O Dia Mundial dos Pobres

A iniciativa do Papa Francisco não é uma alternativa ao Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, mas um complemento desse dia.

Nos dias 12 e 13 de Novembro de 2016, o Papa Francisco encontrou-se, a seu pedido, com milhares de pobres no Vaticano. Do nosso país, foram 114, uma das maiores delegações. Em cada um dos dias, houve um encontro com Francisco. No primeiro, tiveram a oportunidade de abraçar o Papa; um representante de cada país esteve sentado ao lado dele; alguns contaram-lhe as suas histórias de vida; sentiram Francisco abrir-lhes o coração e dizer-lhes: “Peço perdão em nome dos cristãos que, perante um pobre ou uma situação de pobreza, olham para o outro lado.” No segundo, o encontro foi na Basílica de S. Pedro, onde os pobres participaram na missa celebrada pelo Papa, sentados nas cadeiras onde se sentam os cardeais e os bispos e alguns deles foram acólitos e leitores.

No dia 12, a delegação portuguesa participou na missa, presidida por D. Carlos Azevedo, na igreja de S. Luís dos Franceses, por ser pequena a de S. António dos Portugueses. Nessa mesma hora, estavam, em Lisboa, a ser levados ao cemitério os restos mortais de um grande cidadão português, católico coerente e meu amigo, Alfredo Bruto da Costa. D. Carlos informou os presentes de quem era Bruto da Costa. As assertivas e justas considerações feitas pelo celebrante foi a melhor forma de os presentes reconhecerem o labor perseverante e corajoso da pessoa referida, em defesa dos pobres e pela erradicação da pobreza.

Talvez não me engane ao afirmar que foi a energia vivificante que resultou daqueles dois encontros que levou Francisco a escolher o penúltimo domingo, antes do início do Advento, como Dia Mundial dos Pobres. Neste ano, é amanhã. Como é óbvio, trata-se de uma determinação destinada aos membros da Igreja Católica. Todavia, se entendermos bem as intenções do Papa, poderemos aceitar que este dia pode ser acolhido por quem se interessa por respeitar e defender a dignidade da pessoa do pobre.

A iniciativa do Papa Francisco não é uma alternativa ao Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, mas um complemento desse dia. A ONU tem como finalidade ajudar a tomar consciência de que a pobreza é um flagelo desumano, que compromete o desenvolvimento dos povos e que é possível erradicar com o contributo de toda a humanidade. O Dia Mundial dos Pobres é uma oportunidade para estar com os pobres e concretizar procedimentos que levem a vê-los como pessoas, e com eles, encontrar caminhos para se libertarem da situação em que se encontram.

É verdade que a erradicação da pobreza passa por medidas de políticas mais globais e estruturantes. Porém, há determinadas situações de pobreza como a geracional, a “pacificamente” aceite, como se de uma fatalidade se tratasse, a que se torna mais complexa por sofrer de maior rejeição social, e que, por isso, necessita de medidas prévias. Para os pobres que se encontram nas situações referidas, há duas metas a atingir: elevar a auto-estima da pessoa pobre para que saiba defender a sua dignidade e valorizar as suas capacidades; confiar em si e nos outros para que assuma compromissos com responsabilidade. Tudo isto só se alcança com encontros personalizados e frequentes com os intervenientes no combate à pobreza.

O Dia Mundial dos Pobres deveria ser uma oportunidade para experimentar, o que tem de ser uma prática comum, que é a de abrir as nossas instituições e igrejas aos pobres e escutá-los, porque já está provado que não resulta elaborar novos projectos de vida para os pobres sem os ouvir.

Para o dia que a Igreja Católica assinala amanhã, o Papa escreve uma mensagem. Na deste ano, ele afirma: “Ninguém deveria dizer que se mantém longe dos pobres, porque as suas opções de vida implicam prestar mais atenção a outras incumbências.”

Coloquemos então nas nossas incumbências maior proximidade aos pobres.

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