Arte ou tortura? França debate o fim das touradas

Ao longo dos últimos anos, as touradas têm dividido a opinião da população em vários países. Agora, é na cidade de Arles, no Sul de França, que se inicia o debate que pretende pôr fim a esta prática.

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Toureiro durante um treino Reuters/ERIC GAILLARD
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Tourada é uma actividade importante em França Reuters/ERIC GAILLARD

Baptiste tem 16 anos e está a treinar para ser toureiro na cidade de Arles, no Sul de França. Para ele, os legisladores que querem banir esta actividade em todo o país não compreendem aquilo a que ele chama “arte”.

“Corrida é uma tradição, uma arte, uma dança com o touro”, disse Baptiste, um dos mais de dez alunos que aprendem a manusear a tradicional muleta vermelha na frente dos touros na escola de touradas de Arles.

Para os adeptos, a corrida em que o animal geralmente acaba morto com um golpe de espada dado por um matador em roupas brilhantes é uma tradição milenar a ser preservada. Por outro lado, para os críticos, é um ritual cruel que não tem lugar na sociedade moderna.

No último fim-de-semana, manifestantes a favor e contra a proibição marcharam em várias cidades do Sul de França onde a corrida ainda é permitida. Numa das faixas carregadas por um dos manifestantes, pode-se ler: “Corrida não é uma luta, é a execução de um inocente torturado.”

“Desde que [as touradas] existem, há pessoas que tentaram proibi-las”, disse Yves Lebas, presidente da escola de touradas de Arles. “Mas nunca conseguiram, porque as pessoas diziam ‘não’.”

De acordo com uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP), no Journal du Dimanche, quase 75% dos franceses apoiam a proibição das touradas e o parlamentar de esquerda Aymeric Caron apresentou um projecto de lei que, apesar de ser bastante improvável que seja adoptado, reacendeu um debate acalorado em França sobre o tema. Será debatido no Parlamento nesta quinta-feira e tem dividido a maioria dos partidos.

Para Caron, as excepções que permitem touradas em algumas partes de França e têm menos de mil touros mortos por ano devem ser descartadas. “Uma tradição não pode justificar moralmente uma prática”, disse.

Frederic Pastor, vereador responsável pelas corridas na cidade de Nimes, afirmou que “são 2 mil anos de história”. “Nós glorificamos o touro”, explicou. Para o município, os 14 espectáculos de touros organizados em Nimes todos os anos representam cerca de 60 milhões de euros em receitas.