Veja a erupção do vulcão Mauna Loa em mais de uma dezena de fotos
A nova erupção no Havai não suscita, para já, grande preocupação. O registo do dióxido de carbono no observatório no cume do vulcão desde 1958, para a Curva de Keeling, é que está interrompido.
As últimas novidades que chegam do vulcão activo mais alto do mundo – o Mauna Loa, no Havai, que a 28 de Novembro acordou de um sono de 38 anos – indicam que a erupção continua através de várias fissuras activas e de escoadas de lava. Para já, inúmeras imagens expõem uma paisagem assombrosa no cume deste vulcão que se eleva 4170 metros acima do oceano Pacífico e esconde na sua parte submarina outros 5000 metros até ao fundo do mar.
Os Serviços Geológicos dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), através do seu Observatório de Vulcões do Havai, dão conta que a erupção se mantém na zona onde se tinha iniciado – a Zona Nordeste do Rifte, uma estrutura de fissuras bem definidas no edifício vulcânico.
“Várias escoadas de lava estão a viajar em direcção a nordeste. O fluxo de lava maior e mais largo está a ser libertado da fissura 3”, refere o site dos USGS. A lava que jorrava de chaminés na fissura 3, na terça-feira à tarde no Havai, já madrugada de quarta-feira em Portugal continental, chegou a atingir 40 a 50 metros de altura. Já na fissura 4, assinalam ainda os USGS, as chaminés aí formadas deitavam lava a altura de cinco a dez metros.
O dióxido de enxofre…
De momento, não há bens em risco, ainda que gases vulcânicos e cinzas possam vir a ser desagradáveis, dizem as autoridades do Havai, segundo a agência Reuters. “Há uma pluma de gás visível das chaminés eruptivas e escoadas de lava, de onde a pluma está sobretudo a ser soprada para o Norte”, referem ainda os USGS, adiantando que no início da erupção os seus registos indicaram uma taxa de emissão de dióxido de enxofre (SO2) de 250 mil toneladas por dia.
Também o Serviço de Monitorização da Atmosfera do Copérnico (CAMS, na sigla em inglês) está a acompanhar de perto a pluma de dióxido de enxofre emitida pelo Mauna Loa. “As previsões do CAMS, baseadas em observação de satélite da coluna total de SO2 a seguir à erupção, mostram a pluma a ser transportada para leste e sudeste sobre o oceano Pacífico e em direcção à parte continental da América do Norte, antes de se dissipar ao fim de três a quatro dias”, indica em comunicado o Copérnico, um programa europeu de observação da Terra.
“Os impactos do SO2 libertado pelo Mauna Loa nas condições meteorológicas e na qualidade do ar à superfície serão, provavelmente, muito pequenos. A maior parte do SO2 sobe bastante na atmosfera, em particular se nos afastarmos da fonte, e pode apenas ser visível no céu como uma névoa ligeira”, acrescenta Mark Parrington, cientista do CAMS, citado no comunicado.
…E o dióxido de carbono
Ainda que não haja bens em risco nem grandes preocupações relativas à possibilidade de os gases vulcânicos atingirem populações, a erupção do vulcão Mauna Loa já fez, no entanto, uma “baixa” icónica, pelo menos temporariamente.
Por falta de energia eléctrica, estão interrompidas as observações históricas da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, feitas praticamente em contínuo desde 1958 no cume do Mauna Loa. A lava atravessou a estrada de acesso ao Observatório do Mauna Loa, localizado no flanco Norte do vulcão, a 3397 metros de altitude, e derrubou as linhas eléctricas.
Foi ali que em 1958 o norte-americano Charles Keeling, da Instituição Scripps de Oceanografia, instalou aparelhos de medição do CO2, longe de fontes de poluição continentais, e que nos têm dado provas atrás de provas de que os humanos estão a alterar o clima da Terra, ao lançarem na atmosfera gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, resultantes do uso de combustíveis fósseis.
O gráfico das concentrações de CO2 desde 1958, que toma o nome de Curva de Keeling e é hoje um dos ícones da ciência, evidencia o aumento deste gás na atmosfera de ano para ano. Em Maio de 1958, os registos atingiram um máximo de 316 partes por milhão (ppm) de CO2. A última leitura, segundo o site da Instituição Scripps de Oceanografia, ultrapassou as 416 ppm.
Os investigadores daquela instituição procuram agora “explorar alternativas relativas a uma nova localização dos equipamentos de registo”, realça-se em comunicado, considerando que a erupção é grande e está num local mau.
Ao longo da história da Curva de Keeling, poucas foram as falhas de leitura do dióxido de carbono no Observatório do Mauna Loa, que a partir da década de 70 ganhou equipamentos complementares de medição do CO2 operados pela NOAA, a agência norte-americana para a atmosfera e o oceano.
Além de falhas ocasionais atribuídas a uma variabilidade excessiva nos registos horários do dióxido de carbono, a Instituição Scripps de Oceanografia menciona apenas dois períodos sem observações: em 1964, quando o corte de financiamento de agências federais levou à suspensão das observações durante vários meses; e em 1984, na última erupção do Mauna Loa ocorrida entre 26 de Março e 29 de Abril, que também cortou a energia eléctrica até um gerador transportado para o observatório ter permitido retomar as operações.
Na última erupção do vulcão, a lava ficou a sete quilómetros de Hilo, o principal centro populacional (com 40 mil habitantes) da ilha do Havai, a maior do arquipélago.
Desde que a erupção de 1843, quando a actividade do Mauna Loa começou a ser bem documentada, o vulcão entrou em actividade 33 vezes. Esta é a 34ª. Na sua vizinhança, outro vulcão, o Kilauea, voltou a entrar em actividade desde Setembro de 2021. As erupções destes vulcões não são explosivas, ao contrário de outras. Estima-se que o Mauna Loa tenha começado as suas erupções entre há 600 mil e um milhão de anos, emergindo do fundo do mar há cerca de 300 mil anos. Por estes dias, acordou do sono de 38 anos e tem estado bem visível.