“Mouth taping”: o novo desafio do TikTok que está a preocupar os profissionais de saúde

Um método simples que diz garantir melhorar o bem-estar e a qualidade do sono tem sido alvo de alertas dos profissionais de saúde sobre os riscos envolvidos.

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A rede social tiktok tem sido marcada por inúmeros desafios virais perigosos Reuters/DADO RUVIC

Tapar a boca com fita-cola, de maneira a que, quando se vai dormir, se respire apenas pelo nariz. Este é o novo desafio na rede social TikTok que está a preocupar os profissionais de saúde. Chama-se Mouth taping”, conta já com milhares de vídeos e a sua hashtag tem mais de 38 milhões de visualizações.

O pediatra Hugo Rodrigues alerta para alguns dos riscos inerentes à utilização deste método, nomeadamente o risco de asfixia e as alterações que ocorrem na mecânica da respiração. “É importante perceber que nos habituamos a respirar de determinada forma enquanto dormimos. Ao alterar isso de um momento para o outro pode resultar numa respiração menos eficaz”, justifica.

O método anunciado por inúmeros influencers da plataforma como capaz de melhorar o bem-estar e a qualidade do sono conta com vídeos que datam já do início de 2022, mas não possui comprovação científica dos benefícios que advoga.

Margarida Gaspar de Matos, psicóloga especialista em adolescentes e jovens, aconselha qualquer indivíduo que acredite possuir problemas de sono a optar por consultar um profissional de saúde e não recorrer a práticas como esta. “Este desafio é particularmente complexo dado que a apneia do sono se trata de uma doença que necessita de ser tratada por profissionais”, diz.

Mouth taping” é um entre os inúmeros desafios que surgiram nas redes sociais e que se tornaram virais entre os jovens. Entre outros, é possível recordar também o desafio “Blackout Challenge”, que viralizou na mesma rede social, no ano passado, tendo sido apontado como a razão para a lesão que levou à morte de Archie Battersbee, o menino inglês de 12 anos que morreu em Agosto passado.

Os profissionais de saúde consideram que algumas das razões para a participação nestes desafios que possuem uma forte adesão por parte dos “adolescentes em idades mais precoces, até aos 15 ou 16 anos”, como diz o pediatra Hugo Rodrigues, passe por desejar sentir-se incluído entre os seus pares, pela necessidade de uma gratificação imediata e pela estimulação e gosto pelo risco.

Rute Agulhas, psicóloga clínica e forense, alerta para o facto de estarmos perante mais um desafio “que pode representar uma situação de perigo para os jovens, na medida em que, à semelhança de anteriores, pode colocar em causa a sua vida.”

A viralização deste desafio comprova, mais uma vez, a necessidade de um sentido crítico em relação ao conteúdo consumido na Internet. “O grande problema deste método é ser feito sem qualquer preparação prévia e sem se saber o que se está a fazer, e pior ainda associado a uma trend e não a um aconselhamento médico”, diz Hugo Rodrigues.

Atenção dos pais

Torna-se, assim, fundamental com a recorrente criação de novos desafios que podem colocar em risco a saúde dos jovens estar-se mais atento ao conteúdo a que estamos sujeitos no dia-a-dia. Nesse sentido, a psicóloga Rute Agulhas sublinha a importância dos pais tomarem conhecimento “destes desafios e dos riscos que envolvem, para que possam, não apenas estar atentos e supervisionarem adequadamente a vida online dos filhos, como também conversar com estes de uma forma clara e honesta sobre estes temas.”

Pensando nas possíveis preocupações que podem surgir entre os pais, Margarida Gaspar de Matos aconselha a que se privilegie ouvir os mais novos de forma a compreender as ligações que as crianças e adolescentes possuem com os influencers a que assistem e também tentarem interessar-se pelo conteúdo que os filhos consomem, antes de os aconselhar.

No entanto, a especialista salienta também que o contacto permanente com as redes sociais permite aos jovens adquirir algum sentido crítico e literacia digital em relação aos conteúdos que vêem.

Esta literacia deve ser trabalhada em conjunto com os pais, mas também com as escolas que possuem um papel fundamental “no sentido de ajudar os alunos, envolvendo os pais, a aumentar conhecimentos sobre este tipo de situações e a promover competências para saberem identificar possíveis situações de risco ou perigo e saberem como lidar com as mesmas”, enumera Rute Agulhas.

A psicóloga clínica considera ainda fundamental a responsabilização das redes sociais sobre o conteúdo que permitem que seja partilhado em grande escala nas suas plataformas.


Texto editado por Bárbara Wong

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