Talvez o mais correcto seja escrever que quem chegou à fase adulta foi a própria Adegamãe (a primeira vindima é de 2010) e não a chancela Terroir, nascida apenas em 2013, mas sete colheitas em nove anos (quatro brancos e três tintos) é tempo suficiente para conhecermos a personalidade daquela que é a marca premium da casa de Torres Vedras. E, de rajada, a coisa coloca-se assim: o Terroir branco será quase sempre a expressão máxima da casta Viosinho e a salinidade que consegue meter na garrafa, enquanto Terroir tinto terá de contar com o toque final de uma casta estrangeira, seja ela Merlot, Petit Verdot ou – de todas a mais luxuriante – a Cabernet Sauvignon.
Em 12 anos, a Adegamãe transformou-se num laboratório na região de Lisboa, por via do lançamento de vinhos feitos com castas regionais (Vital fermentado de forma menos clássica), castas nacionais (Viosinho, claramente), e castas internacionais, para onde se pede a atenção para o Riesling (com uma expressão aromática a fazer lembrar os grandes Riesling deste mundo) e para o Tinto Atlântico, que é algo completamente diferente do que se faz com Pinot Noir em Portugal, pelo facto de nos levar para um estilo clarete – e em bom.
O facto de só existirem quatro colheitas de Terroir branco e três de Terroir tinto revela o rigor com que Diogo Lopes trabalha na adega. O Adegamãe Terroir não resulta de uma fórmula uniforme de castas ou de uma parcela de vinha em particular. Resulta de uma selecção das melhores barricas de cada colheita, o que é um trabalho rendilhado e de grande exigência na adega.
Esta história da melhor selecção de barricas é sempre um mistério e um desafio. Um mesmo lote pode ser colocado em duas barricas provenientes da mesma tanoaria, com os mesmos tratamentos e provenientes do mesmo carvalho que isso não significa que o resultado final, em termos de perfil, seja igual, sendo que, num determinado ano, a barrica A pode destacar-se face à barrica B, e no ano seguinte ser exactamente o contrário. Esse carácter caprichoso da madeira está sempre a desafiar o enólogo.
Em todo o caso, na Adegamãe o trabalho de madeiras é minucioso, visto que Diogo Lopes tem feito, ao longo dos anos, testes com barricas do grupo Charlois, em particular com a marca Berthomieu, no sentido de perceber qual é a volumetria e a tosta que mais se adaptam aos seus vinhos. E é por isso que se pode afirmar que nas colheitas agora lançadas (2016 para o tinto e 2017 para o branco) nem se dá pela madeira. Lá que fez o seu trabalho, fez, mas não se notam aqueles aromas chatos e padronizados, que colocam os vinhos ao nível de um refrigerante que tanto pode ser feito em Torres Vedras como no Chile. Dir-se-á que cinco ou seis anos é tempo suficiente para ocorrer a integração da madeira com o vinho. É, mas só quando tudo isso é bem feito. O que menos falta por aí são vinhos com cinco ou sete anos que ainda cheiram a aduelas de carvalho.
Como é habitual nestes eventos, o lançamento das novas colheitas foi uma oportunidade para se provar todos os vinhos Terroir lançados até há data, um exercício que não só serve para perceber como evoluem os vinhos como nos dá a indicação do potencial de guarda desses mesmos vinhos.
Assim, em brancos, o Terroir 2013, o primeiro da colecção, tem as inevitáveis – e boas – notas minerais (pólvora), com toques citrinos e salgados. O Terroir 2014 é, do nosso ponto de vista, o melhor exemplar do que é um branco da Adegamãe: volume, untuosidade e salinidade que até faz lembrar um vinho criado no Pico. A colheita de 2016 pareceu-nos de início com algumas notas de redução, mas com o arejamento destacou-se pelas notas terrosas, a fazer lembrar cogumelos, com secura de boca.
Quanto a tintos, o Terroir 2012 está muito sério e destaca-se pelas notas especiadas e aromas de eucalipto, com aromas da casta Merlot e uma boca muito fresca. Um vinho com perfil internacional. Por outro lado, o tinto de 2015, ano de referência em quase todo o país, parece-nos demasiado maduro. Mas como tem a participação da Petit Verdot, que é uma casta que demora a imenso tempo a ficar civilizada (uns dez anos), talvez seja cedo para se beber este tinto. Talvez.
Portanto, e antes de apresentarmos nos novos Terroir, uma nota deve ser sublinhada: Se nos tintos parece ser necessário a presença de uma casta estrangeira para introduzir um certo carácter cosmopolita no vinho, no caso dos brancos a Adegamãe consegue demonstrar que a casta Viosinho encontrou em Torres Vedras (e noutros territórios mais atlânticos da região de Lisboa), um solário perfeito. Os brancos Terroir não são só Viosinho, mas a sua coluna vertebral é construída com base nessa casta branca duriense.
Nome Adegamãe Terroir Branco 2017
Produtor AdegaMãe
Castas Viosinho e Arinto
Região Lisboa IG
Grau alcoólico 13,5 por cento
Preço (euros) 49
Pontuação 95
Autor Edgardo Pacheco
Notas de prova Nesta fase o que mais se nota é a presença da casta Arinto, por via das notas cítricas, à mistura com aromas de flores e mel. Na boca é muito envolvente e untuoso, com o regresso de certos sabores alimonados e, cima de tudo, salinos. É uma pena ser bebido agora.
Nome Adegamãe Terroir Tinto 2016
Produtor AdegaMãe
Castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Cabernet Sauvignon
Região Lisboa IG
Grau alcoólico 14 por cento
Preço (euros) 50
Pontuação 95
Autor Edgardo Pacheco
Notas de prova Em matéria de aromas temos uma mistura de frutos pretos com notas de bosque e cogumelos e as sensações clássicas e marcantes do Cabernet Sauvignon (por menor que seja a sua percentagem no lote), mas é na boca que o vinho encanta. Pela finura, pelo carácter sedoso, pela frescura e pelo equilíbrio. É um tinto guloso que, este sim, já dá muito prazer agora.