As veias abertas da Amazónia nos palcos da América Latina
Das etnoficções multimédia do Teatro Mapa à crueza documental, mas nem por isso menos poética, da dupla Azkona & Toloza, a maior floresta tropical do planeta tornou-se um tópico teatral inescapável. Cenas de uma obsessão em curso.
O cheiro a terra, a seiva e a flores também pode ser intenso a 4000 quilómetros de carro de Manaus. Aqui, a floresta é de palavras – a potência escandalosa de Antonin Artaud inseminando com fúria fragmentos dispersos de Davi Kopenawa ou Clarice Lispector –, mas a fertilidade não é menos exuberante do que na maior floresta tropical do planeta, e até as plantas, ou melhor, “sobretudo as plantas”, estão contra Bolsonaro. Uns metros adiante, a psicóloga e activista indígena Geni Núñez equipara a devastação da monocultura, que avança a cada novo incêndio, à violência da monogamia, e à noite, no mesmo palco, a “rapeira” ameríndia Brisa Flow resume numa rima uns quantos séculos de espoliação e genocídio: “Debaixo do concreto ainda é floresta/ é o que me resta.” (Entretanto, na mais esclarecida e cuidada livraria da cidade, o tom é peremptório: “Ailton Krenak é o maior pensador brasileiro vivo.”)
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