Violência doméstica: morreram mais mulheres nos primeiros nove meses deste ano do que em 2021

Em nove meses 20 mulheres foram mortas. Em todo o ano passado, foram 16 e ainda cinco homens e duas crianças. As queixas à PSP e GNR atingiram um novo máximo no terceiro trimestre deste ano?.

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Nelson Garrido

Nos primeiros nove meses deste ano, 20 mulheres e uma criança foram assassinadas em contexto de violência doméstica, de acordo com os dados do Governo publicados ontem. Ao contrário de anos anteriores, até ao final de Setembro deste ano não havia homens entre as vítimas de homicídio por violência no casal.

Este balanço provisório de 20 mulheres mortas significa que mais mulheres até Setembro foram assassinadas neste contexto do que em todo o ano de 2021. No ano passado, em 12 meses, foram 16 as mulheres mortas de um total de 23 pessoas; houve ainda cinco homens e duas crianças assassinados.

Ainda no que respeita a dados anuais, nos 12 meses de 2020 foram 32 as mortes em situações de violência doméstica, 27 das quais mulheres, duas crianças e três homens; já em 2019 houve 35 pessoas mortas, total que inclui 26 mulheres, uma criança e oito homens.

Em alta estão igualmente as queixas à PSP e GNR, que atingiram um novo máximo no terceiro trimestre deste ano​. Com um registo de 8867 ocorrências reportadas a estes dois orgãos de polícia criminal entre Julho e Setembro deste ano, aumenta para 23.230 o número de denúncias apresentadas entre Janeiro e Setembro, o que supera dados registados nos mesmos nove meses dos três últimos anos.

Nos primeiros nove meses de 2019, houve 22.362 queixas entregues, enquanto nos anos seguintes, 2020 e 2021, esses registos (de Janeiro a Setembro) chegaram aos 21.618 e 19.781 respectivamente.

O Relatório Anual da Segurança Interna de 2021, publicado em Maio, lembrava, uma vez mais, que o crime de violência doméstica contra cônjuge ou ex-cônjuge tem sido, de todos, aquele que motiva mais queixas às polícias.

Mesmo assim, quando há dois meses as queixas já mostravam uma tendência ascendente, a investigadora Dalila Cerejo referia que “a leitura que vamos fazer destes dados será sempre parcial e incompleta porque na realidade sendo estas as denúncias que chegam às forças policiais são a ponta do icebergue”. Muitas situações não são denunciadas, acrescentava ao PÚBLICO a professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Observatório Nacional de Violência e Género (CICS.NOVA).

E concluía: “Sabemos da dificuldade de romper o ciclo da violência, por vergonha, por receio da escalada de violência, ou por culpa. As mulheres têm muita dificuldade em denunciar a situação, até porque na realidade não sabem o que vai acontecer quando reportarem o crime de violência.”

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