Adidas pôs um ponto final (difícil) na relação milionária com Kanye West
Na sequência de comentários anti-semitas, a gigante alemã viu-se forçada a denunciar a parceria com Ye. Sem este contrato, o rapper poderá ter de abandonar o clube dos multimilionários.
Se muitos ainda desvalorizavam a influência de Kanye West quando este decidiu proferir comentários anti-semitas que incitavam à violência, a iniciativa de um grupo, no último fim-de-semana, de pendurar cartazes, num viaduto sobre uma auto-estrada em Los Angeles, em que se lia “Buzine se souber que Kanye tem razão sobre os judeus” ao mesmo tempo que fazia a saudação nazi, lançou uma espécie de alerta vermelho. E o fim da parceria com a Adidas foi a última consequência do comportamento errático do artista.
A gigante alemã de produtos desportivos já tinha feito saber que estava a analisar os negócios que mantinha com Ye, depois de o criador ter surgido em Paris com uma camisola que exibia o slogan “White Lives Matter” (“as vidas dos brancos importam”, frase associada ao movimento supremacista).
West, porém, não se mostrou preocupado: “Eu posso dizer coisas anti-semitas e a Adidas não me pode deixar cair. E depois?”, atirou, durante o podcast Drink Champs, na semana passada.
For those of you that said we should ignore Ye’s comments. Please explain how and why we should ignore him when his words have now galvanized this white supremacist group even more. This is not a laughing matter. We have to stand up and protect our Jewish friends. pic.twitter.com/D4ok2iKEzF
— Malynda Hale (@MalyndaHale) October 23, 2022
Mas as vozes a reclamarem por uma tomada de posição da empresa alemã têm vindo a crescer. Em declarações ao The Washington Post, o chefe executivo da Liga Contra a Difamação, Jonathan Greenblatt, contou que manteve uma série de conversas com executivos e accionistas seniores da Adidas, durante o último fim-de-semana, para discutir o tema e a resposta “insuficiente” da marca.
“O anti-semitismo deveria ser inaceitável em qualquer circunstância. O facto de a Adidas não ter feito esse simples esclarecimento é chocante”, acusou Greenblatt, recordando o facto de a história da marca germânica incluir “ter equipado a Juventude Hitleriana”.
Corrente de apoio aos judeus
Ao mesmo tempo, a saída de cena da chancela de luxo Balenciaga e o virar de costas da poderosa Anne Wintour, a mítica directora da Vogue cuja amizade é sinónimo de portas abertas no mundo da moda, determinaram outras tomadas de posição não menos relevantes.
A agência que representava Kanye West fez saber que não tem intenções de voltar a trabalhar com o artista; o estúdio que ia produzir o seu documentário optou por arrumar a ideia na gaveta; e centenas de celebridades, do mundo artístico, mas também de outras esferas, vieram a público pronunciarem-se contra as ideias do rapper em “defesa dos amigos judeus”.
Um dos nomes mais relevantes neste processo será o de Kim Kardashian, a ex-mulher de Ye e mãe dos seus quatro filhos: “O discurso do ódio nunca é aceitável ou perdoável. Junto-me à comunidade judaica para apelar que a violência terrível e o discurso do ódio contra esta acabem de imediato.” A empresária publicou a declaração nas histórias da sua conta de Instagram, depois de muitos terem aderido a uma corrente de apoio ao povo judeu.
Agora, a Bloomberg começou o dia por citar pessoas familiarizadas com o assunto, sem as identificar, para avançar que a Adidas deveria pôr um ponto final à parceria ainda nesta terça-feira, pressionada também pela bolsa: as acções estão, nesta manhã, a cair mais de 3% em Frankfurt e a negociarem-se ao valor mais baixo dos últimos mais de seis anos.
E a decisão chegou por fim: a empresa informou que decidiu terminar a parceria com Kanye West com efeito imediato, estimando que a acção represente uma quebra de 250 milhões de euros ao rendimento líquido no corrente ano fiscal. “Os comentários e acções recentes de Ye têm sido inaceitáveis, odiosos e perigosos, e violam os valores da empresa de diversidade e inclusão, respeito mútuo e justiça”, avançou a empresa numa declaração, citada pela Bloomberg.
A aliança entre a Adidas e Ye, firmada em 2013, resultou na linha Yeezy, que, segundo as contas dos analistas, tem um peso de quase 10% das vendas totais da marca. Por esse motivo, a empresa pretende reclamar os direitos intelectuais sobre todos os produtos que resultaram da parceria, o que lhes dará o direito de os continuar a produzir.
Por seu turno, Ye acusou a Adidas de copiar as suas ideias e diz tencionar obter 20% de royalties vitalícios sobre todos os sapatos que desenhou com a empresa.
A Adidas pagava a West à volta de 220 milhões por ano, segundo uma estimativa da Forbes, cuja mais recente avaliação da fortuna do artista apontava para dois mil milhões de dólares. Sem o contrato com a Adidas, a riqueza do rapper poderá cair para menos de mil milhões, obrigando-o a abandonar o clube dos multimilionários.