Bolsa D. Manuel de Mello atribuída a investigações sobre lúpus e doença de Alzheimer

Já são conhecidos os vencedores da Bolsa D. Manuel de Mello 2021 e 2022. Conversámos com os autores dos projectos vencedores, os jovens investigadores Patrícia Costa Reis e Tiago Gil Oliveira.

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Promovida pela Fundação Amélia de Mello e pela CUF há já 15 anos, a Bolsa D. Manuel de Mello, no valor de 50 mil euros, destina-se a premiar jovens médicos que desenvolvam projectos de investigação clínica, no âmbito das unidades de investigação e desenvolvimento das Faculdades de Medicina portuguesas.

A Cerimónia de Entrega da Bolsa D. Manuel de Mello deste ano, que decorre hoje, 11 de Novembro de 2022, no Hospital CUF Tejo, reveste-se de uma dupla importância, pois além do vencedor de 2022 - Tiago Gil Oliveira, investigador na Escola de Medicina da Universidade do Minho – é também distinguida Patrícia Costa Reis, a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que recebeu o prémio em 2021 e que, por força da pandemia, não tinha tido ainda o reconhecimento público.

Os trabalhos premiados abrem caminho para um melhor diagnóstico da doença de Alzheimer e uma maior qualidade de vida dos doentes com lúpus.

Melhorar o diagnóstico da doença de Alzheimer

Brain imaging determinants of Alzheimer’s disease neuropathology” é o título do projecto de Tiago Gil Oliveira, que não esconde a satisfação pelo reconhecimento. “É sempre um momento de felicidade ver o nosso trabalho reconhecido e, acima de tudo, conseguir os recursos para colocar em prática as ideias que gostávamos de testar enquanto equipa de investigação”, confessa o jovem investigador, que lidera uma equipa de oito pessoas, e que agora dispõe dos meios para “perceber, através de ressonância magnética, quais as regiões do cérebro que são mais susceptíveis ou mais resistentes a doenças neurodegenerativas, e porquê, tendo como o foco a doença de Alzheimer (DA).”

Nos próximos dois anos, esta equipa pretende cumprir três grandes metas: “Avaliar as alterações de volume das diferentes regiões do cérebro e verificar de que modo é que estas se correlacionam com os aspectos da neuropatologia da DA; realizar um estudo detalhado do hipocampo para identificar quais as sub-regiões mais afectadas com a DA; e entender de que maneira é que o contraste entre a substância cinzenta e a substância branca está alterado na doença.”

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“O nosso grande objectivo é identificar assinaturas imagiológicas que nos permitam melhorar o diagnóstico da doença de Alzheimer e, com isso, melhorar a escolha dos doentes que depois são encaminhados para ensaios clínicos ou aqueles que poderão beneficiar de outras abordagens terapêuticas mais dirigidas” Tiago Gil Oliveira, investigador na Escola de Medicina da Universidade do Minho e vencedor da Bolsa D. Manuel de Mello 2022

De referir que este projecto conta com a colaboração de dois centros nos EUA, o Mount Sinai Hospital e a Universidade de Washington, que disponibilizam o acesso aos dados imagiológicos dos doentes antes de estes falecerem, que são depois comparados com o diagnóstico confirmado anatomopatologicamente.

Em suma, explica o investigador, “o nosso grande objectivo é identificar assinaturas imagiológicas que nos permitam melhorar o diagnóstico de diferentes doenças neurodegenerativas, nomeadamente da DA, e, com isso, melhorar a escolha dos doentes que depois são encaminhados para ensaios clínicos ou aqueles que poderão beneficiar de outras abordagens terapêuticas mais dirigidas”.

Doentes com lúpus têm leaky gut

O projecto vencedor de 2021, “Exploring the link between diet, microbiome, gut permeability, metabolomics and disease activity in Systemic Lupus Erythematosus”, em desenvolvimento há cerca de um ano, já dispõe de resultados preliminares. “A Bolsa D. Manuel de Mello foi fundamental para conseguirmos pôr em marcha e estarmos já numa fase final deste projecto que avaliou parâmetros como a dieta, a actividade física, a microbiota e a permeabilidade intestinal de doentes com lúpus, comparando os resultados com os de pessoas saudáveis”, salienta Patrícia Costa Reis, que conta uma pequena equipa de mais dois elementos e com a “generosa colaboração de vários outros investigadores”.

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“Constatámos que os doentes com lúpus sofrem realmente de disbiose e verificámos, de uma forma muito clara, que estes doentes têm o que chamamos de leaky gut, uma maior permeabilidade intestinal, o que permite a passagem mais facilitada de componentes de microorganismos que podem realmente participar na ativação crónica do sistema imunitário” Patrícia Costa Reis, investigadora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e vencedora da Bolsa D. Manuel de Mello 2021

“O lúpus tem múltiplas manifestações e nós já sabemos muito sobre os mecanismos da doença, mas falta-nos saber muito mais. E o nosso principal objectivo foi avaliar se a integridade da parede intestinal tem ou não alguma relação com a actividade do lúpus e se é ou não importante para a doença”, explica a investigadora, acrescentando que estudos em modelo animal e alguns trabalho que já realizou, “mostravam que as mulheres com lúpus apresentavam mais lipopolissacarídeos (LPS) na microbiota, ou seja, tinham uma barreira intestinal mais frágil que permitia a passagem de componentes de partes bacterianas para a circulação, levantando a hipótese da existência de uma activação crónica do sistema imunitário”.

E, após avaliação da permeabilidade intestinal e análise posterior da actividade da doença, “constatámos que os doentes com lúpus sofrem realmente de disbiose, e, além disso, verificámos, de uma forma muito clara por variadíssimos marcadores, que estes doentes têm o que chamamos de leaky gut, uma maior permeabilidade intestinal, o que permite a passagem mais facilitada de componentes de microorganismos que podem realmente participar na activação crónica do sistema imunitário”, sublinha Patrícia Costa Reis.

A aplicação prática deste conhecimento está agora mais perto, e “o objectivo será, no futuro, avançar com ensaios clínicos que testem os novos fármacos já disponíveis que melhoram a integridade da barreira intestinal e perceber se poderão ajudar a controlar o lúpus”.

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