Porto/Post/Doc, pelo cinema e contra o sofá
Leonard Cohen dá o pontapé de saída para a nona edição do festival portuense, a decorrer desta quarta-feira e até 26 de Novembro no Passos Manuel e no Trindade e noutros espaços da Invicta.
Com a nona edição do festival de “cinema do real” a ter início esta quarta-feira, 16 de Novembro, e a decorrer até dia 26, Dario Oliveira, director do Porto/Post/Doc, é peremptório: “Tudo o que vai acontecer este ano é uma experiência, quase laboratorial, social.” E isto porque, para a primeira edição do evento portuense depois de dois anos afectados pela covid-19, é preciso “recuperar um público que perdemos para o sofá pandémico, as pessoas que deixaram de sair”.
Para esse efeito, o festival não hesitou em puxar de trunfos de peso. A abertura, esta noite (Coliseu do Porto, 21h30) faz-se com Hallelujah: Leonard Cohen, a Journey, a Song, documentário de Daniel Geller e Dayna Goldfine dedicado ao sucesso inesperado da canção de Leonard Cohen que se tornou um hino global. A competição internacional (oito filmes) propõe filmes do aclamado bielorusso Sergei Loznitsa ou do argentino Gastón Solnicki, a par do documentário de Claudia Müller sobre o prémio Nobel da Literatura Elfriede Jelinek. No Cinema Falado, competição dedicada ao cinema de língua portuguesa, exibem-se documentários como Águas do Pastaza, de Inês Alves, Viagem ao Sol, de Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias, Skola di Tarafe, de Filipa César e Sónia Vaz Borges, ou Margot, de Catarina Alves Costa, a par da premiada animação de Laura Gonçalves O Homem do Lixo.
O festival inclui também, este ano, a Semana do Cinema Europeu – Europa 61, um programa de 12 filmes oriundos de 12 países europeus onde se destacam obras do espanhol Jonás Trueba, do romeno Radu Muntean ou do irlandês Donal Foreman; um foco especial na neurodiversidade, através de um programa de filmes e debates – o já habitual Forum do Real – que abrangem títulos como Jaime, de António Reis, Pára-me de Repente o Pensamento, de Jorge Pelicano, ou Super Natural, de Jorge Jácome. Na competição de filmes musicais Transmission destacam-se Meet Me in the Bathroom, de Dylan Southern e Will Lovelace, sobre a cena musical nova-iorquina do início do século (Strokes, LCD Soundsystem, Interpol…), ou A Viagem do Rei, de João Pedro Moreira, sobre Rui Reininho. E especial atenção ao programa Nós, a Revolução, onde se exibem seis títulos fundamentais do cinema húngaro: Adopção (1975), Diário Íntimo (1983) e Diário para os Meus Amores (1987), de Márta Mészáros, e Os Oprimidos (1965), Salmo Vermelho (1971) e Por Electra (1974), de Miklós Jancsó.
Esta multiplicidade de propostas é pensada pela organização como essencial para aguçar o apetite de um público muito alargado e, sobretudo, formar um público para o futuro, nas palavras de Dario Oliveira: “Queremos ajudar a dar cultura cinematográfica e combater a iliteracia audiovisual”, sobretudo numa cidade onde, como aponta, “não existe uma Cinemateca”. Pelo menos enquanto o Batalha Centro de Cinema não abrir – e o Porto/Post/Doc só não acontece este ano na renovada sala da Baixa portuense porque o atraso na finalização do espaço atirou a inauguração (prevista para o próximo dia 8 de Dezembro) já para depois das datas do festival. Mas mudar-se-á para o Batalha em 2023. Este ano decorrerá nas salas estúdio do Trindade e do Passos Manuel, com prolongamentos ao Coliseu, Planetário do Porto, Casa Comum, Maus Hábitos, Auditório Ilídio Pinho (Escola das Artes) e, pela primeira vez, ao Café Ceuta.
No entanto – e sem cair em contradições – Dario Oliveira defende que o Porto/Post/Doc “não anda à cata de uma programação para cinéfilos, que já vêm naturalmente a uma semana de cinema como esta, no Porto ou noutras cidades”. “O que queremos é conquistar os mais novos, que estão cada vez mais longe das salas de cinema enquanto lugares de fruição e de aventuras sensoriais. Temos de usar essa ferramenta tão rica e tão popular e fazê-la viver de outras formas; tentar fazer de um festival aquilo de que as pessoas não estão se calhar à espera.”
Algo que se articula com a vontade de reconquistar o público que se “mudou para o sofá”. “Em cada edição do festival até à pandemia, tínhamos uma noção mais clara do trabalho que estávamos a fazer com os públicos”, explica o responsável. “Agora, estamos num período de experimentar novas fórmulas de irmos buscar as pessoas para virem ao festival. Não é uma questão apenas do Porto – desde o Norte da Europa à Espanha, sucede uma coisa muito idêntica. Estamos todos à procura de entender o que terão de ser os festivais nos próximos anos. E é essa a experiência que vamos fazer ao vivo este ano. Este festival não tem glamour, mas tem a ambição de ver as pessoas felizes e a discutir aquilo que viram.” A programação completa pode ser consultada no site oficial.