António Costa lança plano para concretizar “paixão platónica da ferrovia”
“Nunca houve um documento deste tipo”, referiu o coordenador do Plano Ferroviário Nacional, Frederico Francisco, que quer que 20% das deslocações sejam feitas sobre carris em 2050.
O primeiro-ministro considera-a “uma estranhíssima paixão”, mas a discussão sobre infra-estruturas tem gerado um intenso debate público que teve mais um capítulo aberto nesta quinta-feira. Com o Plano Ferroviário Nacional apresentado esta quinta-feira, Portugal passará a ter um plano de médio e longo prazo para o caminho-de-ferro.
Com um horizonte temporal alargado, o plano procurará garantir a estabilidade no desenvolvimento da rede, apesar das mudanças de Governo e de administrações, quebrando com a política de “marcha à vista” em que as prioridades eram definidas no arranque de cada quadro comunitário de apoio.
A paixão que suscita este debate chega a ser, nas palavras de António Costa, “tão platónica que se aguardam décadas para a execução”. Este documento é apresentado pelo primeiro-ministro como “o relançamento da ferrovia como o grande esforço de investimento estrutural” para o país, salientando que este “não é um documento fechado” e que o Parlamento, “por definição, melhora o que o Conselho de Ministros apresenta”.
António Costa reafirmou, ainda, que o Governo está já a investir, estando “o Ferrovia 2020 em conclusão…”, corrigindo-se logo depois: “Ou pelo menos em andamento em velocidade de cruzeiro” – o programa acumula já mais de dois anos de atraso e corre o risco de não ser executado até ao final do próximo ano.
Para as cerca de duas centenas de pessoas que assistiam ao evento, António Costa voltou a defender a aposta num corredor internacional por Vilar Formoso para promover o policentrismo dentro da Península Ibérica em detrimento de “um monocentrismo (de Madrid)”, que “não é favorável” ao desenvolvimento do país.
“Nunca houve um documento deste tipo”, referiu o coordenador do Plano Ferroviário Nacional, Frederico Francisco. Multiplicar por seis o actual volume de tráfego ferroviário, garantindo para o comboio uma quota modal de 20% para os passageiros e 40% para as mercadorias em 2050, é o grande objectivo.
Já o ministro das Infra-estruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, diz que “este é o instrumento que faltava ao país” – e que as estradas já tinham desde os anos 80 –, permitindo “colocar no centro do debate nacional a importância da ferrovia”. O ministro defende a solução do comboio como a melhor para combater a crise climática, uma vez que “a ferrovia resolve vários problemas que a transição do automóvel a combustão para o automóvel eléctrico não resolve: como a falta de espaço e as horas perdidas no trânsito”.
O Plano Ferroviário Nacional segue agora para uma fase de discussão pública e tem como objectivo ganhar força de lei depois de aprimorado.