Vacinação contra a covid-19 evitou mais de 12 mil mortes e dois milhões de dias de internamento

Vacinação foi o tema central da reunião entre peritos e políticos no Infarmed. Especialistas pedem que vacinação de reforço não pare e que seja criada “uma estratégia inequívoca de imunização”.

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Vacinação contra a covid-19 evitou mais de 130 mil dias de internamento em cuidados intensivos Miguel Manso

A vacinação contra a covid-19 evitou mais de 12 mil mortes e mais de dois milhões de dias de internamento. As estimativas são do epidemiologista Henrique Barros e foram apresentadas esta manhã em mais uma reunião de peritos e políticos no Infarmed.

“Podemos e devemos actualizar e olhar para o impacto da vacinação em Portugal”, disse o especialista, avançando alguns números, como já tinha feito em reuniões anteriores: previu-se mais de um milhão de infecções, mais de dois milhões de dias de internamento e 130 mil dias de internamento em unidades de cuidados intensivos. “Preveniram-se 12 mil óbitos, mas seguramente mais do que isso porque este é o valor mais conservador, atendendo à diminuição que fomos observando da letalidade. Esta é a mensagem essencial do esforço que foi a vacinação e da importância que a vacinação continuará a ter”.

A vacinação e os seus benefícios e resultados foram o tema central da reunião que tinha como objectivo discutir a situação epidemiológica do país, com a aproximação do Inverno. Henrique Barros disse, no entanto, que a vacinação como única estratégia de resposta tem “limitações”, entre estas a possibilidade de escape imunitário pelo aparecimento de novas variantes, a perda individual e comunitária da imunidade, a hesitação vacinal e o acesso desigual à vacinação.

Para o epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), é essencial que haja uma estratégia inequívoca de imunização, quer a nível nacional, quer a nível internacional. “É preciso que seja coordenada e que se ultrapasse o acesso desigual à vacinação porque isso é o melhor reforço, o melhor promotor da hesitação vacinal”, aponta.

Ainda sobre as vacinas, referiu que “não há evidência científica para cortar a vacinação numa determinada idade”. “Havendo vacinas disponíveis como nós temos, nada justifica que as pessoas não possam vacinar-se qualquer que seja a sua idade, eu diria mesmo, devem vacinar-se porque temos a capacidade logística de responder a essa vontade. De outra forma, estamos a promover a hesitação vacinal”, apontou.

O perito disse também que há um conjunto de medidas que devem ser mantidas em todas as alturas “para nos proteger”. “A primeira é ficar em casa quando estamos doentes. Não fazer aquilo que sempre fizemos que era continuar a funcionar socialmente estando doente, tendo sintomas. Depois, manter a lavagem das mãos, alguma distância física, utilizar a máscara sobretudo quando estamos sintomáticos e em algum risco e mantê-la claramente nas unidades de saúde, nos espaços de grande risco como é o atendimento de uma urgência”.

Também Carlos Alves, médico infecciologista e outro dos especialistas presentes na reunião, disse que existe um “grande fosso” entre pessoas não vacinadas e os não-vacinadas. “É muito importante que as pessoas interiorizem esta mensagem: estar vacinado faz a diferença. É importante fazer reforços. Aumentar um pouco mais a protecção fará muita diferença em pontos concretos e agora começamos a prever melhor quando vão surgir os picos, onde vão surgir e as pessoas que mais precisam deles, começando por aí e depois alegando a todos os que possam beneficiar”, referiu.

O médico diz ainda que as vacinas continuam a ser eficazes no que é “importante": a diminuição da gravidade da doença. “Entre quatro a seis meses, há um decréscimo progressivo da imunidade para níveis próximos do pré-reforço, não é voltar à estaca zero”.

João Paulo Gomes, investigador do Instituto de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) apresentou três estudos, o primeiro dos quais realizado em Portugal pelo INSA e pela DGS sobre a linhagem BA.5 focado na população com mais de 80 anos vacinada com as duas primeiras doses contra a covid-19. Os resultados mostraram que, após a toma da segunda dose, a vacina original conferia 81% de protecção contra hospitalização e 82% de protecção contra a morte — resultados em linha com outros estudos portugueses. “Mesmo tendo em circulação estas variantes mais transmissíveis, o processo de vacinação com a vacina original é estupendo e tem uma eficácia incrível”, assegurou.

Vacinação com a “dose de Outono” continua

O coordenador do Núcleo de Apoio ao Ministério da Saúde, coronel Carlos Penha Gonçalves, apresentou também números sobre a campanha sazonal de vacinação da covid-19 e gripe. Mais de 1,8 milhões de portugueses já foram vacinadas contra a covid-19 (52% das pessoas acima dos 60 anos já estão vacinadas). Quanto à gripe, 1,8 milhões de pessoas já estão protegidas com a vacina (61% das pessoas acima dos 65 anos já a receberam).

“Neste momento, a vacinação contra a covid-19 desta dose sazonal abrangeu 69% da população com mais de 80 anos, 68% entre os 70 e 79 e 31% entre os 60 e os 69 anos. Chamamos à vacinação cerca de 171 mil pessoas com comorbilidades, a maior pare agendadas através dos sistemas de saúde. Estamos no ritmo em que estávamos a pretender vacinar e estamos a cumprir esse ritmo”, disse o responsável, apontando que a vacinação contra a gripe também decorre dentro do previsto.

No que diz respeito aos lares e instituições da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, Penha Gonçalves explicou que já foram visitadas 99% das 3665 instituições identificadas e que foram vacinadas 154 mil pessoas contra a covid-19 (entre utentes e profissionais) e cerca de 160 mil contra a gripe. Em relação ao processo de agendamento geral, faltam cerca de 600 mil pessoas para agendamento da vacinação, um processo que “poderá ser terminado em duas ou três semanas”. Com Filipa Almeida Mendes

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