prova de corrupção.
Até hoje, nunca foi provado que Joe Biden tenha beneficiado de qualquer eventual negócio ilícito de Hunter Biden, e os principais jornais de referência, como o New York Times e o Washington Post, trataram a história do computador portátil com muito cuidado.
Com base nos alertas dos serviços de informação norte-americanos na altura, o Times e o Post – e também redes sociais como o Twitter e o Facebook – optaram por não valorizar a notícia do New York Post, por receio de que a informação de base tivesse sido obtida numa operação de hacking e de propaganda da Rússia.
Hunter Biden, cujo estilo de vida errático foi denunciado durante meses por apoiantes de Trump, continua a ser objecto de uma investigação criminal pelo Departamento de Justiça, que se tem concentrado nos seus assuntos fiscais e nas suas operações económicas no estrangeiro, em particular na Ucrânia.
Sem provas de censura
Foi neste contexto que o Twitter decidiu, em 2020, bloquear a partilha de ligações para a notícia do New York Post, depois de um aceso debate interno entre as várias equipas da empresa; e foi por isso que Musk anunciou, na sexta-feira, que o Twitter ia finalmente revelar "o que realmente aconteceu” nesse debate interno, nas vésperas da eleição de 2020.
A grande revelação prometida por Musk, na sexta-feira, acabou por fazer pouco mais do que confirmar o que já se sabia – que o Twitter e outras redes sociais são alvo de constantes pedidos para a remoção de conteúdo, incluindo de campanhas ligadas a candidatos a cargos políticos, e que as decisões são tomadas depois de um debate interno em que são pesados vários factores.
Ao contrário do que o anúncio de Musk sugeria, as supostas provas da “supressão da notícia sobre Hunter Biden pelo Twitter” foram divulgadas de forma indirecta, filtradas pelo jornalista Matt Taibbi. E, segundo muitos dos utilizadores que acompanharam a divulgação em tempo real, incluindo alguns apoiantes de Trump, os tweets de Taibbi não incluíam provas de censura nem de violação da Primeira Emenda da Constituição dos EUA pelo Twitter, no caso da notícia do New York Post.
"Penso que vimos algumas coisas úteis, mas não se trata da prova definitiva que todos esperávamos”, disse Miranda Devine, colunista do New York Post e fervorosa apoiante de Trump, numa entrevista ao pivô Tucker Carlson, na Fox News, no sábado.
Na sexta-feira, Taibbi confirmou que ambas as campanhas presidenciais de 2020 – a do então incumbente, Donald Trump, e a do candidato democrata, Joe Biden – pediram ao Twitter a remoção de mensagens publicadas naquela rede social. No caso da candidatura de Biden, e segundo uma anãlise feita pelo New York Times, muitos dos pedidos tiveram com alvos tweets em que Hunter Biden surgia nu.