Rishi Sunak vai ser o próximo primeiro-ministro do Reino Unido

Desistência de Mordaunt dá vitória ao antigo ministro das Finanças na corrida à liderança do Partido Conservador. Nas próximas horas substituirá Truss na chefia do Governo britânico e será o primeiro primeiro-ministro não branco da História do país.

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Rishi Sunak foi ministro das Finanças de Boris Johnson EPA/JESSICA TAYLOR/UK PARLIAMENT HANDOUT

Rishi Sunak foi eleito líder do Partido Conservador e vai ser o próximo primeiro-ministro do Reino Unido. Aos 42 anos de idade, o ex-ministro das Finanças venceu a corrida interna dos tories para a escolha do sucessor de Liz Truss.

Sunak será o primeiro chefe de Governo britânico hindu, o primeiro não branco e o mais jovem de sempre a ocupar o cargo. Nas próximas horas deverá ser confirmado no cargo pelo rei Carlos III, que, segundo a ITV, já estará a caminho de Londres para a cerimónia protocolar.

A vitória de Sunak foi confirmada esta segunda-feira, depois de Penny Mordaunt, porta-voz do Governo na Câmara dos Comuns e antiga ministra da Defesa, ter desistido da contenda, confirmando a decisão através de uma mensagem publicada no Twitter, ao início da tarde.

“Vivemos tempos sem precedentes. Apesar do calendário apertado para a disputa pela liderança [do Partido Conservador] ficou claro que os colegas sentem que, hoje, precisamos de certezas”, explicou Mordaunt.

“Como resultado disso, escolhemos agora o nosso próximo primeiro-ministro. Esta decisão é histórica e demonstra, mais uma vez, a diversidade e o talento do nosso partido. Rishi tem o meu apoio total”, afiançou.

Ao que tudo indica, Penny Mordaunt não conseguiu os cem apoios de deputados, requisito obrigatório para participar na eleição interna do Partido Conservador. Por seu lado, Sunak terá obtido mais de 200 apoios.

Nos últimos dias, a expectativa era a de que Boris Johnson se iria apresentar à corrida. Mas o ex-primeiro-ministro, que interrompeu as férias para tentar angariar apoios, anunciou, no domingo à noite, que este “não é o momento certo” para regressar ao número 10 de Downing Street.

Sendo, então, o único candidato, o antigo chancellor foi declarado vencedor pouco depois das 14h, por Graham Brady, líder do grupo parlamentar conservador 1922 Committee, que organizou o processo. Não foi, por isso, necessário recorrer aos cerca de 170 mil militantes, que aguardavam por duas candidaturas para poderem decidir o vencedor, numa votação online.

Rishi Sunak foi derrotado por Liz Truss na anterior eleição interna dos conservadores, realizada no Verão, tendo em vista a escolha do sucessor de Johnson, que, por sua vez, apresentou a demissão em Julho, abalado por escândalos políticos.

Apesar de ter vencido todas as votações entre os deputados e tendo avisado, durante a campanha, para o impacto negativo das promessas económicas da sua adversária para a estabilidade os mercados financeiros, o ex-ministro não recebeu o apoio maioritário dos militantes do Partido Conservador nessa eleição.

Quarenta e cinco dias após assumir o cargo, e já depois de ter sido obrigada a recuar em todas as suas promessas – o corte brutal dos impostos, por exemplo, era a sua política-bandeira –, por causa da queda da libra e da intervenção do Banco de Inglaterra,​ Truss apresentou a demissão, na passada quinta-feira.

Sunak chega, assim, a um cargo que já lhe era apontado pelo menos desde 2020 – o que não deixa de ser extraordinário, tendo em conta que foi eleito deputado pela primeira vez apenas em 2015 –, mas que quase passou a miragem em Abril, quando foi multado, a par de Johnson, no escândalo das festas em Downing Street durante a pandemia; ou quando a sua mulher, uma multimilionária indiana, foi obrigada a abdicar de um estatuto fiscal de não-residente no Reino Unido, que lhe permitia não ter de pagar milhões de libras em impostos pelos seus rendimentos oriundos do estrangeiro.

O antigo ministro cumpriu as expectativas e o sonho de chegar a primeiro-ministro, mas herda um partido e um país completamente partidos ao meio.

No que toca ao Reino Unido, enfrenta uma das piores crises energéticas e inflacionárias das últimas décadas e assistiu a um aumento brutal do custo de vida. Vive ainda um período de grande incerteza no que toca à sua integridade territorial, como partidos independentistas (SNP e Verdes) a governarem a Escócia e um partido pró-reunificação da Irlanda (Sinn Féin) como o mais votado nas últimas eleições para o parlamento da Irlanda do Norte.

Quanto ao Partido Conservador, como provam os três primeiros-ministros em menos de dois meses ou os cinco primeiros-ministros em sete anos, ainda não ultrapassou as guerras ideológicas internas do “Brexit”, e, ao fim de 12 anos consecutivos no poder, está, neste momento, com quase 30 pontos percentuais de desvantagem em relação ao Partido Trabalhista – o Labour já fez saber, esta segunda-feira, que é preciso resolver a crise política nas urnas.

Muitos aliados de Johnson e de Truss não perdoam Sunak por ter imposto a mais alta carga fiscal no Reino Unido em quase 70 anos, por um lado, e, por outro, pelo facto de a sua demissão, em Julho, ter iniciado uma onda de renúncias dentro do Governo (mais de 60), que acabou por forçar o ex-primeiro-ministro a sair de cena.

Com as próximas eleições legislativas previstas para 2024, Rishi Sunak terá pela frente dois anos muito difíceis. O primeiro passo será dar garantias de estabilidade política aos mercados financeiros, ao mesmo tempo que procura apaziguar o partido tory.

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