Restaurantes para encontros felizes entre o bacalhau e o loureiro
Além de terem na ementa fantásticos pratos de bacalhau, estes quatro restaurantes ficam em território da casta loureiro - que origina vinhos muito gulosos, que fazem casamento perfeito com o bacalhau
O Lagar de Valinhas, Ponte de Lima
Num antigo lagar de azeite, construído há muitos anos pelo bisavô do actual proprietário, nasceu, há quatro anos, um restaurante que aproveitou, com um restauro cativante, esse espaço acolhedor.
O exterior, bem tratado e muito rural, com o murmurar de pequenas quedas de água do rio Nevoinho a darem música campestre, não deixa antever, na sua simplicidade, o que se encontra lá dentro: a recuperação praticamente museológica da maquinaria e do ambiente daquela pequena fábrica de quando não havia electricidade e tudo era movido à força de água.
José Barros, chef e dono do restaurante, abriu-nos a carta, desvendando os quatro pratos de bacalhau que são o prato forte da casa: um bacalhau à Outono, assado no forno numa cama de cebola e alho acompanhado de batata a murro, grão-de-bico e castanhas; bacalhau confitado com broa, grelos e batata a murro; bacalhau à chefe, frito, acompanhado com puré e coberto de maionese (recriação do bacalhau à Zé do Pipo com uma maionese especial); e o tradicional bacalhau à Narcisa. Todos servidos em doses generosas. Polvo e bife do lombelo são opções para quem não gosta do fiel amigo.
Para acompanhar estes pitéus, o vinho que mais se vende é o loureiro, maioritariamente da Adega Cooperativa de Ponte de Lima, mas também da Quinta de Curvos.
Ao fim-de-semana, os clientes habituais são as famílias da região, enquanto de semana são empresários vindos de Viana do Castelo, Esposende e Barcelos. Mas o restaurante é também um marco no Caminho de Santiago, que passa a menos de 100 metros dali. Os peregrinos são muito bem acolhidos e têm uma carta especialmente pensada para eles.
Um restaurante simpático com uma carta simples, mas muito bem desenhada desde as entradas às sobremesas e um serviço simpático e eficaz.
O Lagar de Valinhas
Rua da Ponte Nova, 140 Valinhas, Vitorino de Piães (Ponte de Lima)
Tel.: 966505605
Facebook: Lagar Valinhas
Das 12 às 15h e das 19 às 22h
Encerra domingo ao jantar e à segunda
Preço médio: 25 euros
Taberna Afonso, Ponte de Lima
Na Taberna Afonso o bacalhau é rei, oficiado pelo cozinheiro Cláudio Gonçalves, irmão de Domingos, que gere a sala. Ambos são filhos de Álvaro Gonçalves, que em 1997 inaugurou o restaurante, em Poiares, concelho de Ponte de Lima, e que, nesta altura, está mais ligado à escolha e selecção dos produtos consumidos no restaurante e à escolha dos vinhos.
Referindo-se à localização, com alguma graça, Cláudio diz que o restaurante fica longe de tudo e, simultaneamente, perto de tudo, distando de Ponte de Lima e de Barcelos cerca de 15 quilómetros, com Viana do Castelo a 24 e Braga a 30.
Fica numa antiga moradia de dois andares, forte e rija, de paredes em granito, e conheceu várias obras de remodelação, as últimas realizadas recentemente, que lhe acrescentaram mais um corpo, moderno e desafogado. Como tantos outros restaurantes já referidos na Singular, a casa tem origem numa mercearia/taberna, aberta em 1941 por um senhor Afonso e o nome ficou.
A clientela, muito à base de empresários da zona, procura, em esmagadora maioria, pratos de bacalhau, tendo ganho justa fama o bacalhau, alto, sápido e a desfazer-se em lascas, assado na brasa, acompanhado de batatas a murro e grelos. Logo no couvert, para além do tradicional pão e azeitonas, surge uma manteiga de bacalhau, provavelmente para fazer aguar a boca e abrir o apetite para a feijoada de sames e os nuggets de bacalhau que são servidos como entradas (5 euros cada dose). O bacalhau assado na brasa, posta escolhida a preceito, é dose para duas pessoas e custa 39 euros.
Para quem não gostar de bacalhau (o que naquela casa configura altíssimo sacrilégio), Cláudio Gonçalves tem também várias peças de carne de boi (para quem desconhece, no Norte é boi o que no Sul é vaca), grelhadas com classe e mestria.
Quanto aos vinhos, cerca de 80% do consumo é de vinhos de lavra própria, marca Taberna Afonso, o loureiro de uma quinta que têm em Arcozelo, bem perto do rio Lima, enquanto o vinhão não é engarrafado, apenas servido à caneca, num estilo de taberna minhota.
Mas a garrafeira do Afonso não se esgota aqui. Têm em cave mais de 350 referências, incluindo vinhos de alvarinho e de outras castas da região dos Vinhos Verdes.
Taberna Afonso
Largo do Terreiro de S. Roque, 51, Poiares (Ponte de Lima)
Tel.: 965227056
Web: tabernaafonso.com
Das 12h às 15h e das 19h às 22h
Encerra ao domingo e na última segunda de cada mês
Preço médio: 35 euros
O Victor, Póvoa de Lanhoso
Victor Peixoto, dono do restaurante com o mesmo nome, na aldeia de São João de Rei, herdou do pai uma modesta taberna e, em 1971, transformou-a num restaurante onde o bacalhau manda e comanda. Actualmente conta com a ajuda das duas filhas, a Olga e a Angelina.
É uma casa de dois andares, toda em granito, com uma atmosfera intimista e rústica a lembrar-nos que estamos numa aldeia do Portugal rural do concelho de Póvoa de Lanhoso.
Os bolinhos de bacalhau e o bacalhau à Victor (assado na brasa, acompanhado de batatas a murro) ganharam fama, atraindo nomes tão famosos e conhecidos como o escritor brasileiro Jorge Amado, cliente habitual nas suas visitas a Portugal. “Não existe no país, no mundo, onde se coma tanto e tão bem quanto em Portugal”, escreveu a dada altura. “Não existe restaurante onde se coma melhor do que nesta pequena casa de pasto, escondida entre vinhedos e flores.”
Mas o autor de Gabriela, cravo e canela não foi o único intelectual seduzido pelo bacalhau do Victor. Também o escritor português David Mourão-Ferreira deixou uma mensagem: “Bacalhau assado eu já tinha comido, mas assim dourado e saboroso, como se grelhado assado no céu, é só aqui.”
Estas mensagens chegaram longe, pelos vistos, porque para além de empresários da zona e encontros de famílias, muitos espanhóis e brasileiros, na sua maioria jovens, constituem a clientela do Victor.
A escolha da carta é limitada: para além do “fiel amigo”, só está disponível costeleta de boi grelhada.
Quanto a vinhos, o restaurante tem uma escolha alargada e variada, inclusivamente uma boa colecção de alvarinhos, mas o que mais se vende é um loureiro/trajadura, produzido na Quinta Villa Beatriz, na Póvoa de Lanhoso, que engarrafa este vinho em exclusivo e com a marca do restaurante.
O Victor
Rua do Laranjal, 3, São João de Rei (Póvoa de Lanhoso)
Tel.: 253909100
Web: ovictor.pt
Das 12h30 às 16h e das 19h30 às 22h
Encerra domingo ao jantar
Preço médio: 25 euros
Arcoense, Braga
O restaurante Arcoense fica no meio de um bairro residencial de Braga, num sítio razoavelmente discreto. Talvez ajude se acrescentarmos que fica na freguesia de São Victor.
Foi fundado por Joaquim Barroso como snack-bar, tendo ganho a folgada dimensão que hoje tem quando a Direcção-Geral de Viação se mudou e o restaurante se pôde expandir para todo o rés-do-chão do prédio.
Actualmente, oficiam na casa três irmãs, Filipa, Carla e Sónia, filhas de Joaquim, enquanto este se ocupa da quinta que possuem em Póvoa de Lanhoso, onde plantam os legumes e criam porcos bísaros e frangos de raça escolhida a preceito, com que abastecem o restaurante. Para o clã se alargar ainda mais, diga-se que também Fernando, marido de Carla, trabalha na sala, enquanto na cozinha oficia a tia Zulmira, irmã da mãe.
Os bacalhaus são os ícones da casa, servidos em doses generosas. As receitas mais badaladas, para além das pataniscas da entrada, são o bacalhau lascado, o bacalhau à minhota e, no capítulo das carnes, o cabrito pingado – assado no forno com um tacho de arroz por baixo para onde a gordura vai caindo.
Da lista de sobremesas, o destaque vai para os claudinos, doce onde os pedaços de folhado de grande feitura são recheados com ovos-moles de igual valia.
No capítulo dos vinhos, os que mais vendem são do Douro, com os brancos da região dos Vinhos Verdes logo a seguir. O da casa é um saboroso 75% loureiro, 15% trajadura e 10% arinto, de aroma delicado, floral, com acidez contida, pouco álcool, muito gastronómico, de seu nome Encostas da Abadia, engarrafado propositadamente para o Arcoense. O tinto é o Quinta do Cerqueiral, um vinhão civilizado que vai bem com o cabrito. Há mais meia dúzia de possibilidades de escolha de Vinhos Verdes.
Num espaço capaz de albergar 120 pessoas, a decoração é clássica, sóbria, de bom gosto e o atendimento é muito atento e cordial.
Arcoense
Rua Engenheiro José Justino Amorim, 96, Braga
Tel.: 253278952
Web: arcoense.com
Das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h
Encerra domingo ao jantar
Preço médio: 45 euros
Este artigo foi publicado no n.º 7 da revista Singular.