Muitas mulheres com autismo e PHDA só têm diagnóstico em adultas — porquê?

Mulheres com autismo e Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção podem aprender ao longo do tempo a esconder os sintomas — o que pode levar a diagnósticos errados ou atrasados.

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Blubel/Unsplash

Ao longo da última década, tem havido um aumento no número de adultos diagnosticados com autismo e PHDA (Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção, mais conhecida como ADHD, na sigla em inglês, ou TDAH, em português do Brasil). Há muitos factores que podem explicar este aumento, incluindo uma maior sensibilização para ambas as condições, um alargamento dos critérios de diagnóstico e mudanças de percepção em relação a quem o autismo e a PHDA afecta.

Mas ainda que o autismo e a PHDA continuem a afectar um vasto número de homens, muitas mulheres estão a ser diagnosticadas com estas condições já em adultas. Mais uma vez, este aumento deve-se, provavelmente, a variados factores. Mas as redes sociais podem estar a ter um papel nisto, com as mulheres a usarem plataformas como o Twitter e o TikTok para lançar discussões e partilhar experiências.

Algo comum nas experiências que muitas mulheres partilharam nas redes sociais é o tempo que esperaram pelo diagnóstico. Muitas falam de quando foram ignoradas por profissionais de saúde, que diziam peremptoriamente que elas “não eram autistas” ou que os seus problemas eram “relacionados com ansiedade e não com PHDA”. Para muitas, não saber porque se sentiam diferentes dos outros deixava-as confusas e até depressivas.

Nada disto é surpreendente, uma vez que o autismo e a PHDA passam despercebidos ou são mal diagnosticados em mulheres. Cerca de 80% das mulheres com autismo têm um diagnóstico errado — normalmente são diagnosticadas com condições como transtorno de personalidade borderline, distúrbios alimentares, bipolaridade e ansiedade. Desconhece-se quão frequentemente as mulheres com PHDA são diagnosticadas incorrectamente.

Há muitas razões que podem explicar o motivo. A primeira é que os sintomas de autismo e PHDA são diferentes em mulheres e homens. Outras condições comuns em pessoas com autismo e PHDA (como a ansiedade e depressão) podem fazer parecer que esses sintomas são resultado dessas mesmas condições. Mulheres com autismo e PHDA podem também aprender ao longo do tempo a esconder os sintomas — o que pode levar a diagnósticos errados ou atrasados.

Outro grande problema é que o autismo e a PHDA são frequentemente vistos como “distúrbios de homens”. Ainda que seja verdade que ambas as condições afectam uma maior proporção de homens do que mulheres, isto também significa que as ferramentas utilizadas actualmente para diagnosticar pessoas com estas condições tendem a não reconhecer os sintomas das mulheres tão prontamente.

Raparigas com autismo podem ter dificuldades sociais menos óbvias e tendem a ter uma comunicação verbal melhor do que rapazes com autismo. As raparigas com PHDA não são tão hiperactivas e podem não ter o mesmo comportamento disruptivo que os rapazes têm. Isso significa que muitas raparigas com estas condições podem passar despercebidas aos pais, professores e até profissionais de saúde, já que os critérios de diagnóstico não são os mesmos que os seus sintomas.

O diagnóstico certo

Quando não é correctamente diagnosticado e tratado na infância, raparigas com autismo ou PHDA podem ter dificuldades escolares, problemas de comportamento e dificuldades em fazer amigos. À medida que vão crescendo, isto pode dificultar a sua capacidade de corresponder às exigências profissionais no local de trabalho. Também pode levar a ansiedade e stress porque não se sentem compreendidas, não percebem porque acham certas experiências tão difíceis, ao mesmo tempo que lidam com outros problemas de saúde mental, como a depressão e distúrbios alimentares.

Num estudo com mulheres que não estavam diagnosticadas com PHDA ou autismo até à idade adulta, muitas participantes reportaram sentir que estavam “erradas” e que não encaixavam. Outras disseram que tentaram mudar as suas roupas e personalidade para se tentarem enquadrar melhor. Mas, depois do diagnóstico, as participantes disseram perceber melhor porque se sentiam como sentiam e tinham um novo sentido de valor pessoal depois de serem diagnosticadas.

O diagnóstico pode, por vezes, ter um efeito negativo — algumas mulheres temem ser discriminadas, que pensem mal delas ou que as menosprezem. Mas, em geral, receber finalmente o diagnóstico correcto faz com que a maioria das mulheres se sinta empoderada e tenha melhor qualidade de vida.

Se achas que tens autismo ou PHDA e nunca foste diagnosticada, há muitas coisas que podes fazer. Recursos online, como a AADDUK, ADHD Aware e National Autistic Society dão bons conselhos e sugestões sobre como abordares o tema com o teu médico, e que apoios ou clínicas especializadas existem na tua área.

Se estás a pensar ter uma consulta com o teu médico de família, pode ajudar levar alguém de quem gostas contigo, para te apoiar e ajudar a explicar porque achas que tens autismo ou PHDA. E isso pode ser tão simples como dizer que leste sobre as condições e que experienciaste sintomas semelhantes.

Uma vez que nem todos os médicos de família podem ter um conhecimento aprofundado sobre o autismo ou PHDA, é importante apresentares as tuas experiências o mais claramente possível. Usa exemplos da vida real se te sentires confortável. Se o médico não te encaminhar depois da consulta, pede uma nova ou tenta ter consulta com outro médico.

Uma maior consciencialização dos sintomas e comportamentos associados ao autismo ou PHDA em raparigas e mulheres é importante na forma como ambos são diagnosticados — e, espera-se, deverá significar que mais raparigas e mulheres recebem a ajuda de que precisam. As redes sociais podem ser importantes para ajudarem as pessoas a aprender mais sobre estas condições, e para as conectarem com experiências semelhantes.


Exclusivo P3/The Conversation
Alokananda Rudra é professora assistente em Condições do Neurodesenvolvimento na Universidade de Durham​

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