Autoeuropa: greve à vista por aumento extraordinário de salários

Trabalhadores entregam pré-aviso de paralisação parcial de duas horas por turno nos dias 17 e 18. Exigem aumentos que cubram a inflação. Empresa oferece antes um prémio único de 400 euros.

Foto
Miguel Manso (Arquivo)

Está à vista uma greve no maior grupo exportador nacional. Os trabalhadores da Volkswagen Autoeuropa aprovaram uma paralisação parcial nos dias 17 e 18 de Novembro, em nome da luta por aumentos extraordinários imediatos que levem a empresa a partilhar os resultados “de um dos melhores anos de sempre” da fábrica de Palmela e assim minorar a perda de poder de compra devido ao aumento da inflação.

“A bola está do lado da empresa”, resume Rogério Nogueira, coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT). A administração propõe dar um prémio extraordinário de 400 euros em Novembro para ajudar os cerca de 5100 trabalhadores que exercem actividade nesta unidade de Palmela.

Essa solução foi rejeitada pelos trabalhadores que, ontem e hoje, aprovaram em plenário uma moção proposta pela CT em que exigem o regresso à mesa das negociações ou, em alternativa, o regresso às greves na Autoeuropa – algo que não acontece desde 2017.

Os trabalhadores querem fechar um acordo ainda este mês, mas exigem um aumento extraordinário imediato de 5%, a pagar em Dezembro e com retroactivos a Julho, acrescido de um novo aumento extra em 2023 na proporção necessária para cobrir a taxa de inflação final de 2022.

A empresa fez um aumento de 2% este ano, com uma subida mínima de 30 euros, ao abrigo do Acordo de Empresa aprovado por referendo em Março. Esse acordo deixava em aberto a possibilidade de revisão salarial “nas próximas negociações” que levariam em conta “a inflação passada”.

No entanto, de então para cá, as condições mudaram drasticamente, defende a CT. Há a inflação e há, sobretudo, uma revisão das metas de produção, que melhoraram em 15% já este ano.

Em Março, a expectativa era uma produção na ordem dos 200 mil veículos em 2022, mas de acordo com a CT, os dados já apontam para uma produção este ano na ordem dos 230 mil veículos. A confirmar-se, será o segundo melhor ano de sempre, depois do recorde de 254 mil unidades em 2019 e uma aproximação aos valores de produção pré-pandémica.

Isso deve-se ao sucesso comercial do modelo T-Roc, que o grupo alemão produz para todo o mundo em Portugal, em regime exclusivo. “O T-Roc está entre os carros mais vendidos na Europa, destacando-se quer entre todas as marcas quer nos modelos do grupo”, salienta a moção votada nas últimas horas. “A Autoeuropa prepara-se para atingir um dos seus melhores anos de sempre na sua história e todos os trabalhadores são os grandes obreiros desses resultados e, como tal, merecem ser reconhecidos.”

A empresa propôs uma compensação em forma de pagamento único, um prémio de 400 euros para todos, por igual, a pagar este mês. Mas a oferta foi rejeitada.

Exemplificando a reivindicação dos trabalhadores: um salário ilíquido de mil euros seria aumentado em 50 euros em Dezembro, mês em que o trabalhador receberia mais 250 euros (50 euros de aumento por cada mês desde Julho). Em Janeiro de 2023, acresce o aumento de 2% previsto no acordo de empresa, acrescido da percentagem que seria necessário para cobrir o valor da inflação. Assim, se esta taxa ficar nos 8%, o aumento extraordinário em 2023 seria de mais 1%.

Se a direcção da fábrica continuar “intransigente”, diz a moção aprovada nos plenários que tiveram “participação muito forte”, então os trabalhadores avançam para greves de duas horas por equipa, nos dias 17 e 18, com o seguinte horário:

  • Turno A: 17/11 – 15h20-17h20
  • Turno D: 18/11 – 23h40-1h40
  • Turno C: 18/11 – 7h-9h
  • Turno B: 18/11 – 15h20-17h20

“Os pré-avisos de greve estão entregues. Cabe à empresa dar o passo seguinte. Para manter paz social tem de haver cooperação, os trabalhadores fizeram tudo e a empresa não foi ao encontro do que pretendíamos. Cabe à empresa decidir se quer manter ou não a paz social”, sintetiza Rogério Nogueira.

Todos os caminhos são possíveis, anota o mesmo representante. Se a empresa voltar às negociações – e desde o fim de Outubro, quando apresentou a sua proposta, não disse mais nada – a paralisação parcial da próxima semana ainda pode ser travada, desde que haja um entendimento.

Caso contrário, mantém-se o protesto e, enquanto durar este braço-de-ferro, a CT está “mandatada para definir novas formas de luta”, como se lê na moção.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários